A Quaresma é o
tempo que precede e dispõe à celebração da Páscoa. Tempo de escuta da Palavra
de Deus e de conversão, de preparação e de memória do Batismo, de reconciliação
com Deus e com os irmãos, de recurso mais freqüente às “armas da penitência
cristã”: a oração, o jejum e a esmola (ver MT 6,1-6.16-18).
De maneira
semelhante como o antigo povo de Israel partiu durante quarenta anos pelo
deserto para ingressar na terra prometida, a Igreja, o novo povo de Deus,
prepara-se durante quarenta dias para celebrar a Páscoa do Senhor. Embora seja
um tempo penitencial, não é um tempo triste e depressivo. Trata-se de um tempo
especial de purificação e de renovação da vida cristã para poder participar com
maior plenitude e gozo do mistério pascal do Senhor.
A Quaresma é um
tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria conversão. Este
caminho supõe cooperar com a graça, para dar morte ao homem velho que atua em
nós. Trata-se de romper com o pecado que habita em nossos corações, nos afastar
de todo aquilo que nos separa do Plano de Deus, e por conseguinte, de nossa
felicidade e realização pessoal.
A Quaresma é um
dos quatro tempos fortes do ano litúrgico e isso deve ver-se refletido com
intensidade em cada um dos detalhes de sua celebração. Quanto mais forem
acentuadas suas particularidades, mais frutuosamente poderemos viver toda sua
riqueza espiritual.
Portanto é
preciso se esforçar, entre outras coisas:
- Para que se
capte que neste tempo são distintos tanto o enfoque das leituras bíblicas (na
Santa missa praticamente não há leitura contínua), como o dos textos
eucológicos (próprios e determinados quase sempre de modo obrigatório para cada
uma das celebrações).
- Para que os
cantos, sejam totalmente distintos dos habituais e reflitam a espiritualidade
penitencial, própria deste tempo.
- Por obter uma
ambientação sóbria e austera que reflita o caráter de penitencia da Quaresma.
Sentido da Quaresma.
O primeiro que
devemos dizer ao respeito é que a finalidade da Quaresma é ser um tempo de
preparação à Páscoa. Por isso se está acostumado a definir à Quaresma, “como
caminho para a Páscoa”. A Quaresma não é portanto um tempo fechado em si
mesmo, ou um tempo “forte” ou importante em si mesmo.
É mas bem um
tempo de preparação, e um tempo “forte”, assim que prepara para um tempo “mais
forte” ainda, que é a Páscoa. O tempo de Quaresma como preparação à Páscoa se
apóia em dois pilares: por uma parte, a contemplação da Páscoa de Jesus; e por
outra parte, a participação pessoal na Páscoa do Senhor através da penitência e
da celebração ou preparação dos sacramentos pascais –batismo, confirmação,
reconciliação, eucaristia-, com os que incorporamos nossa vida à Páscoa do
Senhor Jesus.
Nos incorporar
ao “mistério pascal” de Cristo supõe participar do mistério de sua morte e
ressurreição. Não esqueçamos que o Batismo nos configura com a morte e
ressurreição do Senhor. A Quaresma procura que essa dinâmica batismal (morte
para a vida) seja vivida mais profundamente. trata-se então de morrer a nosso
pecado para ressuscitar com Cristo à verdadeira vida: “Eu lhes asseguro que
se o grão de trigo…morre dará fruto” (Jo 20,24).
A estes dois
aspectos terá que acrescentar finalmente outro matiz mais eclesiástico: a
Quaresma é tempo apropriado para cuidar a catequese e oração das crianças e
jovens que se preparam à confirmação e à primeira comunhão; e para que toda a
Igreja ore pela conversão dos pecadores.
Estruturas do tempo de Quaresma.
Para poder viver
adequadamente a Quaresma é necessário esclarecer os diversos planos ou estruturas
em que se move este tempo.
Em primeiro
lugar, é preciso distinguir a “Quaresma dominical”, com seu dinamismo
próprio e independente, da “Quaresma das feiras”.
A “Quaresma dominical”.
Nela se
distinguem diversos blocos de leituras. Além disso o conjunto dos cinco
primeiros domingos, que formam como uma unidade, contrapõem-se ao último
domingo –Domingo de Ramos na Paixão do Senhor-, que forma mas bem um todo com
as feiras da Semana Santa, e inclusive com o Tríduo Pascal.
A “Quaresma ferial”.
Cabe também
assinalar nela dois blocos distintos:
- O das Feiras
das quatro primeiras semanas, centradas sobre tudo na conversão e a penitência.
- E o das duas
últimas semanas, no que, a ditos temas, sobrepõe-se, a contemplação da Paixão
do Senhor, a qual se fará ainda mais intensa na Semana Santa.
Ao organizar,
pois, as celebrações feriais, terá que distinguir estas duas etapas,
sublinhando na primeira os aspectos de conversão (as orações, os prefácios, as
preces e os cantos da missa ajudarão a isso).
E, a partir da
segunda-feira da V Semana, mudando um pouco o matiz, quer dizer, centrando mais
a atenção na cruz e na morte do Senhor (sobre tudo as orações da missa e o
prefácio I da Paixão do Senhor, tomam este novo matiz).
No fundo, há
aqui uma visão teologicamente muito interessante: a conversão pessoal, que
consiste no passado do pecado à graça (santidade), incorpora-se com um
“crescendo” cada vez mais intenso, à Páscoa do Senhor: é só na pessoa do Senhor
Jesus, nossa cabeça, onde a Igreja, seu corpo místico, passa da morte à vida.
Digamos
finalmente que seria muito bom sublinhar com maior intensidade as feiras da
última semana de Quaresma –a Semana Santa- nas que a contemplação da cruz do
Senhor se faz quase exclusivamente (Prefácio II da Paixão do Senhor). Para
isso, seria muito conveniente que, nesta última semana ficassem alguns sinais
extraordinários que recalcassem a importância destes últimos dias. Embora as
rubricas assinalam alguns destes sinais, como por exemplo o fato que estes dias
não se permite nenhuma celebração alheia (nem que se trate de solenidades); a
estes sinais terá que somar alguns de mais fácil compreensão para os fiéis,
para evidenciar assim o caráter de suma importância que têm estes dias: por
exemplo o canto da aclamação do evangelho; a bênção solene diária ao final da
missa (bênções solenes, formulário “Paixão do Senhor”); uso de vestimentas
roxas mais vistosas, etc.
O lugar da celebração.
Deve-se procurar
a maior austeridade possível, tanto para o altar, o presbitério, e outros lugares
e elementos celebrativos. Unicamente se deve conservar o que for necessário
para que o lugar seja acolhedor e ordenado. A austeridade dos elementos com que
se apresenta nestes dias a igreja (o templo), contraposta à maneira festiva com
que se celebrará a Páscoa e o tempo pascal, ajudará a captar o sentido de
passagem” (páscoa = passagem) que têm as celebrações deste ciclo.
Durante a
Quaresma há que suprimir as flores (as que podem ser substituídas por plantas
ornamentais), os tapetes não necessários, a música instrumental, a não ser que
seja de tudo imprescindível para um bom canto. Uma prática que em algumas
Igrejas poderia ser expressiva é a de cobrir o altar, fora da celebração
eucarística, com um pano de tecido roxo.
Finalmente é
preciso lembrar que a mesma austeridade em flores e adornos deve também
aplicar-se ao lugar da reserva eucarística e à bênção com o Santíssimo, pois
deve haver uma grande coerência entre o culto que se dá ao Santíssimo e a
celebração da missa. La mesma coerência deve manifestar-se entre a liturgia e
as expressões da piedade popular. Assim, pois, tampouco cabem elementos
festivos, durante os dias quaresmais e de Semana Santa, nem no altar da reserva
nem na exposição do Santíssimo.
Solenidades, festas e memórias durante a
Quaresma.
Outro ponto que
deve cuidar-se é o das maneiras de celebrar as festas do Santoral durante a
Quaresma. O fator fundamental consiste em procurar que a Quaresma não fique
obscurecida por celebrações alheias à mesma. Precisamente para obter este fim,
o Calendário romano procurou afastar deste tempo as celebrações dos Santos.
De fato durante
todo o longo período quaresmal, só se celebram um máximo de quatro festividades
(além de alguma solenidade ou festa dos calendários particulares): São Cirilo e
São Metódio (14 de fevereiro); a Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro); São
José, casto esposo da Virgem Maria (19 de março) e a Anunciação do Senhor (25
de março). Em todo caso na maneira de celebrar estas festas não deverá dar a impressão
de que se “interrompe a Quaresma”, mas sim terá que inscrever estas festas na
espiritualidade e a dinâmica deste tempo litúrgico.
Com respeito à
memória dos Santos, terá que recordar que durante a Quaresma todas elas são
livres e se celebrarem, deve-se fazer com ornamentos roxos, e do modo como
indicam as normas litúrgicas.
Visão de conjunto.
Desde o primeiro
momento é bom assinalar o fato de que neste tempo a temática dos diversos
sistemas de leituras é muito mais variada que nos outros ciclos litúrgicos.
Embora todos os lecionários deste tempo tenham uma cortina de fundo comum, a
renovação da vida cristã pela conversão, esta temática se presente desde
ópticas muito diversas, cada uma das quais tem seus matizes próprios e
distintos. Se esta diversidade de enfoques se esquecer, se se unificar e reduz
o conjunto a uma temática única, muitas das leituras litúrgicas passarão,
virtualmente, desapercebidas; fenômeno este que infelizmente ocorre mais de uma
vez.
Devemos, pois,
sublinhar em primeiro lugar que a característica principal das leituras de
Quaresma não estriba tanto na “novidade” de umas leituras que se vão
descobrindo graças aos lecionários conciliares, quanto na abundância de linhas
concomitantes que é preciso unir espiritualmente, de modo que cada uma delas
contribua sua contribuição à renovação quaresmal de quem usa os citados
lecionários.
A atitude
fundamental frente às leituras quaresmais deve ser, sobre tudo, a de uma escuta
repousada e penetrante que ajude a que o espírito se vá impregnando
progressivamente dos critérios da fé, há vezes suficientemente conhecidos, mas
não suficientemente interiorizados e feitos vida.
Não se trata de
“meditações” mais ou menos intelectualizantes, como de uma contemplação
“gozosa”do Plano de Deus sobre a pessoa humana e sua história, e de uma escuta
atenta frente ao chamado de Deus a uma conversão que nos leve a paz e à
felicidade.
No conjunto dos
Lecionários quaresmais emergem com facilidade algumas linhas de força nas que
deve centrar a conversão quaresmal. Esta conversão esta muito longe de
limitar-se a um mero melhoramento moral. É mas bem uma conversão radical a
Cristo, o Homem novo, para existir nele (ver Col 2,7).
Está linhas de
força são as seguintes:
A meditação na história da salvação:
realizada Por Deus-Amor em favor da pessoa humana criada a sua imagem e
semelhança. Devemos “nos converter” de uma vida egocêntrica, onde o ser humano
vive encerrado em sua mentira existencial, a uma vida de comunhão com o Senhor,
o Caminho, a Verdade e a Vida, que nos leva a Pai no Espírito Santo.
A vivência do mistério pascal como culminação
desta história Santa: devemos “nos converter”da visão de um Deus comum a
todo ser humano, à visão do Deus vivo e verdadeiro que se revelou plenamente em
seu único Filho, Cristo Jesus e em sua vitória pascal presente nos sacramentos
de sua Igreja: “Tanto amou Deus ao mundo que deu a seu Filho único, para que
tudo o que nele crer não pereça, mas sim tenha vida eterna”(Jo 3,16).
O combate espiritual, que exige a cooperação
ativa com a graça em ordem a morrer ao homem velho e ao próprio pecado para dar
passo à realidade do homem novo em Cristo. Em outras palavras, a luta pela
santidade, exigência que recebemos no santo Batismo.
Estas três
linhas devem propor-se todas em simultâneo. A primeira linha de força –a
meditação da História da Salvação- temo-la principalmente nas leituras do
Antigo Testamento dos domingos e nas leituras da Vigília Pascal. A segunda –a
vivência do mistério pascal como culminação da história Santa-, nos evangelhos
dos domingos III, IV e V (os sacramentais pascais) e, pelo menos em certa
maneira, nos evangelhos feriais a partir da segunda-feira da semana IV
(oposição de Jesus ao mal –“os judeus”- que termina com a vitória pascal de
Jesus sobre a morte, mal supremo). A terceira linha –o combate espiritual, a
vida em Cristo, a vida virtuosa e Santa- aparece particularmente nas leituras
apostólicas dos domingos e no conjunto das leituras feriais da missa das três
primeiras semanas.
Vale a pena
sublinhar que as três linhas de força de que vamos falando se acham, com maior
ou menor intensidade, ao alcance de todos os fiéis: dos que só participam da
missa dominical aos que tomam parte além na eucaristia dos dias feriais. Com
intensidades diversas mas com um conteúdo fundamentalmente idêntico, todos os
fiéis bebem, através da liturgia quaresmal, em uma fonte que lhes convida à
conversão sob todos seus aspectos.
Missas dominicais.
As leituras
dominicais de Quaresma têm uma organização unitária, que terá que ter presente
na pregação.
As leituras do Antigo
Testamento seguem sua própria linha, que não tem uma relação direta com
os evangelhos, como o resto do ano. Uma linha importante para compreender a
História da Salvação.
Os Evangelhos
seguem também uma temática organizada e própria.
E as leituras
que se fazem em segundo lugar, as apostólicas, estão
pensadas como complementares das anteriores.
A primeira leitura tem neste tempo de
Quaresma uma intenção clara: apresentar os grandes temas da História da
Salvação, para preparar o grande acontecimento da Páscoa do Senhor:
- A criação e
origem do mundo (primeiro domingo).
- Abraão, pai
dos fiéis (segundo domingo).
- O Êxodo e
Moisés (terceiro domingo).
- A história de
Israel, centrada sobre tudo em Davi (quarto domingo).
- Os profetas e
sua mensagem (quinto domingo).
- O Servo de
Yahvé (domingo de Ramos).
Estas etapas se
proclamam de modo mais direto no Ciclo A, em seus momentos culminantes.
No Ciclo B
se centram sobre tudo no tema da Aliança (com o Noé, com o Abraão, com Israel,
o exílio, o novo louvor anunciado por Jeremias).
No Ciclo C,
as mesmas etapas se vêem mas bem do prisma do culto (oferendas de primícias,
celebração da Páscoa, etc.).
No sexto
domingo, ou domingo de Ramos na Paixão do Senhor, invariavelmente se
proclama o canto do Servo de Yahvé, por Isaías.
Estas etapas
representam uma volta à fonte: a história das atuações salvíficas de Deus, que
preparam o acontecimento central: o mistério Pascal do Senhor Jesus. Na
pregação terá que levar em conta esta progressão, para não perder de vista o
caminho para a Páscoa.
A leitura Evangélica tem também sua
coerência independente ao longo das seis semanas:
- primeiro
domingo: o tema das tentações de Jesus no deserto, lidas em cada ciclo
segundo seu evangelista; o tema dos quarenta dias, o tema do combate
espiritual.
- segundo
domingo: a Transfiguração, lida também em cada ciclo segundo o próprio
evangelista; de novo o tema dos quarenta dias (Moisés, Elias, Cristo) e a
preparação pascal; a luta e a tentação levam a vida.
- terceiro
domingo, quarto e quinto: apresentação dos temas catequéticos da iniciação
cristã: a água, a luz, a vida.
No Ciclo A:
os grandes temas batismais de São João: a samaritana (água), o cego (luz),
Lázaro (vida).
No Ciclo B:
tema paralelos, também de São João: o Templo, a serpente e Jesus Servo.
No Ciclo C:
temas de conversão e misericórdia: iniciação a outro Sacramento quaresmal-pascal:
a Penitência.
Sexto domingo:
a Paixão de Jesus, cada ano segundo seu evangelista (reservando a Paixão
de São João para a Sexta-feira Santa).
O pregador deve
levar em conta esta unidade e ajudar a que a comunidade vá desentranhando os
diversos aspectos de sua marcha para a Páscoa, não ficando, por exemplo no tema
da tentação ou da penitência, mas sim entrando também aos temas batismais:
Cristo e sua Páscoa são para nós a chave da água viva, da luz verdadeira e da
nova vida.
A segunda leitura está pensada como
complemento dos grandes temas da História da Salvação e da preparação
evangélica à Páscoa. Temas espirituais, relativos ao processo de fé e conversão
e a concretização moral dos temas quaresmais: a fé, a esperança, o amor, a vida
espiritual, filhos da luz, etc.
Missas feriais.
Este grupo de
leituras tem grande influencia na vida espiritual daqueles cristãos que
acostumam a participar ativamente na eucaristia diária. É bom assinalar que o
lecionário ferial de Quaresma foi construindo-se ao longo de vários séculos e
antes da reforma conciliar sempre foi o mais rico de todo o ano litúrgico. A
reforma litúrgica o respeitou por sua antiga tradição e riqueza. Ao haver-se
construído com os séculos, sua temática é bastante variada e muito longínqua,
portanto, pelo que é uma leitura contínua ou um plano concebido de conjunto,
que são as formas às que nos tem acostumados os lecionários saídos da
reforma conciliar.
O atual
lecionário ferial da missa divide a Quaresma em duas partes: por um lado, temos
os dias que vão desde Quarta-feira de Cinzas até sábado da III semana; e
por outro, as feiras que discorrem desde segunda-feira de IV semana até o
começo do Tríduo Pascal.
Na primeira parte da Quaresma (Quarta-feira
de Cinzas até na sábado de III semana), as leituras vão apresentando,
positivamente, as atitudes fundamentais do viver cristão e, negativamente, a
reforma dos defeitos que obscurecem nosso seguimento de Jesus.
Nestas feiras,
ambas as leituras revistam ter unidade temática bastante marcada, que insiste
em temas como a conversão, o sentido do tempo quaresmal, o amor ao próximo, a
oração, a intercessão da Igreja pelos pecadores, o exame de conscientiza, etc.
Nas origens da
organização da Quaresma, só havia missa (além disso do Domingo), os dias quarta-feira
e sexta-feira. Por este motivo o lecionário de Quaresma privilegia as leituras
destes dois dias com leituras de maior importância que as das restantes
feiras. Tais leituras costumam ser relativas à paixão e à conversão.
Na segunda parte da Quaresma, (a
partir da Segunda-feira da IV semana até o Tríduo Pascal), o lecionário mudar
de perspectiva: oferece-se uma leitura contínua do evangelho segundo São João,
escolhendo sobre tudo os fragmentos nos que se propõe a oposição crescente
entre Jesus e os “judeus”.
Esta meditação
do Senhor enfrentando-se com o mal, personalizado por São João nos “judeus”,
está chamada a fortalecer a luta quaresmal não só em uma linha ascética, mas
também principalmente no contexto da comunhão com Cristo, o único vencedor
absoluto do mal.
Nestas feiras,
as leituras não estão tão ligadas tematicamente uma em relação à outra, mas sim
apresentam, de maneira independente, por um lado a figura do Servo do Senhor ou
de outro personagem (Jeremias especialmente), que deve ser como imagem e
profecia do Salvador crucificado; e, por outro, o desenvolvimento da trama que
culminará na morte e vitória de Cristo.
Finalmente é bom
indicar que a partir da segunda-feira da semana IV aparece um tema
possivelmente não muito conhecido: o conjunto dinâmico que, partindo das
“obras” e “palavras” do Senhor Jesus, chega até o acontecimento de sua “hora”.
Para não poucos pode ser aconselhável fazer um esforço de meditação continuada
nestes evangelhos em sua trama progressiva. Este tema pode resultar muito
enriquecedor. Embora se conheçam às vezes os textos, poucas vezes se descoberto
o significado dinâmico que une o conjunto destas leituras, conjunto que
desemboca na “hora”de Jesus, quer dizer em sua glorificação através da morte
que celebramos no Tríduo pascal.
Com respeito ao conjunto das celebrações.
Omite-se sempre
o “Aleluia” em toda celebração.
Manda-se
suprimir os adornos e flores da igreja, exceto o IV Domingo. (Domingo da
alegria em nosso caminho para a Páscoa). Igualmente se suprime a música de
instrumentos (exceto o IV Domingo), a não ser que sejam indispensáveis para
acompanhar algum canto.
As mesmas
expressões de austeridade em flores e música se terão no altar da reserva
eucarística e nas celebrações extralitúrgicas, e nas manifestações de piedade
popular.
Com respeito às celebrações da eucaristia.
Exceto nos
domingos e nas solenidades e festas que têm prefácio próprio, cada dia se diz
qualquer dos cinco prefácios de Quaresma.
Os domingos se
omite o hino do “Glória”. Este hino, diz-se apenas nas solenidades e
festas.
Antes da
proclamação do evangelho, tanto nas missas do domingo como nas solenidades,
festas e feiras, o canto do “Aleluia” se substitui por alguma outra aclamação a
Cristo. Contudo, para sublinhar melhor a distinção entre as feiras e os dias
festivos, acreditam melhor omitir sempre este canto nos dias feriais. Inclusive
nos domingos, é melhor omitir esta aclamação que recitá-la sem canto.
Os domingos não
se pode celebrar nenhuma outra missa que não seja a do dia. Nas feiras,
assinalada-las no Calendário Litúrgico com a letra (D), existe a possibilidade
de celebrar alguma missa distinta da do dia. Se nas feiras quer fazer a memória
de algum santo, se substitui a coleta ferial pela do santo. Outros elementos
devem ser feriais (inclusive a oração sobre as ofertas e depois da comunhão).
RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES.
Textos eucológicos.
A Quaresma é o
tempo do ano que possui maior riqueza de textos eucológicos (conjunto de
orações de um livro litúrgico ou de uma celebração). A missa não só tem própria
a primeira oração de cada dia, mas também inclusive a oração sobre as ofertas e
a oração depois da comunhão. Mas, além destes textos obrigatórios,
sublinharíamos a importância de outros formulários que podem usar-se
livremente:
O ato penitencial da missa.
Seria
recomendável destacar, durante este tempo, esta parte da celebração. Poderiam,
por exemplo, variar-se cada dia da semana as invocações (a nova edição do
Missal Romano oferece para isso uma variedade de possibilidades), e cantar
diariamente –não limitar-se a rezar- o “Senhor tenha piedade”. É uma maneira
singela de sublinhar o caráter penitencial destes dias.
Oração dos fiéis.
Conviria
empregar alguns formulários nos quais se atendesse o significado próprio deste
tempo, e nos que se incluíram algumas solicite pelos pecadores, a teor do que
se diz a respeito no Concílio Vaticano II (ver Sacrosanctum Concilium, N. 109).
Do mesmo modo, e seguindo o pedido do Papa, podem-se incluir petições pela paz
do mundo, pela família, pela defesa da vida, e pelas vocações.
Prefácios.
No ano A, todos
os domingos têm um prefácio próprio que glosa o evangelho do dia. Nos anos B e
C, têm prefácio próprio os domingos I e II e no domingo de Ramos. Os restantes
domingos, usa-se um dos prefácios comuns de Quaresma. O mais apropriado para no
domingo IV é o prefácio I, por suas alusões à Páscoa que se aproxima. Em troca
o prefácio IV por suas alusões ao jejum, não é apropriado para no domingo.
Para as feiras
há cinco prefácios. Todos estes prefácios terá que distribui-los de maneira que
nenhum deles fique esquecido. Por seu caráter penitencial, o IV está
especialmente indicado para as sextas-feiras.
O espírito da Quaresma em seus Prefácios.
A última edição
de Missal Romano (1988), traz cinco Prefácios de Quaresma, destinados às quatro
primeiras semanas deste tempo.
A semana V e VI,
como se recorda, dispõem de dois Prefácios da Paixão do Senhor. Os cinco
prefácios quaresmais são estes:
Prefácio
I: Significação espiritual da Quaresma.
A usar-se sobre
tudo no domingo, quando não assinalou prefácio próprio.
Este prefácio
apresenta quatro linhas de força:
Em primeiro
lugar define a atitude do cristão na quaresma: “desejar ano após ano a
solenidade da páscoa”. Este prefácio apresenta a meta positiva do processo
quaresmal e da vida cristã: participar de plenitude do mistério pascal do
Senhor Jesus. O que desejamos e celebramos é o mistério de Cristo renovado em
nossa vida: a Igreja, que se incorpora à Páscoa de seu Senhor.
Em segundo lugar
a tarefa quaresmal se descreve com três pinceladas: nos libertar do pecado e
nos purificar interiormente; nos dedicar com maior empenho ao louvor divino
(vida de oração); e finalmente viver mais intensamente o amor fraterno (a
caridade).
Em terceiro
lugar sublinha que a meta última a que tende o processo quaresmal é “chegar
a ser com plenitude filhos de Deus”, em Cristo, o Filho por excelência, em
quem fomos enxertados pelo Batismo.
Finalmente, em
quarto lugar, o prefácio sublinha que tudo é iniciativa divina, a que a pessoa
humana deve corresponder segundo o máximo de suas possibilidades ou
capacidades: “por Ele concede a seus filhos desejar, ano após ano...” A
Palavra de Deus e os Sacramentos nos ajudam em nosso caminho para a santidade.
Prefácio
II: A penitência espiritual.
A ser usado
sobre tudo no domingo, quando não assinalou um prefácio próprio.
Este prefácio
sublinha o sentido da penitência quaresmal. A Quaresma é apresentada como um
tempo de graça (tempo de misericórdia), que Deus nos oferece para conseguir a
purificação interior do espírito. nos ver livres do pecado, de nossos vícios e
escravidões, reordenando adequadamente nossas potências e paixões, aprendendo a
usar os bens materiais como médios e não como fins, compreendendo sua natureza
perecível e portanto não nos apegando a eles desordenadamente. Este é o sentido
da penitência quaresmal: mudança de mentalidade (metanóia), despojar do homem
velho para revestir do homem novo.
Prefácio III:
Os frutos das privações voluntárias.
A usar-se
durante as feiras e os dias de abstinência e jejum.
Este prefácio
concreta ainda mais esta “penitência” e assinala o por que da abstinência e o
jejum. O jejum tem uma dupla finalidade: por uma parte mitigar nossos apetites
desordenados, e por outra parte aliviar as necessidades do próximo com o fruto
de nossa renúncia. Com isso damos graças a Deus e nos fazemos discípulos e
instrumentos de seu amor.
Prefácio
IV: Os frutos do jejum.
A usar-se
durante as feiras e os dias de abstinência e jejum.
É o mais antigo
dos prefácios quaresmais. limita-se a destacar o jejum como elemento central da
Quaresma, nos apresentando o aspecto “ascético” deste tempo litúrgico.
Prefácio
V: O caminho do êxodo quaresmal.
A usar-se
durante as feiras deste tempo.
Este prefácio
foi incorporado na última edição do Missal Romano (1988). Tem um título
dinâmico e sugestivo. Apresenta a Deus como Pai rico em misericórdia, quem toma
a iniciativa de nossa salvação porque “pelo grande amor com que nos amou,
estando mortos por causa de nossos delitos, vivificou-nos junto com Cristo –por
graça fostes salvos- e com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos céus em
Cristo Jesus” (Ef 2,4-6). O prefácio apresenta o caminho da Igreja na
Quaresma como um “novo êxodo”, onde a Igreja está chamada a fazer
penitência e renovar sua vocação de povo da aliança nova e eterna, chamado a
bendizer o nome de Deus, a escutar sua Palavra e a experimentar com gozo suas
maravilhas.
Além destes
cinco prefácios numerados, há outros vários, virtualmente para cada domingo,
sobre tudo no Ciclo A.
Primeiro no
domingo, centra-se nas tentações de Jesus no deserto.
Segundo no
domingo, sobre a Transfiguração do Senhor.
Os terceiro,
quarto e quinto domingos, têm prefácios claramente batismais, respondendo
às leituras evangélicas, que apresentam os grandes temas quaresmais da água (a
samaritana), a luz (o cego de nascimento) e a vida (Lázaro).
Como já
indicamos há outros dois prefácios de Paixão, para os últimos dias da Quaresma
e Semana Santa.
São onze
prefácios em total. Podemos tirar proveito deles para nossa pregação e nossa
catequese. Neles estão as idéias-força do mistério de salvação que sucede em
nosso caminho quaresmal-pascal.
Preces
Eucarísticas.
Podem ser usadas
duas preces eucarísticas sobre a reconciliação, sobre tudo quarta-feira e
sexta-feira, que são os dias mais penitenciais da Quaresma.
Introdução ao Pai Nosso.
Durante o tempo
de Quaresma, pode ser sugestivo destacar na introdução ao Pai Nosso o pedido: “nos
perdoe nossas ofensas”, ou “Livrai-nos do mal”.
Bênção Solene e Orações sobre o povo.
A nova edição do
Missal Romano (1988), incorporou uma bênção solene para este tempo, que
na edição anterior do Missal não existia. Por isso será oportuno usá-la sobre
tudo Na Quarta-feira de Cinza e os domingos de Quaresma.
Também se podem
usar para os domingos as “orações sobre o povo” que traz o Missal Romano ao
final do elenco das Bênçãos Solenes, e que são as antigas bênçãos
romanas. Para os domingos as mais aconselháveis são as dos números 4, 11, 18,
20 e 21. Não deve-se esquecer no domingo VI de Quaresma ou de Paixão tem bênção
própria.
Se para as
feiras quer empregar alguma das “orações sobre o povo”, as mais apropriadas são
as dos números, 6, 10, 12, 15, 17 e 24. A 17 são muito apropriada para as
sextas-feira.
Programa de cantos.
Canto de entrada da missa.
Este canto tem
que dar a cor quaresmal ao conjunto da celebração eucarística. Deve ser
penitencial ou, nos dias sexta-feira e nas duas últimas semanas, alusivos à
cruz do Senhor. portanto terá que pôr muito cuidado em sua escolha.
Salmo responsorial.
Deve-se
respeitar sempre na liturgia da Missa e não ser alegremente substituído por
qualquer canto. Não nos cansaremos de dizer que o Salmo forma parte integral da
Liturgia da Palavra; que é Palavra de Deus, e que a palavra divina nunca pode
ser substituída pela palavra humana.
Na medida do
possível se deve cantar. Mas se a assembléia não pode cantar a antífona própria
do salmo da missa, podem-se procurar algumas antífonas aplicáveis a todas as
missas, sempre e quanto estas antífonas respeitem o sentido do salmo.
Assim por
exemplo se podem selecionar antífonas penitenciais, quando o salmo for
penitencial (por exemplo, “Perdão, Senhor, Perdão”; ou “Sim me levantarei”);
ou aclamações que aludam à paixão do Senhor, quando o salmo sugira a oração de
Cristo na cruz (por exemplo “me Proteja meu Deus”).
Em caso que isto
tampouco se possa fazer é preferível ler o salmo, e a assembléia responder com
a antífona indicada, a cantar uma resposta que não tenha o mesmo sentido do
salmo.
Aclamação antes do evangelho.
Podem fazer-se
estas indicações:
- É melhor
reservá-la unicamente para os dias mais solenes (domingos e três primeiras
feiras de Semana Santa), e omiti-la nas feiras.
- Nunca a deve
cantar um solista (não é um segundo salmo responsorial), mas sim a assembléia
ou um coro. O melhor é que seja um canto vibrante e aclamação a Cristo que
falará no santo evangelho.
Cantos de comunhão.
Deverão ser
evitados os que tiverem um matiz penitencial, pois a comunhão é sempre um
momento festivo. No momento de comungar não se trata de criar um ambiente
quaresmal, mas sim acompanhar festivamente a procissão eucarística. Por isso é
bom para este momento da Santa Missa escolher cantos alusivos ao convite
eucarístico.
Preparação dos cantos da Vigília e do Tempo pascal.
Terá que dedicar
durante a Quaresma um tempo cada semana para ensaiar cantos pascais. Isto não
se situa somente na linha de uma necessidade prática com vistas às festas e ao
tempo litúrgico que se aproximam, mas sim além disso contribuirá a viver a
Quaresma como um caminho para a páscoa, criando o desejo de desejar sua celebração.
Nesta linha, tem
tanta importância os ensaios em si como a explicação de alguns textos cantados.
Nestes ensaios quaresmais deveria procurar-se que o repertório pascal
progredisse de ano em ano, e, assim, os cantos pascais superassem os dos outros
ciclos, como a Páscoa supera em solenidade as outras festas.
Como cantos mais
importantes poderiam ser:
Um
“Aleluia” vibrante (e possivelmente novo) que, bem ensaiado desde o
começo da Quaresma, poderia-o saber bem toda a assembléia.
Um
“Glória” solene e extraordinário, que poderia estrear-se na Noite Santa
de Páscoa e converter-se no “Glória” próprio da cinquentena, ou
pelo menos da Oitava de Páscoa. É bom recordar que o “Glória” que
se escolha deve recolher em sua totalidade o texto litúrgico do Missal Romano.
Aquele que
cantará o “Pregão Pascal” na Vigília Pascal, deverá praticá-lo
com a suficiente antecipação e nunca deixar seu ensaio para o último momento.
Preparação do círio pascal.
O círio pascal é
talvez o sinal mais próprio e expressivo das celebrações pascais. Por isso, não
é suficiente comprá-lo (seria imperdoável usar o círio de outros anos, pois a
Páscoa é a renovação de tudo), mas sim é necessário ambientar sua futura
presença, e, obter que os fiéis o desejem, pois o representa ao Senhor glorificado.
Por isso
sugerimos que se organize o IV Domingo de Quaresma uma coleta entre os fiéis
para adquiri-lo. O IV Domingo de Quaresma, é no domingo da alegria no caminho
penitencial para a Páscoa, e nos convida a pensar na Páscoa como uma celebração
já muito próxima.
Com isso
resultaria mais verdadeira a expressão que se cantará no pregão pascal: “Em
esta noite de graça, aceita, Pai santo, este sacrifício vespertino de louvor
que a Santa Igreja te oferece por meio de seus ministros na solene
oferenda deste círio”. É evidente que esta expressão perde todo seu
sentido se se usar um círio que já foi, por dizê-lo assim, “devotado”
anteriormente.
Oração, mortificação e caridade.
São as três
grandes práticas quaresmais ou meios da penitência cristã (ver MT 6,1-6.16-18).
Acima de tudo,
está a vida de oração, condição indispensável para
o encontro com Deus. Na oração, o cristão ingressa no diálogo íntimo com o
Senhor, deixa que a graça entre em seu coração e, a semelhança de Santa Maria,
abre-se à oração do Espírito cooperando a ela com sua resposta livre e generosa
(ver Lc 1,38). portanto devemos neste tempo animar a nossos fiéis a uma vida de
oração mais intensa.
Para isso
poderia ser aconselhável introduzir a reza de Alaúdes ou Vésperas, na forma que
resulte mais adequada: os domingos ou nos dias de trabalho, como uma celebração
independente ou unidos à Missa; convidar a nossos fiéis a formar algum grupo de
oração que se reúna estavelmente sob nosso guia, uma vez por semana durante
meia hora. Desta maneira além de rezar podemos lhes ensinar a fazer oração;
incentivar a oração pela conversão dos pecadores, oração própria deste tempo;
etc. Além disso, não se pode esquecer que a Quaresma é tempo propício para ler
e meditar diariamente a Palavra de Deus.
Por isso seria
muito bom oferecer a nossos fiéis a relação das leituras bíblicas da liturgia
da Igreja de cada dia com a confiança de que sua meditação seja de grande ajuda
para a conversão pessoal que nos exige este tempo litúrgico.
A
mortificação e a renúncia, nas circunstâncias ordinárias de nossa vida,
também constituem um meio concreto para viver o espírito da Quaresma. Não se
trata tanto de criar ocasiões extraordinárias, mas sim mas bem oferecer aquelas
circunstâncias cotidianas que nos são molestas; de aceitar com humildade, gozo
e alegria, os distintos contratempos que nos apresenta o ritmo da vida diária,
fazendo ocasião deles para nos unir à cruz do Senhor. Da mesma maneira, o
renunciar a certas coisas legítimas ajuda a viver o desapego e o desprendimento.
Inclusive o fruto dessas renúncias e desprendimentos o podemos traduzir em
alguma esmola para os pobres. Dentro desta praxe quaresmal estão o jejum e a
abstinência, dos que nos ocuparemos mais adiante em um parágrafo especial.
A
caridade. De entre as distintas práticas quaresmais que nos propõe a
Igreja, a vivência da caridade ocupa um lugar especial. Assim nos lembra São
Leão Magno: “estes dias quaresmais nos convidam de maneira premente ao
exercício da caridade; se desejamos chegar à Páscoa santificados em nosso ser,
devemos pôr um interesse especialíssimo na aquisição desta virtude, que contém
em si às demais e cobre multidão de pecados”. Esta vivência da caridade
devemos viver a de maneira especial com aquele a quem temos mais perto, no
ambiente concreto no que nos movemos. Desta maneira, vamos construindo no outro
“o bem mais precioso e efetivo, que é o da coerência com a própria vocação
cristã” (João Paulo II).
“Há maior
felicidade em dar que em receber” (At 20,35). Segundo João Paulo II, o chamado
a dar “não se trata de um simples chamado moral, nem de um mandato que chega
ao homem de fora” mas sim “está radicado no mais fundo do coração humano: toda
pessoa sente o desejo de ficar em contato com os outros, e se realiza
plenamente quando se dá livremente a outros”. “Como não ver na Quaresma a
ocasião propícia para fazer opções decididas de altruísmo e generosidade? Como
médios para combater o desmedido apego ao dinheiro, este tempo propõe a prática
eficaz do jejum e a esmola. Privar-se não só do supérfluo, mas também também de
algo mais, para distribui-lo a quem vive em necessidade, contribui à negação de
si mesmo, sem a qual não há autêntica praxe de vida cristã. Nutrindo-se com uma
oração incessante, o batizado demonstra, além disso, a prioridade efetiva que
Deus tem na própria vida”.
Por isso será
oportuno discernir, conforme à realidade de nossas comunidades, que campanhas a
favor dos pobres podem organizar durante a Quaresma, e como devemos animar a
nossos fiéis à caridade pessoal.
A oração, a
mortificação e a caridade, ajudam-nos a viver a conversão pascal: do fechamento
do egoísmo (pecado), estas três práticas da quaresma nos ajuda a viver a
dinâmica da abertura a Deus, a nós mesmos e a outros.
A abstinência e o jejum.
A prática do
jejum, tão característica da antigüidade neste tempo litúrgico, é um
“exercício” que libera voluntariamente das necessidades da vida terrena para
redescobrir a necessidade da vida que vem do céu: “Não só de pão vive o
homem, mas também de toda palavra que sai da boca de Deus” (MT 4,4; ver Dt
8,3; Lc 4,4; antífona de comunhão do I Domingo de Quaresma)
O que
exigem a Abstinência e o Jejum?
A
abstinência proíbe o uso de carnes, mas não de ovos, laticínios e
qualquer condimento a base de gordura de animais. São dias de abstinência todas
as sextas-feiras.
O jejum
exige fazer uma só refeição durante o dia, mas não proíbe tomar um pouco de
alimento pela manhã e de noite, atendo-se, no que respeita à qualidade e
quantidade, aos costumes locais passados (Constituição Apostólica poenitemi,
sobre doutrina e normas da penitência, III, 1,2). São dias de jejum e
abstinência a Quarta-feira de Cinza e a Sexta-feira Santa.
Quem está
chamados à abstinência e ao jejum?
À Abstinência de
carne: os maiores de 14 anos.
Ao Jejum: os
maiores de idade (18 anos) até os 59 anos.
Por que o
Jejum? Fala-nos o Santo Padre:
“É necessário
dar uma resposta profunda a esta pergunta, para que fique clara a relação entre
o jejum e a conversão, isto é, a transformação espiritual que aproxima o homem
a Deus.
“O abster-se
da comida e a bebida tem como fim introduzir em à existência do homem não só o
equilíbrio necessário, mas também o desprendimento do que se poderia definir
como “atitude consumista.
“Tal atitude
veio a ser em nosso tempo uma das características da civilização ocidental. A
atitude consumista! O homem, orientado para os bens materiais, muito
freqüentemente abusa deles. A civilização se mede então segundo a quantidade e
a qualidade das coisas que estão em condições de prover ao homem e não se mede
com o metro adequado ao homem.
“Esta
civilização de consumo ministra os bens materiais não só para que sirvam ao
homem em ordem a desenvolver as atividades criativas e úteis, mas sim cada vez
mais para satisfazer os sentidos, a excitação que se deriva deles, o prazer
momentâneo, uma multiplicação de sensações cada vez maior.
“O homem de
hoje deve jejuar, quer dizer, abster-se de muitos meios de consumo, de
estímulos, de satisfação dos sentidos: jejuar significa abster-se de algo. O
homem é ele mesmo solo quando consegue dizer-se a si mesmo: Não. Não é a
renúncia pela renúncia: mas sim para o melhor e mais equilibrado
desenvolvimento de si mesmo, para viver melhor os valores superiores, para o
domínio de si mesmo”.
A Confissão.
A Quaresma é
tempo penitencial por excelência e portanto se apresenta como tempo propício
para impulsionar a pastoral este de sacramento conforme ao que nos pediu
recentemente o Santo Pai e nosso Arcebispo Primaz, já que a confissão
sacramental é a via ordinária para alcançar o perdão e a remissão dos pecados
graves cometidos depois do Batismo.
Não terá que
esquecer que nossos fiéis sabem, por uma larga tradição eclesiástica, que o
tempo de Quaresma-Páscoa está em relação com o preceito da Igreja de confessar
o próprios pecados graves, ao menos uma vez ao ano. Por tudo isso, terá que
oferecer horários abundantes de confissões.
A Quaresma e a Piedade Popular.
A Quaresma é
tempo propício para uma interação fecunda entre liturgia e piedade popular.
Entre as devoções de piedade popular mais freqüentes durante a Quaresma, que
podemos animar estão:
A
Veneração a Cristo Crucificado.
No Tríduo
pascal, na sexta-feira Santa, dedicado a celebrar a Paixão do Senhor, é o dia
por excelência para a “Adoração da Santa Cruz”. Entretanto, a piedade popular
deseja antecipar a veneração cultual da Cruz. De fato, ao longo de todo o tempo
quaresmal, na sexta-feira, que por uma antiqüíssima tradição cristã é o dia
comemorativo da Paixão de Cristo, os fiéis dirigem com gosto sua piedade para o
mistério da Cruz.
Contemplando ao
Salvador crucificado captam mais facilmente o significado da dor imensa e
injusta que Jesus, o Santo, o Inocente, padeceu pela salvação do homem, e
compreendem também o valor de seu amor solidário e a eficácia de seu sacrifício
redentor.
Nas
manifestações de devoção a Cristo crucificado, os elementos acostumados da
piedade popular como cantos e orações, gestos como a ostensão e o beijo da
cruz, a procissão e a bênção com a cruz, combinam-se de diversas maneiras,
dando lugar a exercícios de piedade que às vezes resultam preciosos por seu
conteúdo e por sua forma.
Não obstante, a
piedade em relação à Cruz, com freqüência, tem necessidade de ser iluminada.
deve-se mostrar aos fiéis a referência essencial da Cruz ao acontecimento da
Ressurreição: a Cruz e o sepulcro vazio, a Morte e a Ressurreição de Cristo,
são inseparáveis na narração evangélica e no intuito salvífico de Deus.
A Leitura
da Paixão do Senhor.
Durante o tempo
de Quaresma, o amor a Cristo crucificado deverá levar a comunidade cristã a
preferir na quarta-feira e na sexta-feira, sobre tudo, para a leitura da Paixão
do Senhor.
Esta leitura, de
grande sentido doutrinal, atrai a atenção dos fiéis tanto pelo conteúdo como
pela estrutura narrativa, e suscita neles sentimentos de autêntica piedade:
arrependimento das culpas cometidas, porque os fiéis percebem que a Morte de
Cristo aconteceu para remissão dos pecados de todo o gênero humano e também dos
próprios; compaixão e solidariedade com o Inocente injustamente açoitado;
gratidão pelo amor infinito que Jesus, o Irmão primogênito, demonstrou em sua
Paixão para com todos os homens, seus irmãos; decisão de seguir os exemplos de
mansidão, paciência, misericórdia, perdão das ofensas e abandono crédulo nas mãos
do Pai, que Jesus deu de modo abundante e eficaz durante sua Paixão.
Via
Sacra.
Entre os
exercícios de piedade com os que os fiéis veneram a Paixão do Senhor, há poucos
que sejam tão estimados como a Via Sacra. Através deste exercício de piedade os
fiéis percorrem, participando com seu afeto, a última parte do caminho
percorrido pelo Jesus durante sua vida terrena: do Monte das Oliveiras, onde no
“horto chamado Getsemani” (Mc 14,32) o Senhor foi “presa da angústia” (Lc
22,44), até o Monte Calvário, onde foi crucificado entre dois malfeitores (ver
Lc 23,33), ao jardim onde foi sepultado em um sepulcro novo, escavado na rocha
(ver Jo 19,40-42).
Um testemunho do
amor do povo cristão por este exercício de piedade são os inumeráveis Via
Sacras nas Igrejas, nos santuários, nos claustros e inclusive ao ar
livre, no campo, ou na ascensão a uma colina, a qual as diversas estações lhe
conferem uma fisionomia sugestiva. No exercício de piedade da Via Sacra
confluem também diversas expressões características da espiritualidade cristã:
a compreensão da vida como caminho ou peregrinação; como passo, através do
mistério da Cruz, do exílio terreno à pátria celeste; o desejo de conformar-se
profundamente com a Paixão de Cristo; as exigências do seguimento de Cristo,
segundo a qual o discípulo deve caminhar atrás do Mestre, levando cada dia sua
própria cruz (ver Lc 9,23) portanto devemos motivar sua oração nas
quartas-feiras e/ou sexta-feira de quaresma.
A Virgem Maria na Quaresma.
No plano
salvífico de Deus (ver Lc 2,34-35) estão associados Cristo crucificado e a
Virgem dolorosa. Como Cristo é o “homem de dores” (Is 53,3), por meio do qual
se agradou Deus em “reconciliar consigo todos os seres: os do céu e os da
terra, fazendo a paz pelo sangue de sua cruz” (Col 1,20), assim Maria é a
“mulher da dor”, que Deus quis associar a seu Filho, como mãe e partícipe de
sua Paixão. Dos dias da infância de Cristo, toda a vida da Virgem, participando
do rechaço de que era objeto seu Filho, transcorreu sob o sinal da espada (ver
Lc 2,35).
Por isso a
Quaresma é também tempo oportuno para crescer em nosso amor filial Àquela que
ao pé da Cruz entregou a seu Filho, e se entregou Ela mesma com Ele, por nossa
salvação. Este amor filial podemos expressar durante a Quaresma
impulsionando certas devoções marianas próprias deste tempo: “As sete dores de
Santa Maria Virgem”; a devoção a “Nossa Senhora, a Virgem das Dores” (cuja
memória litúrgico se pode celebrar na sexta-feira da V semana de Quaresma; e a
reza do Santo Rosário, especialmente os mistérios de dor.
Também podemos
impulsionar o culto da Virgem Maria através de Missas da Bem-aventurada
Virgem Maria, cujos formulários de Quaresma podem ser usados no sábado.
Quarta-feira de Cinza.
A bênção e
imposição da cinza se faz depois do evangelho e da homilia. Com motivo deste
rito penitencial, ao começar a missa deste dia se suprime o ato penitencial
acostumado. Por isso, depois que o celebrante beijou o altar, saúda o
povo e, continuando, podem-se dizer as invocações, “Senhor tenha piedade”, (sem
antepor outras frases, pois hoje não são o ato penitencial), e a oração coleta,
e acontece com a liturgia da palavra.
Depois da
homilia se faz a bênção e imposição da cinza; acabada esta, o celebrante
lava as mãos e continua a celebração com a oração dos fiéis.
Domingo IV de Quaresma.
Por ser no
domingo da alegria no caminho quaresmal para a Páscoa, durante todo no
domingo IV, dos I Vésperas que se celebram na sábado anterior, é conveniente
pôr flores no altar e tocar música durante as celebrações. Desta maneira se
sublinha a quão fiéis esta perto a grande festa da Páscoa e que o fruto de
nosso esforço quaresmal, será ressuscitar com o Senhor à vida verdadeira.
Feiras da V Semana de Quaresma.
As feiras da V
Semana de Quaresma –antiga semana de Paixão- têm umas pequenas características
próprias: sem deixar de ser tempo de Quaresma, já tomam algo da cor própria de
na próxima Semana Santa e com isso inauguram, em certa maneira, a preparação do
Tríduo Pascal, nos levando a contemplação da glória da cruz de Jesus Cristo.
É conveniente
não esquecer que na missa, diz-se todos os dias o prefácio I da Paixão do
Senhor.
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ACI Digital
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