Caros
leitores e leitoras,
Graça e
paz!
A Campanha da
Fraternidade (CF) de 2015 traz como tema “Fraternidade: Igreja e sociedade” e
lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45). A escolha desse tema teve como
objetivo inserir a campanha nas comemorações do jubileu do Concílio Vaticano
II, com base nas reflexões propostas pela Constituição Dogmática Lumen
Gentium e pela Constituição Pastoral Gaudium et Spes, que tratam
da missão da Igreja no mundo. Podemos dizer que a eclesiologia e o esforço pela
renovação da Igreja perpassam não apenas esses dois, mas todos os documentos do
concílio, o qual foi eminentemente eclesiológico. A própria CF nasceu dos
esforços de renovação suscitados pelo Vaticano II. Lembramos que as primeiras
campanhas propuseram uma temática mais eclesial e depois houve uma série de campanhas
de temática social, manifestando uma compreensão da Igreja como servidora da
sociedade e da humanidade para a promoção da justiça do Reino de Deus. Na
campanha de 2015, temos a oportunidade de englobar as duas dimensões: qual
Igreja e qual sociedade queremos? Uma Igreja a serviço da sociedade que
almejamos, a sociedade desejada pelo próprio Cristo: justa, fraterna,
solidária, com vida digna e em abundância para todos.
Ao longo da
história, a Igreja havia se distanciado desses anseios nascidos do evangelho. A
inspiração de João XXIII para convocar o Vaticano II constituiu uma
oportunidade de reaproximação. O concílio foi uma volta às fontes bíblicas e
patrísticas e uma busca de superação do embate, da rejeição mútua entre Igreja
e modernidade. Essa volta às fontes permite a elaboração de uma eclesiologia de
comunhão, de cunho sacramental, que tem como ponto de partida e de chegada a
Santíssima Trindade e Cristo “luz dos povos”.
A eclesiologia
do Concílio Vaticano II suprime uma teologia fundada no direito, na hierarquia,
na centralização e no poder, para suscitar uma reflexão eclesiológica do
mistério trinitário, da Igreja dialogante com o mundo. A partir de então
entraram fortemente na agenda da Igreja as preocupações com as situações
concretas vividas pelos povos: o tema da miséria de grande parte da humanidade;
os direitos humanos; as ameaças de destruição da humanidade; a corrida
armamentista; a paz; o desenvolvimento dos povos; o acesso à cultura, à
educação, aos benefícios do desenvolvimento; a opressão; o estabelecimento da
justiça entre as nações e dentro delas.
O Vaticano II e
seus documentos precisam sempre ser retomados para não serem esquecidos, mas
aprofundados. De forma semelhante à tradição do povo de Deus do Antigo
Testamento, o qual, após o êxodo, mantinha o princípio de lembrar
cotidianamente “o Deus que te tirou do Egito” e retomar essa memória sempre que
se sentia necessitado de conversão. Também, como afirmava o papa Paulo VI no
ano seguinte ao final do concílio: “Os decretos conciliares, antes de serem um
ponto de chegada, são um ponto de partida para novos objetivos. É necessário
ainda que o Espírito e o sopro renovador do concílio penetrem nas profundezas
de vida da Igreja. É necessário que os germes de vida depositados pelo concílio
no solo da Igreja cheguem a sua plena maturidade” (Oss. Rom. 26-27
out. 1966). A eclesiologia do Vaticano II não encerra o debate, mas o abre.
Continuamos
então o esforço da recepção e compreensão dos seus documentos, de sua aplicação
e da caminhada nas sendas abertas pelo concílio. Com certeza a CF e o período
de conversão quaresmal são ótimas oportunidades para isso.
Pe. Jakson Alencar, ssp
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