Se aproxima o Carnaval e fica sempre para o fiel
cristão o desafio e as possibilidades diante deste evento tão marcante para a
cultura brasileira. Uns se preparam para um momento de recolhimento nos
chamados retiros de Carnaval ou Rebanhões, aprofundarão a oração e através do
louvor e da intercessão renovarão a sua vida espiritual.
Outros menos avisados entrarão de cheio na mística
de diversão, pensando que no Carnaval há férias para tudo, e como estava
escrito nas cartografias da Renascença não existe pecado debaixo do Trópico.
Assim seria lícito cometer toda espécie de exageros e desvios contra a vida e a
família. Parece que não haveria outra opção para bem viver o Carnaval como
tempo de alegria e festa, embora muito contaminada pelo hedonismo e os apelos
para uma sexualidade desenfreada. É pena termos esquecido a origem desta
palavra: " a carne vale", para expressar que este tempo que
antecipava a Quaresma não era preciso fazer abstinência de comer carne, e todo
o povo participava celebrando a paixão e a alegria de viver, valores
profundamente evangélicos.
O homem e a mulher bíblica tinham uma dimensão
marcadamente festiva como prova a festa do Purim, que celebrava a salvação do
povo pela atuação da Rainha Éster. Hoje também é possível como o Rei Davi e
João Batista no ventre materno pular com alegria, testemunhando o rosto amável,
luminoso e belo do Bom Deus que nos chama a plenitude e a viver com inteireza a
condição de filhos amados e sempre acompanhados por sua Presença.
Está faltando às vezes para os cristãos a vivência e
a prática de uma verdadeira espiritualidade da alegria, que condiga desvelar e
mostrar em quem acreditamos: o Deus da Paz e da Alegria. Uma espiritualidade
capaz de apontar no Carnaval onde se encontram a beleza, a completude e a
verdadeira festa, partilhando com os carnavalescos, a ginga, os enredos que
enobrecem o ser humano, e a espontaneidade generosa e solidária de quem se
diverte não prejudicando a saúde nem a felicidade do irmão, mas busca
plenificar estes instantes com esperança e desejo da Festa sem fim. Deus seja
louvado!
Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
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