Nesses tempos de discussão sobre o respeito às crenças religiosas alheias, convém mais do que nunca trazer à tona uma faceta de Martinho Lutero que pouca gente conhece: o de gravurista que não tinha limites para a baixaria.
Bem
diferente do que muita gente pensa, não foi por meio da distribuição de bíblias
que a Reforma Protestante difundiu sua doutrina. A grande arma de propaganda
dos “reformadores” eram panfletos com gravuras ridicularizando o Papa
e o clero das formas mais asquerosas possíveis, no melhor (ou pior) estilo
da revista Charlie Hebdo.
Ânus,
cocô e demônios eram elementos quase onipresentes nos desenhos de Lutero e sua
turma. Pudera…
a boca fala do que o coração está cheio! Vejam que “primor”, por exemplo,
o texto que acompanha a gravura acima, De Ortu et Origine Monachorum
(“A Fonte e a Origem dos Monges”): diz que o capeta teve uma dor de
barriga e, ao se aliviar sobre uma forca, de seu traseiro saíram os
monges. Será que Luterinho, ex-monge agostiniano, estava então contando sua
própria história de vida?
É preciso
dar um desconto para Lutero, afinal, diferente dos cartunistas franceses, ele
não usava a imagem de Cristo para blasfemar, nem tampouco a da
Santíssima Virgem, de quem era devoto (saiba mais aqui). Por outro lado, enquanto as
charges do jornal francês nunca incitaram a violência física contra
ninguém, Lutero, por sua vez, pedia em uma gravura que o Papa e os
cardeais fossem mortos na forca e tivessem suas línguas pregadas ao
lado (veja abaixo).
A gravura
acima, intitulada Digna merces Pape satanissimi et cardinalium
suorum (“A justa recompensa que o Papa Sataníssimo e seus cardeais
merecem”) foi produzida por Lucas Cranach. Por encomenda de seu amigo
Lutero, esse pintor renascentista fez diversas xilogravuras anticatólicas. Lutero
e Lucas formaram assim a dupla LuLu; um bolava o desenho, o outro executava.
O mais
célebre dos panfletos de Lutero ilustrado por Lucas Cranach é “Contra o
pontificado romano fundado pelo diabo”, de março de 1545. A seguir, mostramos
mais algumas das gravuras contidas nessa publicação.
A gravura
“O nascimento e a origem do Papa” apresenta um demônio feminino “parindo”
vários papas pelo traseiro; os bebês são embalados e amamentados por
outros demônios.
A
genialidade humorística da dupla LuLu era mesmo ilimitada. Além de muito
cocô e bunda, eles também faziam sátiras com… muito cocô e bunda! Na
gravura a seguir (cujo título é Adoratus Papas Deus Terrenus)
eles sugerem que o povo deveria usar a tiara papal como penico.
Em outra gravura,
cujo título é The Papal Belvedere, camponeses mostram as nádegas e
peidam diante do Papa Paulo III, que lhes expõe uma bula. Como vemos, o “grande
reformador” propunha um debate teológico de “altíssimo” nível! Será que alguém
acredita que o Espírito Santo inspirou tais coisas?
Mas nem
tudo o que a propaganda da Reforma produzia era baixaria. Há algumas exceções
com conteúdo de crítica genuína, como a ótima gravura que compara o abuso
da venda de indulgências ao crime dos vendilhões do templo (veja abaixo).
A imagem faz parte de uma série de “quadrinhos” feitos por Lucas Cranach, desta
vez em parceria com o reformador Philip Melancthon.
Abre
parênteses: o abuso
da venda de indulgências praticado pelos papas Júlio II e Leão X foi uma
vergonha, entretanto, não tinha nada a ver com “vender a salvação”, como muitos
evangélicos dizem por aí. Para saber mais, clique aqui e aqui.
Porém, no
“conjunto da obra”, Lutero fez uso de sátiras tão porcas quanto a de
um moleque aloprado. Ele, que se dizia apegado às Escrituras, não aprendeu
com elas a satirizar. Desejando arrancar risadas quase sempre por meio de
bundas, bostas e capetas, passou a mil quilômetros da fina ironia do profeta
Elias no Monte Carmelo.
Desafiados
por Elias a provar a força de Baal, os profetas do ídolo se
esgoelavam horas a fio, clamando para que o fogo descesse do céu e
consumisse o novilho ofertado no altar. Mas nada de novo acontecia o sol… #deuruim
“Elias escarnecia-os, dizendo: Gritai com mais força, pois
(seguramente!) ele é deus; mas estará entretido em alguma conversa, ou ocupado,
ou em viagem, ou estará dormindo… e isso o acordará” (I Reis 18, 27).
O profeta
Elias nos mostra que o humor é uma arma legítima para a defesa da verdade, e
não deve ser excluído do debate religioso. Por isso, TENHAM CUIDADO COM A DITADURA DO
POLITICAMENTE CORRETO, que dá voz aos melindrados e ofendidinhos de plantão. Já
dissemos aqui e reafirmamos: todas as religiões – inclusive o catolicismo –
possuem eventualmente aspectos passíveis de serem criticados e ironizados.
É justo
pedir um mínimo de bom senso. Tomara que aqueles que usam do humor utilizando
temas religiosos elevem o nível acima das sátiras abjetas da Reforma
Protestante, do Charlie Hebdo, do Porta dos Fundos e companhia.
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ALGUMAS PERGUNTAS DOS LEITORES E RESPOSTAS DE "O CATEQUISTA"
1- Em quê o
catolicismo pode ser ironizado? E em que sentido esse termo “ironia” foi
mencionado? (Luiz Antônio Pereira)
Pode ser ironizado em vários sentidos. Nós mesmos
aqui no blog fizemos várias sátiras com os maus papas, como Alexandre VI. Tem
também aquele vídeo do Leandro Hassum que apresentamos em um de nossos últimos
posts; ele fala de aspectos engraçados de diversas religiões, inclusive do
catolicismo, sem agredir ninguém.
Aí vai um exemplo que acho engraçadíssimo de uma
ironia feita com um dos trechos do Evangelho:
2- Alguém sabe se houve uma reação por parte da Igreja
Católica contra estas gravuras?. Se a Igreja reagiu a altura encomendando
outras gravuras do mesmo nível (tomara que não, se não seria para se nivelar
mais por baixo de que bunda de sapo), ou foi parar no index de livros proibido
da Igreja?. E esta faceta de gravurista de Lutero e Cia os protestantes hoje em
dia conhecem?. Será que que eles concordariam com estas gravuras objetas e
nojentas? (Sidney).
Sidnei, até onde sei, a reação da Igreja foi muito
elegante. A fonte que tenho como base para afirmar isso é a página do “German
Historical Institute”. Repare as imagens que eles mostram da “resposta
católica” à propaganda satírica da Reforma Protestante, AQUI.
A única imagem mais forte que vi – e que passa bem
longe da baixaria luterana – é esta aqui que mostra Lutero como a besta de sete cabeças do Apocalipse:
Você, pode ver a imagem acima com mais detalhes na fonte, clicando AQUI.
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Fonte: O Catequista
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