Caros leitores e leitoras,
Graça e paz!
Neste ano, o livro proposto pela CNBB para
aprofundamento no mês da Bíblia é o Evangelho de João. O lema escolhido é
“Permanecei no meu amor para produzir muitos frutos”, e o tema, “Discípulos
missionários a partir do Evangelho de João”. O mandamento do amor de uns para
com os outros, sinal do discipulado, é o principal legado do Evangelho de João.
Não se trata de um “amor” qualquer, lembrando que a palavra “amor” é muito
banalizada e usada para tudo em nossos dias. Trata-se de amor que tem como meta
e como ideal o amor de Cristo. A vivência desse amor nas comunidades cristãs e
dos cristãos para com o todo da criação é a principal força missionária. Como
tem repetido o papa Francisco, a Igreja cresce não por proselitismo, mas pela
força de atração que vem do testemunho.
Aspectos muito concretos do contexto da comunidade
de João ocasionaram a ênfase dada ao mandamento do amor e a busca por
fortalecer e aprofundar a fé. A comunidade era formada por significativa
diversidade: judeus convertidos, samaritanos, pagãos convertidos, galileus,
pobres, ricos, membros do grupo de João Batista. Isso exigiu maior abertura
para conviver com pessoas de mentalidades diferentes. A convivência e os
vínculos de fraternidade foram possíveis por meio do amor, força capaz de
ultrapassar as barreiras e preconceitos e ideal de uma nova aliança baseada na
solidariedade. A comunidade também era marcada por conflitos e perseguições por
parte das autoridades judeu-farisaicas e do império romano, além de manter
divergências com outras correntes filosóficas e religiosas. Tanto pela
diversidade cultural como pelos conflitos e dificuldades gerados pelas
perseguições, a comunidade precisou aprofundar os laços de amor e a fé para
resistir e manter-se fiel.
Após a guerra dos judeus contra os romanos (66
d.C.), sobreviveram os fariseus e os judeus cristãos. Jerusalém e o Templo
foram destruídos, e a vida dos habitantes da região foi desestruturada. O grupo
dos fariseus assumiu a liderança, aliou-se aos romanos e procurou firmar uma
identidade, expulsando os judeus cristãos das sinagogas e perseguindo-os.
Exigiam o cumprimento minucioso dos seus 613 mandamentos, situando a lei acima
da vida e das pessoas e exigindo, para a purificação, ofertas e tributos.
Causaram com isso muita opressão, pois grande parte do povo não tinha condições
econômicas para tanto e era considerada impura.
Nesse período surgiu o Evangelho de João, ao longo
do qual, em suas entrelinhas, se percebe o conflito e a hostilidade entre luzes
e trevas, entre a comunidade e o “mundo” – expressão usada para se referir ao
sistema social injusto que se opunha ao projeto de vida trazido por Jesus e
assumido por seus seguidores. O Evangelho oferece uma catequese, orienta e
anima a comunidade para enfrentar essa situação, salienta a soberania e a
divindade e humanidade de Jesus, o bom pastor que cuida de seu povo sofrido e o
conduz; o pão da vida eterna, da vida em abundância. O caminho, a verdade e a
vida é Jesus, e não um conjunto extenso de regras. Ressalta-se que não basta
procurar Jesus superficialmente (6,25-29); é preciso crer e aprofundar essa
adesão, assumir o mandamento do amor e as consequências (15,18). Perante os 613
mandamentos dos fariseus, temos no Evangelho de João o único mandamento do amor
e a constante ênfase na vida.
Procuremos iluminar a conjuntura atual com o
Evangelho de João, tendo presente seu contexto e o nosso, uma realidade também
marcada por conflitos e adversidades, divisões, preconceito e ódio, grande
desigualdade social e diversidade cultural, laços afetivos e comunitários
frágeis, crise de fé.
Pe. Jakson
Alencar, ssp
Editor
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Vida Pastoral
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