No voo de regresso a Roma, após quase nove dias de
visita a Cuba e Estados Unidos, o Papa Francisco concedeu uma longa entrevista
aos jornalistas. O Pontífice respondeu a 11 perguntas, durante mais de 45
minutos.
Casamento
homossexual
Sobre a reforma da saúde, promovida pelo presidente
norte-americano Barack Obama, que poderia obrigar instituições católicas a
práticas contrárias às suas convicções sobre o aborto e o planejamento
familiar, bem como sobre os casos de funcionários que se recusaram a celebrar
casamentos entre pessoas do mesmo sexo, Francisco afirmou:
“A objeção de
consciência é um direito. Se impedimos uma pessoa de fazer objeção de consciência,
negamos-lhe um direito”, advertiu, sublinhando que isso se aplica também
aos trabalhadores de qualquer Governo.
Historicamente, disse ainda, esse direito foi
negado a fiéis de outras religiões que eram obrigados a escolher entre a
“espada” ou o “batismo”.
Casais de
segunda união
Francisco comentou sobre um dos temas mais
mediatizados do próximo Sínodo sobre as Famílias: a situação dos católicos em
segunda união. Segundo ele, seria simplista dizer que a solução, para estas
pessoas, é a possibilidade de comungar. “Não
é a única solução”, alertou.
O Pontífice enfatizou que, além destas situações,
há um conjunto de novas questões, como a dos jovens que não se querem casar ou
o tema da “maturidade afetiva”. “Para
ordenar um padre há uma preparação de oito anos, mas para casar-se por toda a
vida fazem quatro encontros de preparação matrimonial”, exemplificou.
Nulidade
matrimonial
Sobre a recente notícia sobre a simplificação dos
processos de nulidade matrimonial, o Santo Padre explicou que a decisão é
diferente de um “divórcio católico” e destacou que a “indissolubilidade” será
sempre a doutrina da Igreja.
“O divórcio
católico não existe, a nulidade é reconhecida se não houve matrimônio, mas se
houve, é indissolúvel. (…) Na reforma dos processos de nulidade matrimonial,
fechei a porta à via administrativa, através da qual podia entrar o divórcio”, acrescentou.
Francisco explicou que a reforma jurídica visa
agilizar os processos, eliminando a necessidade de uma “dupla sentença”, mas a
doutrina continua a ser a do matrimônio como Sacramento “indissolúvel”. “Isto é
algo que a Igreja não pode mudar, é doutrina, é um Sacramento indissolúvel. O
processo judicial serve para provar que aquilo que parecia um sacramento não
era sacramento”.
A este respeito, deu o exemplo dos casamentos “à
pressa”, quando a noiva estava grávida, para “salvar as aparências”. “Alguns deles correram bem, mas não há
liberdade”, observou.
Crise dos
refugiados
Francisco que a solução para a crise de refugiados
na Europa tem de passar pelo diálogo entre todos os países em vez de barreiras
e muros, que estão destinados a “cair”.
“Sabemos o
que acontece a todos os muros, a todos: todos os muros caem. Hoje, amanhã,
daqui a cem anos, vão cair. Não é uma solução, o muro não é uma solução”,
defendeu.
Questionado sobre a chegada de milhares de pessoas
à Europa, Francisco admitiu que esta é uma situação difícil, perante a qual é
preciso ser “inteligente”.
“Temos de
encontrar soluções, temos de encorajar o diálogo entre as várias nações, para
encontrá-las. Os muros não são nunca soluções, as pontes são, sempre, sempre”,
insistiu.
O Papa observou que a edificação de barreiras faz
com que o problema permaneça, “com mais ódio”. Neste contexto, sublinhou que o
estado de crise acontece após um “longo processo”, motivado por guerras e fome,
com “interesses econômicos escondidos” por trás do sofrimento das populações.
“Em vez de
explorar um continente ou uma nação, devem fazer-se investimentos lá, para que
as pessoas sejam capazes de trabalhar – assim, esta crise poderia ter sido
evitada. Agora é verdade, como disse no Congresso, que é uma crise de
refugiados nunca vista desde a II Guerra Mundial, é a maior”, afirmou o
Papa.
Francisco retomou as suas preocupações com os
cristãos perseguidos mas rejeitou que a solução no Oriente Médio passe por
bombardeamentos contra o autoproclamado Estado Islâmico. “Quando ouço a palavra bombardeamento, morte, sangue… repito o que
disse no Congresso e na ONU, que é preciso evitar estas coisas, mas não sei,
não posso julgar a situação política”, assinalou.
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Canção Nova
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