O processo das
eleições municipais deste ano avança rapidamente. Pré-candidatos se apressam a
mostrar suas caras. Partidos articulam alianças. A maioria dos cidadãos assiste
esse jogo político desde as arquibancadas. Participarão na hora do voto. A
mídia tenderá a apoiar quem se dispuser a defender seus interesses mercantis e
de quem a sustenta. Terão mais chance de ganhar os que contarem com mais
recursos financeiros. Que democracia é essa, meu Deus!?
Democracia
exclusivamente de eleições, sem participação efetiva dos cidadãos e das cidadãs
comuns, é uma democracia fragilizada. Por isso, a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) lançou uma nota confiando às comunidades eclesiais a
responsabilidade de “tornar as eleições municipais ocasião de fortalecimento da
democracia”, devendo “ser cada vez mais participativa”, tendo como horizonte “a
construção do bem comum”.
A Igreja
incentiva seus membros, especialmente leigos e leigas, a participarem da vida
política, visando o bem comum, jamais seus próprios interesses. “A eles cabe,
de maneira singular, a exigência do Evangelho de construir o bem comum na
perspectiva do Reino de Deus. Contribui para isso a participação consciente no
processo eleitoral, escolhendo e votando em candidatos honestos e competentes.
Associando fé e vida, a cidadania não se esgota no direito-dever de votar, mas
se dá também no acompanhamento do mandato dos eleitos”.
Essa nota da
CNBB valoriza as eleições municipais. Elas “têm uma atração e uma força
próprias pela proximidade dos candidatos com os eleitores. Se, por um lado,
isso desperta mais interesse e facilita as relações, por outro, pode levar a
práticas condenáveis como a compra e venda de votos, a divisão de famílias e da
comunidade. Na política, é fundamental respeitar as diferenças e não fazer
delas motivo para inimizades ou animosidades que desemboquem em violência de
qualquer ordem”.
Embora a
participação cidadã seja muito reduzida ao ato de votar, a CNBB diz que “para
escolher e votar bem é imprescindível conhecer, além dos programas dos
partidos, os candidatos e sua proposta de trabalho. É fundamental considerar o
passado do candidato, sua conduta moral e ética e, se já exerce algum cargo
político, conhecer sua atuação na apresentação e votação de matérias e leis a
favor do bem comum. A Lei da Ficha Limpa há de ser, neste caso, o instrumento
iluminador do eleitor para barrar candidatos de ficha suja.”
Sabiamente dizem
os bispos: “É preciso estar atento aos custos das campanhas. O gasto exorbitante,
além de afrontar os mais pobres, contradiz o compromisso com a sobriedade e a
simplicidade que deveria ser assumido por candidatos e partidos. Cabe aos
eleitores observar as fontes de arrecadação dos candidatos, bem como sua
prestação de contas. A lei que proíbe o financiamento de campanha por empresas,
aplicada pela primeira vez nessas eleições, é um dos passos que permitem
devolver ao povo o protagonismo eleitoral, submetido antes ao poder econômico”.
“A compra e
venda de votos e o uso da máquina administrativa nas campanhas constituem crime
eleitoral que atenta contra a honra do eleitor e contra a cidadania. Exortamos
os eleitores a fiscalizarem os candidatos e, constatando esse ato de corrupção,
a denunciarem os envolvidos ao Ministério Público e à Justiça Eleitoral,
conforme prevê a Lei 9840, uma conquista da mobilização popular há quase duas
décadas.”
“Exortamos as
comunidades a aprofundarem seu conhecimento sobre a vida política de seu
município e do país, fazendo sempre a opção por aqueles que se proponham a
governar a partir dos pobres, não se rendendo à lógica da economia de mercado
cujo centro é o lucro e não a pessoa.” Que essas exortações sirvam de luzes
para quem crê que a democracia não pode ser um jogo com cartas marcadas.
Dom Reginaldo Andrietta
Bispo de Jales
Nenhum comentário:
Postar um comentário