“A busca da face de Deus” (Vultum Dei Quaerere) é o
título da Constituição Apostólica assinada pelo Papa Francisco e dedicada à vida contemplativa feminina.
O documento, publicado esta sexta-feira (22/07), indica 12 temas de reflexão
para a vida consagrada e se conclui com 14 orientações.
Faróis e centelhas da humanidade
Às
contemplativas, o Papa lança um desafio: ser “faróis e centelhas” que guiam e
acompanham o caminho da humanidade, oferecendo o Evangelho ao mundo contemporâneo.
O Pontífice as exorta a vencer com tenacidade as tentações, em especial “a
tentação que degenera em apatia, rotina, desmotivação e indiferença
paralisante”.
Formação e oração
Francisco
convida a “discernir” sobre 12 temas da vida consagrada. O primeiro é a
formação, “que requer uma contínua conversão a Deus” e um período que varia de
9 a 12 anos. Os mosteiros não devem se deixar levar pela tentação do número e
da eficiência, adverte o Papa. Depois, há a oração, “espinha dorsal da vida
consagrada”, que não deve ser vivida como um fechamento da vida monástica em si
mesma, mas como um alargamento do coração “para abraçar toda a humanidade”, em
especial os que mais sofrem.
Lectio divina, Eucaristia e Reconciliação
A Palavra de
Deus é outro tema central, que deve marcar o dia pessoal e comunitário das
contemplativas através da lectio divina, para depois se transformar em actio,
“dom para os outros na caridade”. A Constituição Apostólica recorda ainda a
importância da Eucaristia e da Reconciliação, sugerindo “prolongar a celebração
com a adoração eucarística” e viver a prática da penitência como “ocasião
privilegiada para contemplar a face misericordiosa do Pai” e se tornar, assim,
“instrumentos de reconciliação, de perdão e de paz” de que o mundo hoje
necessita particularmente.
Vida comunitária e autonomia dos mosteiros
O quinto tema
indicado pelo documento é a vida fraterna em comunidade, testemunho mais
necessário do que nunca “numa sociedade marcada por divisões e desigualdades”.
“É possível e belo viver juntos, não obstante as diferenças de geração,
formação e cultura”, porque “unidade e comunhão não significam uniformidade”. O
sexto tema diz respeito à autonomia dos mosteiros, que não deve significar
“independência ou isolamento”, escreve o Papa, exortando as contemplativas a
não adoecerem de “autorreferencialidade”.
As federações e a clausura
O sétimo tema
ressalta a importância das Federações como “estruturas de comunhão entre
mosteiros que compartilham o mesmo carisma”, sugerindo sua criação e
multiplicação. O oitavo tema, ao invés, é relativo à clausura, “sinal da união
exclusiva da Igreja esposa com o seu Senhor”.
O trabalho e o silêncio
O Papa destaca
ainda o trabalho que as contemplativas devem realizar “com devoção e
fidelidade”, sem se deixar condicionar pela mentalidade da cultura
contemporânea, que aposta na eficiência. O trabalho deve ser entendido como
“serviço à humanidade e solidariedade para com os pobres”. Já o silêncio é
“escuta e ruminatio da Palavra”, “vazio de si para fazer espaço ao
acolhimento”, silêncio “rico de caridade”, que “ouve Deus e o grito da
humanidade”.
A cultura digital e os meios de comunicação
Consciente das
transformações da sociedade e da “cultura digital”, que “influi de modo decisivo
na formação do pensamento e no modo de se relacionar com o mundo”, Francisco
propõe como 11º tema os meios de comunicação. “Instrumentos úteis para a
formação e a comunicação”, o Papa todavia exorta as contemplativas a “um
discernimento prudente” para que esses meios não sejam ocasião de “evasão da
vida fraterna”, danificando a vocação e dificultando a contemplação.
A ascese rumo a Deus
Por fim, o
último tema é ascese: “sinal eloquente de fidelidade” num mundo globalizado e
sem raízes, exemplo de como ficar ao lado do próximo mesmo diante de
diversidades, tensões, conflitos e fragilidades”. A ascese não é uma fuga do
mundo “por medo” – destaca Francisco –, porque as monjas “continuam a estar no
mundo sem ser do mundo”. Intercedendo “constantemente pela humanidade” junto ao
Senhor, ouvindo “o clamor” de quem é “vítima da cultura do descarte”, as
contemplativas são o “degrau” através do qual Deus desce ao encontro do homem e
o homem sobe para o encontro com Deus.
Recrutamento de candidatas
A Conclusão da
Constituição Apostólica se divide em 14 artigos que, de fato, definem em termos
jurídicos o que foi dito pelo Pontífice precedentemente. Em especial, o art. 3
estabelece que se deve absolutamente evitar o recrutamento de candidatas de
outros países com a única finalidade de garantir a sobrevivência do mosteiro. O
art. 8 traz a lista dos requisitos necessários para a autonomia jurídica de uma
comunidade, entre os quais a capacidade formativa e de gestão, a inserção na
Igreja local e a possibilidade de subsistência. Caso não haja esses requisitos,
a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada “avaliará a oportunidade de
constituir uma comissão ad hoc” para “uma revitalização do mosteiro ou o seu
fechamento”.
Obrigação inicial de pertencer a uma
Federação
O art. 9
estabelece que “inicialmente todos os mosteiros deverão pertencer a uma
Federação”. Se isto não for possível, o mosteiro deverá pedir a permissão da
Santa Sé, à qual compete um “discernimento adequado”. Por fim, no art. 14
afirma-se que caberá à Congregação para os Institutos de Vida Consagrada emanar
indicações práticas, aprovadas pela Santa Sé, de acordo com os carismas das
várias famílias monásticas.
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Rádio Vaticano
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