Sobre a polêmica
de Card. Sarah e o "ad orientem" não quis falar nada porque já
imaginava que seria este o desfecho.
Porém, cabe uma
precisação importante, sobretudo depois da chuva de estupidezes que se disseram
esses dias.
Uma coisa é a
"posição do altar" e outra a "posição interior do
celebrante". Esta última sempre é "versus Dei", como esclareceu
uma resposta autêntica da Congregação para o Culto Divino do ano 2000 (Cf.
prot. 2036/00/L), pois o padre reza a Deus, não ao povo, mas pelo povo e com o
povo.
Quanto à
"posição do altar", a Igreja SEMPRE teve as duas posições coexistindo
em harmonia: "coram Deo" (de frente para Deus) ou "coram
populo" (de frente para o povo). Nas Igrejas de estilo basilical, por
exemplo, construía-se sempre o altar voltado para o povo, mas sempre "ad
orientem"… Pois o ponto de referência sempre foi Deus, e NUNCA houve um
conflito entre os dois estilos.
Contudo, nas
últimas décadas, o problema se tornou praticamente ideológico, e criou-se uma
dialética artificial entre as duas posições, sendo que ambas, como esclarece a
mesma resposta da Congregação para o Culto Divino, permanecem plenamente
válidas, e isso para as duas formas do rito romano.
Na referida
resposta autêntica, a Igreja já esclareceu que a norma litúrgica se refere a
que se "possa" celebrar facilmente "coram populo", mas não
que isso se "deva" em todos os casos. Cabe aqui o discernimento
pastoral na comunhão da Igreja.
Todavia, sejamos
francos. Como a hipocrisia é grande em nossos dias!!! Há tempos se mandou alterar
a fórmula da consagração para "pro multis", e ninguém fez nada,
embora houvesse um prazo de dois anos, já esgotado há tempos. O próprio papa
Francisco mandou que se moderasse mais o "abraço da paz", e
praticamente ninguém viu nada se fazendo a respeito. Agora, o Card. Sarah fez
uma intervenção, sem praticamente novidade alguma em termos legislativos, e
cria-se uma celeuma dos diabos.
Se as sugestões
fossem para dançar o maculelê na liturgia, mesmo que isso não fosse oficial,
haveria não apenas acatamento imediato, mas se obrigariam todos os que não
quisessem a fazê-lo sob pena de qualquer coisa… A liturgia, no final das
contas, se tornou um festival de gostos, e o problema que o Card. Sarah aponta
continua candente: não se trata da posição do altar, mas da nossa posição
interior. A quem estamos buscando? A nós mesmos, nossa popularidade? Ou a
Deus?
Nem falemos dos
grotescos que voltaram àquela vergonhosa expressão de "celebrar de costas
para o povo", digna de não-catequizados. Além de ser um desrespeito a
todos os demais 22 ritos da Igreja Católica, que continuam celebrando assim
como há milênios, é uma flagrante idiotice, à qual menciono apenas para
registrar que ainda existem tamanhos mentecaptos.
Enfim,
independente da posição do altar, o que se pode sanar pela presença da Cruz ao
centro, como faz Papa Francisco (que também celebra "versus Dei"
todos os anos, pelo menos na Capela Sistina, na festa do Batismo do Senhor,
quando batiza os bebês), o que mais importa é a posição do nosso coração:
celebramos para Deus. Ele é nosso alvo, nosso centro, nosso horizonte… E isso
não apenas enobrece a ação litúrgica, mas santifica o povo que dela participa,
pois este não veio à Santa Missa para conferir a performance do padre, mas para
passar pelo novo e vivo caminho aberto pelo Sangue do Cordeiro, entrar pelo véu
rasgado e contemplar o Trono da Graça, para encontrar salvação e auxílio
oportuno.
Pe. José Eduardo
Nenhum comentário:
Postar um comentário