O cristão anda meio perdido nestes tempos líquidos
de cultura sentimentalista e subjetivista. O Catolicismo ainda guarda alguma
sanidade frente a enxurrada que está levando tudo embora: cultura, religião,
ética, política, valores, etc. O tempo que vivemos é de forte sentimentalismo e
subjetivismo e todos os âmbitos, inclusive no âmbito da religião. O
"sentir", que tem como sinônimos os arrepios, choros e desmaios, vem
como expressão de uma propalada "experiência de Deus" sentimentalista
e emocional.
O culto neopentecostal e pentecostal já se rendeu a isto há muito
tempo. A missa católica ainda não completamente, mas, em parte sim. Basta ver a
luta dos Bispos para inculcar no povo que canta nas Paróquias a necessidade de
se colocar cânticos litúrgicos na missa. Na maioria das vezes estes são
substituídos por cânticos de cunho sentimental e intimista. Outro dia meu Bispo
Diocesano celebrou a missa numa Paróquia onde cantaram a música "Como
Zaqueu" de cântico de entrada. Outro sinal desta confusão presente na
Igreja é o personalismo presidencial na liturgia. A coisa mais comum que se
houve dos leigos é: "como o senhor gosta que organizemos a liturgia,
padre?". Esta pergunta é absurda, pois a liturgia da Igreja é a Liturgia
do Missal e dos livros litúrgicos, das normas litúrgicas e das rubricas. O
padre não tem que inventar a roda! Ele é um servo da liturgia! No entanto, por
causa do caráter subjetivista e sentimentalista do nosso tempo, muitos padres
fazem nos presbitérios e nas santas missas verdadeiros carnavais, festas
juninas, sessão de descarrego, entre outras bizarrices, para tentar angariar
público! Nada trai tanto a verdadeira identidade católica!
A Cruz de
Cristo é o horror!
Ser católico é, após o santo Batismo,
identificar-se com o Cristo em toda a sua existência, acolher a sua Boa Nova,
obedecê-la e cumpri-la na vida pessoal em vista da eternidade. A vida de Cristo
antecede sua existência na Carne, pois, Ele é eterno com o Pai e o Espírito
Santo. No entanto, consideramos mormente sua encarnação como o ponto de partida
para a imitação católica. A cruz de Nosso Senhor não só é o ponto alto de sua
vida, mas o ponto de partida e a chave de compreensão de tudo o que Ele fez e
ensinou. Sua encarnação liga-se à sua cruz por meio da kênose, o rebaixamento
espontâneo que Ele fez de si mesmo (cf. Fl 2,7), a morte de si que já o ligava
à morte de Cruz. Toda sua existência é uma grande pregação, não um poema! A
vida de Cristo não é poética. Pelo contrário! Sua vida, sua pregação, sua
prática, colocaram em crise os homens de seu tempo! Se as palavras, a pregação,
a prática e a cruz de Jesus não coloca em crise nossos valores, pensamentos e
atitudes e não nos levam à conversão, então, significa que nada compreendemos
ainda!
Sua Cruz é o divisor de águas. Já no início da sua
primeira carta aos Coríntios São Paulo esclarece isso: A cruz de Cristo é
escândalo para judeus e gregos, ou seja, elemento de distinção e separação das
intenções do coração e das escolhas tomadas na vida. Já no início do
cristianismo a Cruz separou judeus e cristãos, gregos e cristãos, cristãos e
pagãos. Foi a Cruz que alimentou a força e a piedade dos santos Mártires. Foi a
cruz que alimentou a esperança cristã e a Santa Missa desde o primeiro século
até os dias de hoje! Foi a Santíssima Cruz, patíbulo do sacrifício que foi
oferecido pelo Filho, que unida ao sacrifício dos Santos Mártires trouxe luz e
esperança a três séculos de perseguição e morte de católicos nos primeiros
séculos.
A cruz, portanto, não é arrepio, sentimentalismo,
poesia e choro. A cruz é o horror! A cruz é em si mesma um sinal de morte que
só se tornou sinal de salvação por causa do Redentor do gênero humano que nela
padeceu. A cruz é sinal de que o homem velho precisa morrer! No entanto, a quem
apetece morrer? Morrer para os próprios apetites, prazeres, ideias, conceitos,
pensamentos?
Por isso a cruz está sendo trocada pela diversão, pelo
sentimentalismo, emocionalismo e subjetivismo. A cruz está sendo escondida e
mentida, pois, ela é o critério de discernimento da verdadeira vida católica,
do verdadeiro culto católico. A cruz é em primeiro lugar um lugar de morte,
para depois se tornar um lugar de vida e ressurreição. Se não morrermos como
Cristo, não ressuscitaremos como Ele! Não se pode fugir da Cruz, do horror, da
morte! Só assim ressuscita-se para a vida eterna! Fujam todos do emocionalismo,
do sentimentalismo e do subjetivismo! São como drogas que anuviam a mente, entorpecem
os sentidos, embaralham a consciência, conduzem ao erro e à mentira!
A salvação da Igreja está na cruz! Salve Cruz
Bendita! "Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e
loucura para os pagãos; mas, para os eleitos - quer judeus quer gregos -, força
de Deus e sabedoria de Deus." (1Cor 1,23-24)
Padre Luis Fernando Alves Ferreira
Sacerdote da Diocese de Itumbiara é também Secretário do Conselho Presbiteral da Diocese de Itumbiara, Coordenador Regional de Pastoral e Promotor Vocacional Diocesano.
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