O tema sugere-me muitas faces. Poderia trabalhar do
ponto de vista teológico, sob o ângulo espiritual, na dimensão comunicativa e
simbólica... Todos pontos importantes, sem dúvida. Contudo, minha eleição
contempla o lado comunicativo e dialógico da Biblia na Liturgia. Na Liturgia, a
Bíblia é conversadeira.
A Bíblia
fala
Na celebração litúrgica a Bíblia fala. É a voz de
Deus falando para a assembleia reunida. É quando a gente faz prosa com a
Bíblia, conversa com a Bíblia e ela conosco. Tenhamos como referência a Missa.
E, na missa, o momento da “falação” da Bíblia é na Liturgia da Palavra. É o
momento do encontro com a Bíblia.
A Bíblia
precisa ser bem apresentada
Uma vez que a Bíblia toma a palavra para falar para
muita gente na assembleia é compreensível que ela se apresente dignamente: bem
vista, vistosa e elegante. Afinal de contas, ninguém gosta de aparecer em
público mal vestido, ainda mais quando precisa falar coisas sérias para a vida
das pessoas.
Foi por este motivo que a Liturgia criou os
lecionários: livros grandes, vistosos e bonitos para a Bíblia se apresentar e
falar nas assembleias. Os lecionários contêm as leituras das missas. Outro
livro, não muito usado ainda entre nós no Brasil, mas que mostra a dignidade da
fala da Bíblia é o Evangeliário: é um livro elegantemente vestido; trata-se do
Evangelho, de Jesus Cristo anunciando a Boa Nova no meio do povo. Como se trata
da fala mais importante, por ser a fala de Jesus, o livro que fala neste
momento precisa ser bem apresentável, o mais bonito e mais ornamentado.
Nem sempre é
assim...
E verdade! Nem sempre é assim. Alguns se desculpam
dizendo que a mesma coisa que está na Bíblia está no folheto. É a mesma coisa
sim. O detalhe está na importância que esta Palavra tem naquele momento. E uma
importância tão grande que você não a anuncia e nem a proclama de um
descartável, como é o caso de folhetos e livretes.
Além do mais, esta Palavra que o leitor anuncia e
proclama é Palavra de Deus falando na assembleia. Por isso, não fica bem
rebaixar a Palavra de Deus e lê-la de um folhetinho qualquer. Podem ser as
mesmas palavras, mas existe uma grande diferença, em termos de dignidade, entre
um livro e um folheto.
Quem anuncia
quer ser olhado
Em se tratando de uma conversa, nada mais natural
que olhar para quem esta conversando com a gente. Quando a Bíblia fala, ela
também quer ser vista, olhada. A liturgia criou um recurso para isso: fez um
local mais elevado, chamado ambão, para que pudesse ser vista.
O leitor, portanto, não anuncia ou proclama a Palavra
de Deus de qualquer local da assembleia: do meio da assembleia, por exemplo, ou
sentado, escondido em algum banco da igreja. Ao contrário, o leitor colocase
diante de todos, lá na frente para que a Palavra que ele proclama possa ser
vista e ouvida.
Para que a Bíblia seja vista falando através da voz
do leitor, o comportamento litúrgico da assembleia, digamos assim, é estar com
os olhos voltados para a Bíblia que está conversando com a gente. Prestando
atenção naquilo que está dizendo. Seria falta de educação para com Palavra de
Deus que fala, abaixar os olhos e acompanhar a leitura em folhetos, livretes ou
mesmo bíblias, às vezes usadas em celebrações. A melhor postura litúrgica é
olhar e ouvir a Palavra.
Serginho
Valle
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Serviço de
Animação Litúrgica
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