Com o primeiro domingo do Advento, a Igreja inicia
um novo Ano Litúrgico! Durante as semanas que antecedem o Natal, a comunidade
de fé suplica: “Vem, Senhor Jesus”. Ela vive, assim, o anseio da chegada de seu
Senhor.
O Tempo do Advento celebra o “Deus da esperança”
(Rm 15,13) e vive a alegre expectativa escatológica de sua segunda vinda. É,
pois, um tempo marcado pela esperança!
Somos impulsionados pelas pequenas e grandes
esperanças! Elas nos permitem sonhar, planejar, projetar. O ser humano sem
expectativas e sem esperanças, vegeta!
É verdade que a modernidade, com suas inúmeras
conquistas e realizações, alimentou - e ainda alimenta - a esperança de muitos.
Há uma esperança latente de poder no seio da sociedade, por exemplo, de um dia
superar inclusive a morte. Será isso possível? Temos consciência de que o ser
humano pode muito, mas não pode tudo!
Sabemos que quem se orienta pela fé cristã coloca
sua esperança maior em Deus. Deus é nossa grande esperança! Somente Ele abraça
todo o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos
conseguir. Deus possui rosto humano. Ele nos ama! Onde Ele é amado, o Seu
reino se faz presente. Na correspondência ao Seu amor, o ser humano de todos os
tempos vislumbra a verdadeira vida.
O Tempo do Advento propõe a vigilância, a atenção,
o cuidado. Tais atitudes concedem a perspicácia sempre necessária para colher
os sinais da presença do Senhor e de seu Reino, já presente no seio da
comunidade de fé.
Lendo o Evangelho, nos damos conta de que Jesus de
Nazaré não ensina uma doutrina religiosa. Ele anuncia um acontecimento: “O
Reino de Deus já está no meio de vós” (Lc 17, 21). É este acontecimento que a
liturgia, sempre e de novo, a cada ano, celebra. Portanto, o Tempo do Advento
não é simples narração de fatos acontecidos em um passado mais ou menos
distante e que merecem ser recordados, mas celebração de um evento já
acontecido no tempo, porém ainda não plenamente atuado.
O Reino já presente em nós, e entre nós, não é de
outro mundo! Tem, sim, modo próprio de se expressar. A lógica do Reino de Deus
é distinta da lógica que orienta os reinos deste mundo. Estes se sustentam por
ambições, competições e combates com as armas da intimidação, do medo, da
prepotência e da manipulação das consciências e das massas. Aquele se sustenta
pela verdade buscada gratuita e humildemente. Os reinos deste mundo são muitas
vezes regidos por prepotências de todo tipo, rivalidades e opressão. O Reino de
Deus é um reino de justiça, de amor e de paz.
Estamos intimamente marcados pelo desejo de
harmonia e de paz. O tempo litúrgico do Advento resgata o sempre necessário
exercício da atenção e da vigilância, qual condição para atuação de tal desejo.
Assim, a esperança se mantém acesa e a expectativa do novo alimenta o empenho
em prol de uma realidade marcada pelos valores do Reino.
Quando, pois, durante o Tempo do Advento, cantamos
“Vem, Senhor Jesus”, resgatamos o lugar e a dignidade da vida cristã. O lugar
da vida cristã é a aquisição do Espírito Santo que recorda todas as coisas e as
faz novas; sua dignidade consiste em atuar, no hoje da história, os valores do
Reino já presente no meio de nós. A consciência do lugar e da dignidade da vida
cristã permite esperar contra toda esperança! Permite crer que os desafios
podem ser ultrapassados; as fragilidades, sanadas; o mal, vencido; as
contradições, superadas.
O mundo não entende o modo como o Reino de Deus já
presente entre nós se manifesta. Por isso, o Tempo de Advento traz consigo o
apelo por conversão. Conversão significa alterar o sentido, a direção. De fato,
nossa esperança não pode estar direcionada para aquilo que o ser humano, a
partir de si mesmo, propõe. O sentido de nossa esperança está orientado pela
realidade do Reino de Deus: justiça, direito, harmonia, paz... Por isso, não
cessamos de invocar: “Vem, Senhor Jesus”.
Dom Jaime
Spengler
Arcebispo de
Porto Alegre (RS)
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