A revista americana Newsweek publicou uma extensa
reportagem, na qual desmantelou uma série de falsidades do ex-coroinha Daniel
Gallagher, mais conhecido como “Billy Doe”, que terminou na injusta condenação
de três sacerdotes que foram presos e um professor da Arquidiocese da
Filadélfia (Estados Unidos), falsamente acusados de abusos sexuais cometidos
contra o menino. A seguir divulgamos a verdadeira história deste caso
revoltante.
Em 2011, Daniel Gallagher, na época com 22 anos,
conseguiu aparecer nas capas dos jornais dos Estados Unidos depois de afirmar
que teria sido violado repetidas vezes por dois sacerdotes e um professor
quando ainda estava na escola da paróquia de São Jerônimo, na Filadélfia.
Após seu testemunho, foram condenados os três
supostos agressores, assim como Mons. William Lynn, ex-vigário para o clero da
Arquidiocese da Filadélfia, declarado culpado por tais crimes de terceiros.
Esta foi a primeira vez na história na qual um administrador da Igreja Católica
havia sido condenado por este crime.
A denúncia civil apresentada contra a Arquidiocese
da Filadélfia, assim como contra seus supostos agressores (Pe. Charles
Engelhardt, o ex-sacerdote Edward Avery e o ex-professor de escola Bernard
Shero), fez com que “Billy Doe” recebesse uma indenização de aproximadamente 5
milhões de dólares em agosto de 2015, assinala Newsweek.
Avery e Shero foram encarcerados desde 2013, mas o
Pe. Engelhardt morreu na prisão em novembro de 2014, depois que lhe foi negada
uma operação de coração, a qual teria salvado a sua vida.
A denúncia apresentada por Gallagher remonta a
2009, quando em uma conversa com um assistente social da arquidiocese falou dos
supostos abusos dos quais havia sido vítima e disse que os responsáveis eram o
Pe. Engelhardt e o professor Shero.
Entretanto, até hoje, Gallagher apresentou pelo
menos nove versões diferentes deste acontecimento.
O caso na
revista Rolling Stone
A história de Billy Doe” chamou a atenção da
escritora da revista Rolling Stone, Sabrina Rubin Erdely. A repórter realizou
diversas acusações relatadas em um artigo chamado “The Catholic Church’s Secret
Sex-Creme Files” (Os arquivos dos crimes sexuais secretos da Igreja Católica,
de 2011), no qual qualificou Daniel Gallagher como um “doce e amável menino com
boa aparência juvenil”.
Entretanto, Erdely foi a mesma jornalista que anos
depois escreveu sobre “Jackie”, uma estudante da Universidade de Virginia, que
afirmava que havia sido estuprada por sete homens em uma festa de fraternidade.
Logo, foi declarado que a história de 2014, que havia sido divulgada pela mídia
durante algumas semanas, na verdade foi um engano de “Jackie”.
A revista Rolling Stone teve que se retratar e,
atualmente, enfrenta duas denúncias por difamação.
As
contradições
Os membros da ordem religiosa do Pe. Engelhardt, os
Oblatos de São Francisco de Sales, continuaram com a batalha a fim de desculpar
o seu irmão falecido. Deste modo, contrataram os serviços do psiquiatra forense
Stephen Mechanik a fim de que realizasse uma avaliação de Daniel Gallagher sob
ordem judicial.
No relatório de 40 páginas obtido pela revista
Newsweek, Mechanik apresentou os resultados das provas do MMPI-2 (Inventário de
Personalidade Multifásico de Minnesota), através do qual Gallagher admitiu ter
mentido e proporcionado “informação pouco confiável” acerca do caso.
Depois de uma revisão minuciosa do histórico
clínico de Gallagher obtido em 28 clínicas de reabilitação de drogas,
hospitais, médicos e conselheiros que visitou, o psiquiatra detalhou que o
rapaz, o qual acusou injustamente os sacerdotes, “nem sempre era honesto com
seus fornecedores de serviços médicos”.
Em 2007 e novamente em 2011, Gallagher disse que
era médico e surfista profissional e teve que abandonar o esporte devido ao seu
vício de drogas. Ainda afirmou ter sofrido uma hérnia em um disco da coluna.
Em seguida, Gallagher admitiu ante o Dr. Mechanik
que era mentira que era médico e também nunca foi surfista. Além disso,
Mechanik escreveu que os registros médicos “não indicam que o senhor Gallagher
tenha sido diagnosticado alguma vez com uma hérnia no disco da coluna”.
Embora isto possa ser considerado trivial,
Gallagher também proporcionou “informação contraditória e pouco confiável”
acerca da sua história de abuso sexual e dos detalhes dos supostos ataques dos
dois sacerdotes e do professor.
Com relação a este tema, Mechanik escreveu: “Não é
possível concluir com um grau razoável de certeza psiquiátrica ou psicológica
que o Sr. Gallagher foi abusado sexualmente quando era criança”, adicionou o
psiquiatra.
Mais provas
contra Billy Doe
Existem também outras razões para duvidar da
credibilidade de Daniel Gallagher muito antes de ser examinado por Mechanick. O
jovem de 27 anos consumia e traficava heroína. Foi expulso de dois colégios
durante o ensino médio, entrou e saiu de 23 centros de reabilitação de drogas
(em um período de 10 anos).
Foi preso seis vezes por tráfico de drogas e um
roubo menor, inclusive pela distribuição de 56 bolsas de heroína.
Mechanik não é a única pessoa cética a respeito de
Billy Doe e suas histórias. O detetive responsável pela investigação no
distrito da Filadélfia também tem uma série de dúvidas acerca destas denúncias.
Em uma declaração confidencial adquirida pelo
Newsweek, perguntaram ao detetive Joseph Walsh no dia 29 de janeiro de 2015 a
respeito das nove contradições importantes na história de Gallagher. Walsh
atestou que quando questionou a Daniel Gallagher a respeito das contradições, o
jovem permanecia sentado sem dizer nada ou afirmava que estava drogado nesse
momento... ou contava uma história diferente.
Além de seus “contos inverossímeis”, prossegue
Newsweek, existe um conjunto totalmente diferente de razões para acreditar que
Gallagher esteja mentindo de forma recorrente.
Mechanick utilizou informação da escola de “Billy
Doe” e seus registros médicos com o objetivo de refutar as inúmeras denúncias
de lesões físicas e psíquicas que realizou nos últimos anos.
Na Filadélfia, este caso continua sendo notícia,
mesmo três anos depois do julgamento original que condenou Mons. William Lynn.
No dia 22 de dezembro do ano passado, o Tribunal Superior do estado da
Pensilvânia anulou pela segunda vez a condenação contra o sacerdote e ordenou
um novo julgamento.
O juiz de primeira instância no caso, M. Teresa
Sarmina, abusou de sua discrição quando admitiu como prova contra o sacerdote
21 casos adicionais de abuso sexual que supostamente aconteceram em 1948, três
anos antes de o clérigo de 64 anos nascer.
Durante o funeral de Pe. Engelhardt, o superior
provincial dos Oblatos de São Francisco de Sales, Pe. James Greenfield, revelou
que, na véspera de seu julgamento, o sacerdote falecido poderia ter feito um
acordo para sair da prisão e realizar serviço comunitário. Mas, permaneceu na
prisão “pois não quis perjurar contra si mesmo ao declarar-se culpado” nem
“admitir um crime que não havia cometido”.
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ACI Digital
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