Há poucos dias em conversa com um amigo ele me
dizia: “Até hoje na minha vida o amor só foi sofrimento”. É um jovem adulto que
vive a experiência de não ser amado e compreendido em seus desejos e
sentimentos e com isso sente fortemente o desejo de amar, porém não encontra o
espaço que dê a segurança de um verdadeiro amor.
Essa situação acaba sendo um drama, que repercute
em dores físicas e psicológicas. A capacidade de amar se transforma em
sofrimento. Eu tenho a certeza que só abraçando a dor, amando a própria cruz é
que se passa da dor ao amor.
A dor, a cruz não é o fim e sim meio, passagem para
poder amar de verdade. Na medida em que se assume a perda, a ausência, a
incompreensão, a solidão, a traição, o desentendimento, enfim as contrariedades
doídas da vida, se passa imediatamente ao amor. Permanecendo na cruz nunca
haverá ressurreição.
Essa experiência de abandono, do amor sofrido,
recorda a própria experiência de Jesus que, na dor agonizante, suando sangue,
grita: “Meu Deus porque me abandonastes. Porém, não se faça a minha e sim a tua
vontade” (Mt 27,46). Não dá para fugir e muito menos fazer de conta. O mestre,
assume mesmo sem entender. O que lhe espera não é o “Hosana, o Bendito que vem
em nome do Senhor”, e sim o “crucifica-o”. Assume a dor doída até a morte.
Vence porque foi até o fim. “Só quem passa pelo fogo da dor chega ao incêndio
do amor”. Amor sem cruz nunca será amor. Em qualquer momento seremos
surpreendidos pela alegria ou pela tristeza, em qualquer desses momentos, o
importante é amar.
Nestes dias li que o Papa Francisco reza
seguidamente o testamento de sua vó, que realmente é uma oração forte e
poderosa. Tenho a certeza que esse é o caminho sem o qual a dor não passa e o
amor vira sofrimento. Assim está no testamento: “Que os meus netos, a quem dei
o melhor de mim mesma, tenham uma vida longa e feliz. Mas se um dia a dor, a
doença ou a perda de um ente querido os encher de aflição, que não se esqueçam
jamais que um suspiro diante do Tabernáculo, onde se guarda o maior e mais
venerável dos mártires, e um olhar a Maria ao pé da cruz, podem fazer cair uma
gota de bálsamo sobre as feridas mais profundas e dolorosas.” (Fragmento do
testamento da Vovó do Papa Francisco).
“Nem Deus resiste a um homem de joelhos”. Expressão
forte e profundamente verdadeira. Deus não precisa de nossos joelhos e muito
menos de nossas lágrimas, porém, a nossa condição fragilizada e mesquinha exige
buscar em Deus, a luz e se entregar de corpo e alma para passar da dor ao amor.
Recomeçar sempre sem olhar para trás, com os pés no
chão de nossa natureza humana, amada e resgatada para sempre, nos faz dignos de
amar e ser amados. O caminho é o amor, mesmo sabendo que ele é fruto da
perseverança no caminho da cruz. “Nada nos separará do amor de Cristo…nem a
morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente,
nem do futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer
outra criatura” (Rm 8,38-39). Senhor me ajude a passar da dor ao amor, abraçando
a minha cruz de cada dia. Eu sei que o amor dói, mas sem ele a vida não tem
sentido. Amém. Abençoada semana pra nós!
Dom Anuar
Battisti
Arcebispo de
Maringá
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CNBB /
Aleteia
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