A morte de Jesus não foi um acidente que aconteceu
no decorrer da história. São Pedro explica aos judeus, no dia de Pentecostes
que “Ele foi entregue segundo o desígnio determinado e a presciência de Deus”
(At 2,23). Já estava escrito que “Ele é o servo sofredor que se deixa levar
silencioso ao matadouro” como ovelha muda frente aos tosquiadores, e “carrega
sobre si o pecado das multidões” (Is 53,7.12), como o bode expiatório da antiga
lei que levava sobre si o pecado dos filhos de Israel.
Também não são apenas os que assistiram
passivamente ou realizaram a crucifixão de Jesus que são os culpados de sua
morte, mas todos os homens, de todos os tempos e épocas. Todos “os pecadores,
como tais, são os autores e como que os instrumentos de todos os sofrimentos
porque passou o Divino Redentor” (CIC 598). Todos nós, pecadores, somos
responsáveis pela morte do Senhor: “... és tu que com eles o crucificaste e
continuas a crucificá-lo, deleitando-te nos vícios e pecados” (São Francisco de
Assis).
Mas Jesus Cristo ofereceu livremente a sua vida ao
Pai para nos salvar: “Eis-me aqui... venho, ó Deus, para fazer a tua vontade”
(Rm 10). A paixão redentora de Jesus é a razão de ser de sua encarnação. Ele,
livremente, ofereceu sua vida, seu sangue, em resgate de muitos: “Ninguém tira
a minha vida, mas por mim mesmo, eu dela me despojo... este é o mandamento que
recebi de meu Pai” (Jo 18,11), e antes que tudo fosse consumado (Jo 19,30), ele
ainda tinha sede (Jo 19,28), sede de salvar, resgatar, amar...
Todos os homens pecaram e por isso estavam privados
da glória de Deus (Rm 3,23). Era preciso que esta comunhão perdida fosse
restabelecida com Deus. Mas o homem era incapaz disso. O salário do pecado é a
morte (Rm 6,23), a natureza do homem pecadora, logo, ele não pode salvar-se a
si mesmo.
Mas Deus não abandonou o homem e prometeu um
salvador que destruiria a serpente (satanás) e o pecado (Gn 3,15; 2Cor 5,21;
1Pd 2,24).
Jesus é o salvador prometido pelo Pai. Só ele é a
salvação. Seu nome significa sua missão – Deus salva (Mt 1,21; At 4,12). Jesus
abraçou com amor e ardor a vontade do Pai que “quer que todos os homens se
salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).
A cruz é a expressão máxima e mais profunda do amor
de Jesus ao Pai e aos homens. Amemo-la com ardor! Carreguemo-la, cada dia,
tropeçando até o nosso próprio gólgota! Deixemo-nos ser com ele crucificados,
afim de que, com ele, ressuscitemos ao terceiro dia!
Eis o
cordeiro de Deus
João Batista poderia ter apresentado Jesus com um
título mais glorioso como ‘o desejado das nações’, ‘o príncipe da paz’, ‘o
messias’, ‘o leão da tribo de Judá’, mas preferiu gritar aos seus discípulos
“Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).
O anjo já havia dito a José: “Ele salvará o seu
povo dos seus pecados” (Mt 1,21). João, cheio do Espírito Santo desde o seio
materno, sabia quem era Jesus e qual era a sua missão.
O cordeiro do AT era uma vítima pura que era
oferecida a Deus em expiação pelos pecados dos filhos de Israel. Uma vez ao
ano, o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos e ali oferecia diante da Arca
da Aliança (símbolo da presença de Deus) o sacrifício pelos pecados (Ex
25,23.30; 30,10). O altar e os objetos eram aspergidos com o sangue da vítima;
logo após a assembleia era aspergida e seus pecados ficavam encobertos (Sl 31).
Jesus é cordeiro da Nova Aliança que se oferece ao
Pai para salvar-nos da escravidão do pecado. Ele mesmo é o sumo sacerdote que
oferece o holocausto; ele mesmo é a vítima oferecida e ele mesmo é o altar do
sacrifício (=lugar do encontro com Deus. A santíssima humanidade de Jesus é o
ponto de encontro da miséria com a misericórdia).
“Este sacrifício de Cristo é único. Ele realiza e
supera todos os sacrifícios” (CIC 614).
A última
ceia: antecipação de sua oferta na cruz
A última ceia, a qual Jesus desejou ardentemente
comer com os discípulos, é uma antecipação de sua oferta na cruz. Na ceia,
Jesus realiza na alma o que vai fazer de forma física na sexta feira santa.
Aqui nos mostra que a expiação não consiste no sofrimento físico, esse foi só o
caminho. A expiação está na obediência de Jesus, na sua entrega total ao Pai e,
ao mesmo tempo, aos homens. “Jesus fez desta última ceia com os apóstolos, o
memorial de sua oferta voluntária ao Pai pela salvação dos homens: isto é meu
corpo que é dado por vós (Lc 22,19); isto é o meu sangue, o sangue da aliança,
que é derramado por muitos para a remissão dos pecados” (Mt 26,28).
Ele entrega, por amor extremado, seu corpo e sangue
em sacrifício de obediência até a morte de cruz pela salvação dos pecadores.
Aqui começa sua paixão interior.
A agonia
mortal no Getsêmani
Estamos no primeiro mistério doloroso do santo
rosário. Contemplamos um jovem sacerdote num jardim a orar na solidão enquanto
seus amigos dormem. Este jovem treme e agoniza diante da sua primeira missa que
está para celebrar. Entra em agonia profunda: “Pai, se for possível, afasta de
mim este cálice...” (Mt 26,39). Pensamos, talvez, que Jesus estivesse pedindo
ao Pai que o livre da morte, mas houve santos que morreram sorrindo, zombando
dos algozes ou dando glória a Deus (At 7 = Estêvão). Ora, o discípulo não é
maior que o Mestre (Jo 13,16). Então o que Jesus temia? Não a morte, mas sua
agonia era por causa dos nossos pecados que o esmagavam; ele era moído
interiormente pelas nossas maldições e culpas. O castigo que nos salva pesou
sobre ele e por suas chagas fomos curados (Is 53,4-5). O santo de Deus assumiu
os nossos pecados: “aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por
nós” (1Cor 5,21).
Deus é santíssimo, não pode aceitar o pecado. Jesus
se fez pecado, por isso foi privado da glória de Deus (Rm 3,23). Jesus sofreu a
pena do inferno: a separação de Deus. O inferno que eu mereci, Jesus sofreu no
meu lugar.
O Pai também sofre uma paixão misteriosa. É como a
paixão silenciosa de Abraão que iria sacrificar seu filho único em Moriá (Gn
22).
Jesus ora para se adequar à vontade do Pai. Recebeu
o cálice das mãos do Pai e agora vai tomá-lo até as últimas conseqüências:
“Faça-se, contudo, a tua vontade” (Mt 26,39).
Por nosso
amor pregado na cruz
Estamos contemplando o 5º mistério doloroso do
santo rosário. Jesus subiu o monte calvário carregando a sua cruz, ou melhor, a
nossa carga, nossos pecados. Foi despido de suas vestes e, logo após, pregado
na cruz. Ele mesmo disse que teria que assumir a cruz, sofrer e morrer para
ressuscitar no terceiro dia em cumprimento das “coisas” de seu Pai (Mc 8,31-32;
Lc 2,49).
Enfim chegou a hora a que ele sempre se referia (Jo
2,4; 12,23.27; 13,1; 17,1), a hora das trevas, mas da qual brotará secretamente
o perdão de todos os pecados. Como vimos atrás, nenhum homem tinha condições de
salvar-se. O próprio Pai proveu o cordeiro para salvar os homens de seus
pecados. Nosso Senhor, que não pecou, Deus o fez pecado por nós, afim de que
nós nos tornássemos justiça de Deus. Quando ele se fez pecado e morreu na cruz,
o pecado morreu com ele, na sua santíssima carne. Sua obediência até a morte de
cruz (Fl 2,8) substituiu a nossa desobediência. Por sua obediência total
realizou a sua missão expiadora (Is 53,10). A desobediência de um só homem (o
antigo Adão) encerrou a todos no pecado e na morte (Rm 5,19); a obediência de
um só homem (Jesus=novo Adão) nos fez participantes da glória de Deus.
Estamos diante da primeira e mais terrível festa do
corpo de Deus. Jesus é crucificado. É a primeira missa da humanidade e a única
do cristianismo. Jesus é sacerdote, altar e vítima. Sua Mãe, Maria Madalena e o
discípulo amado, são os únicos que vivem na alma esse sacrossanto mistério. O
céu se enegrece, ao lado duas velas (os dois ladrões) e uma se apaga... tudo
parece estar perdido...
Se perguntássemos, como os israelitas no deserto,
na manhã que encontram o chão coberto de maná: “Man hu?” (O que é isto?),
certamente teríamos a mesma resposta de Deus: “Este é o pão que o Senhor vos
manda para comerdes” (Ex 16,15). É o único pão que produz vida divina, é a
maldição que se tornou bênção (Gl 3,13-14). É a nova árvore da vida (Ap 2,7). A
fonte da própria vida, o bálsamo para as feridas (Jr 8,22). É o pão vindo do
céu para dar vida ao mundo (Jo 6).
Ao morrer, Jesus põe nas mãos dos homens o seu
sangue e seu perdão. Ele nos abriu o caminho de volta para o céu.
O véu do templo rasgou-se de alto a baixo e por
isso fomos introduzidos com ele no Santo dos Santos, na presença de Deus, no
céu (Lc 23,44-46; Ef 2,4-6).
“Consumatum est” (Jo 19,30). Está selada com sangue
a nova aliança. E agora, com o sangue do Filho de Deus nascido de Maria. Está
realizada a salvação do gênero humano prometida aos nossos pais (Gn 3,15).
Agora somos o povo de Deus e ele, nosso Deus (Ez 36,26ss).
No encontro da miséria humana com a misericórdia de
Deus na santíssima humanidade de Jesus, acontece a nossa salvação. Com a morte
de Jesus morreu todo o pecado e suas consequências. Ao se fazer pecado e morrer
na cruz, morre também, com Jesus, todo o pecado:
- com sua resistência pacífica, morreu a violência;
- com seu perdão, morreu o ódio e a mágoa;
- com sua confiança total, morreu o egoísmo;
- com seu “sim”, são apagados todos os “nãos” da
humanidade.
Na sua cruz morreu tudo o que nos privava da vida
de filhos de Deus e, pelo seu sangue, fomos resgatados, lavados e purificados.
Ele suportou o castigo que nos traz a paz e por suas chagas fomos curados.
Jesus não só nos lava dos nossos pecados, mas dá o Espírito Santo que nos faz
renascer para uma nova esperança. Do seu lado aberto pela lança jorrou sangue e
água (Espírito Santo). O sangue nos purifica (1Jo 1,7) e o Espírito Santo enche
as nossas vidas, fazendo-nos renascer (Rm 8,1-2.11) e tomar posse das bênçãos
conquistadas na cruz para nós. O Espírito Santo restaura em nós a dignidade de
filhos de Deus e nos capacita a viver cada dia essa filiação divina (Rm
8,14-17).
Quem ama sangra
Ele olhou ao redor da montanha e previu uma cena.
Três corpos pendurados em três cruzes.
Braços estendidos.
Cabeças inclinadas para frente.
Eles gemiam por causa do vento.
Homens fardados estavam sentados no chão, perto dos três.
Homens com roupas de religiosos se afastaram para o lado...
arrogantes, convencidos.
Mulheres envolvidas em sofrimento estão reunidas ao pé da
montanha... rostos marcados pelas lágrimas. Todo o céu se levantou para lutar.
Toda a natureza se ergueu para o resgate.
Toda a eternidade posicionou-se para dar proteção.
Mas o Criador não deu ordem alguma. “Isso deve ser feito...”,
disse, e retirou-se. O anjo disse outra vez: "Seria menos doloroso se...”
O Criador o interrompeu brandamente:
“Mas não seria amor...”
- Autor desconhecido.
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