O jornal oficial do Vaticano, L’Osservatore Romano,
se pronunciou sobre o triunfo do filme Spotlight na premiação do Oscar e a
mensagem que um de seus produtores dirigiu ao Papa Francisco ao receber o
prêmio por melhor filme do ano.
“Este filme deu voz aos sobreviventes. E este Oscar
amplifica essa voz, a qual esperamos que se converta em um coro que chegue até
o Vaticano. Papa Francisco, é hora de proteger as crianças e restabelecer a
fé”, disse o produtor Michael Sugar ao receber o prêmio.
O filme Spotlight trata sobre a investigação
jornalística que revelou o escândalo de abusos sexuais na Arquidiocese de
Boston, Estados Unidos, em 2002. Além do Oscar de melhor filme, ganhou o prêmio
de melhor roteiro original.
Em um artigo assinado por Lucetta Scaraffia, LOR
explica que o filme Spotlight não ataca à fé católica e inclusive considera
como um sinal positivo que seus produtores confiem na gestão do Papa Francisco
acerca deste tema delicado.
Spotlight “não é anticatólico como escreveram, pois
expressa a comoção e a profunda dor que os fiéis enfrentam ao descobrir estas
realidades terríveis”, indica Scaraffia.
Entretanto, esclarece que a narrativa do filme “não
aprofunda na longa e perseverante batalha que Joseph Ratzinger, como Prefeito
da Congregação para a Doutrina da Fé e como Papa, empreendeu contra a pedofilia
na Igreja”.
Scaraffia admite que “um filme não pode contar
tudo” e “as dificuldades que Ratzinger enfrentou somente confirmam o tema do
filme, que é que com muita frequência as instituições eclesiásticas não
souberam reagir com a determinação necessária para enfrentar estes crimes”.
A autora recorda que “as crianças são seres
vulneráveis e, portanto, principais vítimas de abusos, inclusive nas famílias,
círculos esportivos e escolas seculares. Nem todos os monstros usam batinas. A
pedofilia não necessariamente surge do voto de castidade”.
“Entretanto, ficou claro que na Igreja alguns estão
mais preocupados com a imagem da instituição do que com a gravidade dos fatos”,
acrescentou.
Em seguida, Scaraffia precisa que “isto não pode
justificar a gravíssima culpa dos que, enquanto eram vistos como representantes
de Deus, usaram sua autoridade e prestígio para explorar os inocentes”.
A autora destaca o valor do filme ao contar estes
detalhes e dar espaço “à devastação interior que estes atos geram nas vítimas,
que já não têm um Deus a quem pedir ajuda”.
Sinal
positivo
Para a autora, o chamado do produtor Sugar ao Papa
na cerimônia do Oscar “deve ser visto como um sinal positivo: ainda há
confiança na instituição, há confiança em um Papa que continua a limpeza
iniciada por seu predecessor, que então ainda era cardeal. Ainda há confiança
na fé que tem como centro a defesa das vítimas e a proteção dos inocentes”.
Em outro artigo publicado pelo LOR e assinado por
Emilio Ranzato, destaca-se que Spotlight “não é um filme anticatólico, pois não
se refere em si ao catolicismo, mas é provável que seja visto como um filme
contra a Igreja porque seu tom normalmente tende a generalizar e generalizações
são inevitáveis quando contam histórias em apenas duas horas”.
Segundo Ranzato, “é um filme que indiscutivelmente
tem o valor de reportar os casos que, sem dúvida, devem ser condenados. E o faz
em detalhe, sobre a base de uma documentação substancialmente séria e crível”.
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ACI Digital
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