Observe estas declarações:
“Eu sou contrária à ideologia feminista do
presente, que é doente, indiscriminada e neurótica. E, mais do que tudo, não
permite à mulher ser feliz”;
“As mulheres precisam se responsabilizar por suas
vidas e parar de culpar os homens por seus problemas, que têm mais a ver com
questões e estruturas sociais, e não são fruto de uma conspiração masculina”;
“ O feminismo cometeu um grande erro ao
difamar a maternidade”;
“Eu estou muito preocupada com essa tendência
cirúrgica para mudança do corpo. Isso está por toda parte nos EUA. Dizem que a
criança nasceu no corpo errado e já começam com hormônios até chegar à
intervenção cirúrgica”;
“ Eu apoio a união civil, mas nunca apoiei o
casamento gay, por exemplo. Não acho que o governo deve se envolver em
casamento, um termo circunscrito à Igreja”;
Um desavisado pode associar de primeira as
declarações a alguma pessoa com o rótulo de conservador, uma pessoa retrógrada,
um religioso medieval. Mas nada disso. Estas e outras declarações permeadas de
sensatez foram ditas por Camile Paglia, feminista engajada na causa desde a
década de 60, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo.
Relação
homem – mulher
“As mulheres querem que os homens se comuniquem
como elas [...] Eu vejo grande infelicidade entre mulheres profissionais
porque elas querem que suas vidas amorosas tenham a comunicação maravilhosa que
elas têm com outras mulheres. A mulher profissional casa com o homem
profissional e espera que, ao chegar em casa de noite, ele se comunique com ela
como suas amigas ou seus amigos gays. E os homens heterossexuais jamais serão
capazes na arte da análise emocional. Não dá para cobrar perfeição dos homens,
como se estivéssemos no escritório”.
Crise de
masculinidade
Tenho me preocupado muito com a epidemia do
jihadismo no mundo, que é um chamado da masculinidade e está atraindo jovens
homens do mundo inteiro. É uma ideia de que ali, finalmente, homens podem ser
homens e ter aventuras como homens costumavam ter.
A ideologia do jihad emerge numa era de vácuo da
masculinidade, graças ao sucesso do mundo das carreiras. O Estado Islâmico, por
exemplo, usa vídeos para projetar esse romance, esse sonho de que os jovens
podem abandonar suas casas, integrar a irmandade e se lançar numa aventura
masculina por meses, na qual correm risco de morte. Antes, havia muitas
oportunidades de aventuras para homens jovens. Hoje, suas vidas são como as de
prisioneiros: presos nos escritórios, sem oportunidade para ação física e
aventura.
Maternidade
Gloria Steinem é responsável por isso. Ela e seus
problemas psicológicos. Ela teve uma infância terrível. Seu pai era negligente,
abandonou a mãe, a mãe teve problemas psiquiátricos.
Steinem, então, mantinha aquele sorriso como se
tivesse a resposta para tudo. E ela dizia: a mulher pode ter tudo. E dizia
também: uma mulher precisa de um homem tanto quando um peixe de uma bicicleta.
Mas em todas as festas que ela frequentava em Nova York ela tinha um homem nos
braços.
Ela pregava que a mulher cuidasse de sua carreira e
deixasse a maternidade para mais tarde. Só a completa ignorância da biologia
permitiu isso, porque sabemos que a fertilidade feminina é maior quanto mais
nova ela é, e que a gravidez é mais segura antes dos 35 anos. E há gerações
inteiras de mulheres que foram convencidas de mentiras. O que eu digo é que a
verdade sobre a biologia precisa ser dita para as meninas cedo.
Transgêneros
Vou dizer algo controverso, mas real: eu me
identifico como transgênero. Quando era mais nova, esse termo não existia. Mas
estava muito claro que eu era muito inibida em relação ao meu gênero biológico
desde sempre. Eu demonstrava isso, ainda criança, no Halloween. Eu sempre
escolhia um personagem masculino. Fui um soldado romano, fui Napoleão, fui
Hamlet… E nenhuma menina se fantasiava assim. Eu me sentia alienada em ser uma
menina.
Eu estou muito preocupada com essa tendência
cirúrgica para mudança do corpo. Isso está por toda parte nos EUA. Dizem que a
criança nasceu no corpo errado e já começam com hormônios até chegar à
intervenção cirúrgica. Se essa ideia estivesse no ar quando eu era jovem, eu
teria me tornado obcecada com isso. Eu teria sido convencida de que essa seria
a resposta para todos os meus problemas com a sociedade contemporânea e sua
rigidez sexual. E eu teria cometido um engano terrível.
Cirurgia de
mudança de sexo
Transformar o corpo cirurgicamente é uma ilusão. Há
um número muito pequeno de pessoas realmente intersexuais. É uma anormalidade
congênita. A maioria dos casos não é assim. Intervir no corpo, removendo o
pênis ou os seios, é uma ilusão porque todas as células do seu corpo permanecem
sendo o que elas sempre foram. Simplesmente não é verdade que você mudou de
gênero.
Eu acredito que é preciso respeitar o desejo das
pessoas de transformar seus corpos, seja por motivos cosméticos, médicos ou de
gênero. Cada um tem poder sobre o próprio corpo e eu sou uma libertária neste
sentido. Por outro lado, ninguém vai me convencer de que a Chaz Bono, a filha
transgênero da atriz Cher, é um homem. Ele precisa tomar uma injeção de
hormônios todos os dias para ser o que é, um transgênero, nunca um homem. Cada
célula daquele corpo é uma célula feminina.
As pessoas que olham para esse debate e pensam que
estamos caminhando para um futuro progressista estão enganadas. Nós vivemos em
um período em que os gêneros são fluidos e ninguém se identifica com os papeis
de cada um dos gêneros no passado. Mas a ideia de que isso é um sintoma de
saúde social está errada. É o caos.
Estamos numa fase tardia da cultura, como ocorreu
com outras civilizações, em que as definições dos sexos começam a se borrar e a
se dissolver e surgem todos os tipos de androginia e de brincadeiras com trocas
de papéis entre feminino e masculino. Eu adoro tudo isso, mas acho que não pode
ser confundido com um sintoma de saúde e de progresso. Sinto muito. É um
sintoma de declínio histórico da nossa cultura. E deveríamos nos preocupar porque
isso indica ansiedade e algo errado.
Eu não noto, a propósito, nenhum avanço no campo
das artes. Ninguém está em um período especialmente fértil. Pelo contrário,
todos estão obcecados consigo próprios. O ego se tornou um trabalho artístico.
As pessoas têm dez conceitos diferentes sobre o que elas são. Acho que a
obsessão com gênero e com orientação sexual se tornou uma doença.
Eu sou ateia, mas acredito no poder da religião e
de sua visão do universo. Vivemos essa transição da perspectiva religiosa para
essa horrível perspectiva centrada no indivíduo, com o apoio da mídia. Isso não
são os anos 60, quando se pregou o poder do indivíduo contra a autoridade, mas
a destruição dessa ideia cósmica do lugar de cada um no universo. E isso tudo
convergiu para a obsessão por gênero e orientação sexual. Isso virou uma
loucura. É o novo narcisismo.
Casamento
gay
Eu apoio a união civil, mas nunca apoiei o
casamento gay, por exemplo. Não acho que o governo deve se envolver em
casamento, um termo circunscrito à Igreja. Perante a lei, deve haver igualdade
de gêneros e orientações sexuais. Mas deve haver mais respeito por religião. Se
você quer se casar, vá a uma igreja que aceite casá-lo. Mas a insistência de
que o governo deve intervir neste sentido é muito juvenil.
Marcha das
Vadias Femen e côngeneres
essas meninas são totalmente incoerentes
ideologicamente. Femen não faz o menor sentido, é algo fabricado que não tem
nenhum sentido político. Uma mulher bonita, com belos seios e palavras
desenhadas pelo corpo deveria estar apoiando a indústria do sexo, a
prostituição e a pornografia, e não protestando contra a indústria do sexo. É
ridículo e demonstra o nível de insanidade do feminismo radical atual.
Como você vai expor seu corpo para protestar contra
a indústria do sexo se o que você está fazendo é gerar excitação sexual? É
maluco. Eu mostrei para meus alunos o vídeo em que uma maluca do Femen agarrou
o menino Jesus no presépio do Vaticano e a polícia a agarrou e ela ficou
gritando (risos). Achei tudo muito divertido, mas fiquei com pena dos fiéis que
estavam lá porque aquilo é profanação para eles.
A Marcha das Vadias é outra incoerência das meninas
burguesas e universitárias de hoje. Fui uma das feministas que levantou a
bandeira pró-sexo nos anos 90, mas essas manifestações estão equivocadas.
Madonna expunha seu corpo ao mesmo tempo em que assumia a responsabilidade de
se defender. Você tem o direito de se vestir como Madonna nas ruas às 3h da
manhã e faz parte do comportamento da mulher liberada fazer isso. Só que essa
mulher tem que saber se defender.
Se você vai provocar e usar roupas para demonstrar
que está disponível sexualmente, porque é isso o que você está fazendo. Está
dizendo: sou uma mulher que gosta de sexo e estou pronta para receber ofertas.
Mesmo que as mulheres demandem o controle masculino, sempre vai haver um
psicótico ou um criminoso que será impossível controlar. Não dá pra pedir para
a sociedade a proteger o tempo todo. Se você é uma mulher livre, você tem que
aceitar que, toda vez que se vestir de modo convidativo, está enviando uma mensagem
e tem de se defender se for necessário.
E é claro que ninguém tem o direito de fazer nada
com você, mas só uma idiota acha que vai para as ruas de vestimentas
provocativas sem correr o risco de ser atacada, culpando o Estado por isso.
Mais sobre a entrevista, aqui.
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ANCORADOURO
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