Cristo
padeceu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos.
Jesus cai de novo sob o peso da Cruz. Sobre o
madeiro da nossa salvação pesam não só as enfermidades da natureza humana, mas
também as adversidades da vida. Jesus carregou o peso da perseguição contra a
Igreja de ontem e de hoje, a perseguição que mata os cristãos em nome de um
deus alheio ao amor e a que mina a sua dignidade com «lábios mentirosos e
palavras arrogantes». Jesus carregou o peso da perseguição contra Pedro, aquela
contra a voz clara da «verdade que interpela e liberta o coração». Jesus, com a
sua Cruz, carregou o peso da perseguição contra o seus servos e discípulos,
contra aqueles que respondem ao ódio com o amor, à violência com a mansidão.
Com a sua Cruz, Jesus carregou o peso daquele exagerado «amor de nós mesmos que
chega ao desprezo de Deus» e espezinha o irmão. Tudo carregou voluntariamente,
tudo sofreu «com a sua paciência, para dar uma lição à nossa paciência».
“Eu sou o homem que conheceu a miséria sob
a vara do seu furor”.
A
tradição da tríplice queda de Jesus sob o peso da cruz recorda a queda de Adão
– o ser humano caído que somos nós – e o mistério da associação de Jesus à
nossa queda. Na história, a queda do homem assume sempre novas formas. Na sua
primeira carta, S. João fala duma tríplice queda do homem: a concupiscência da
carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Assim interpreta ele a
queda do homem e da humanidade, no horizonte dos vícios do seu tempo com todos
os seus excessos e depravações. Mas, olhando a história mais recente, podemos
também pensar como a cristandade, cansada da fé, abandonou o Senhor: as grandes
ideologias, com a banalização do homem que já não crê em nada e se deixa
simplesmente ir à deriva, construíram um novo paganismo, um paganismo pior que
o antigo, o qual, desejoso de marginalizar definitivamente Deus, acabou por
perder o homem. Eis o homem que jaz no pó. O Senhor carrega este peso e cai…
Cai para poder chegar até nós; Ele olha-nos para que em nós volte a palpitar o
coração; cai para nos levantar.
Senhor Jesus
Cristo, carregastes o nosso peso e continuais a carregar-nos. É o nosso peso
que Vos faz cair. Mas sois Vós a levantar-nos, porque, sozinhos, não
conseguimos levantar-nos do pó. Livrai-nos do poder da concupiscência. Em vez
do coração de pedra, dai-nos novamente um coração de carne, um coração capaz de
ver. Destruí o poder das ideologias, para os homens poderem reconhecer que
estão permeadas de mentiras. Não permitais que o muro do materialismo se torne
intransponível. Fazei que Vos ouçamos de novo. Tornai-nos sóbrios e vigilantes
para podermos resistir às forças do mal, e ajudai-nos a reconhecer as
necessidades interiores e exteriores dos outros, e a socorrê-las. Erguei-nos,
para podermos levantar os outros. Concedei-nos esperança no meio de toda esta
escuridão, para podermos ser portadores de esperança no mundo.
Já fora da muralha, o corpo de Jesus volta a
abater-se por causa da fraqueza, caindo pela segunda vez, entre a gritaria da
multidão e os empurrões dos soldados.
A debilidade do corpo e a amargura da alma fizeram
com que Jesus caísse novamente. Todos os pecados dos homens - os meus também -
pesam sobre a Sua Humanidade Santíssima.
Foi Ele quem tomou sobre Si as nossas enfermidades
e carregou com as nossas dores; e nós tivémo-Lo por castigado, ferido por Deus
e humilhado. Mas foi trespassado pelas nossas iniquidades e torturado pelos
nossos pecados; o castigo que nos devia trazer a paz caiu sobre Ele, e nós
fomos curados nas Suas chagas (Is LIII, 4-5).
Desfalece Jesus, mas a Sua queda levanta-nos, a Sua
morte ressuscita-nos.
À nossa reincidência no mal, corresponde Jesus com
a Sua insistência em redimir-nos, com abundância de perdão. E, para que ninguém
desespere, volta a levantar-Se fatigadamente abraçado à Cruz.
Que os tropeços e derrotas não nos afastem, nunca
mais, d'Ele. Como a criança débil se lança compungida nos braços vigorosos do
seu pai, tu e eu agarrar-nos-emos ao jugo de Jesus. Só essa contrição e essa
humildade transformarão a nossa fraqueza humana em fortaleza divina.
Cai Jesus
sob o peso do madeiro...
Nós, pela atração das coisas da terra.
Prefere vir-se abaixo a largar a Cruz. Assim sana
Cristo o desamor que nos derruba.
Esse
desalento, porquê? Pelas tuas misérias? Pelas tuas derrotas, às vezes
contínuas? Por uma queda grande, grande, que não esperavas?
Sê simples. Abre o coração. Olha que não está tudo
perdido. Ainda podes continuar, e com mais amor, com mais carinho, com mais
fortaleza.
Refugia-te na filiação divina: Deus é teu Pai
amantíssimo. Esta é a tua segurança, o ancoradouro onde lançar a âncora,
aconteça o que acontecer na superfície deste mar da vida. E encontrarás
alegria, força, optimismo, vitória!
Disseste-me:
- Padre, estou a passar um mau bocado.
E respondi-te ao ouvido: leva sobre os teus ombros
uma partezinha dessa cruz, só uma parte pequena. E, se nem sequer assim
aguentares com ela, ... deixa-a toda inteira sobre os ombros fortes de Cristo.
E a partir de agora, repete comigo: Senhor, meu Deus: nas Tuas mãos abandono o
passado e o presente e o futuro, o pequeno e o grande, o pouco e o muito, o
temporal e o eterno.
E fica tranquilo.
Nalgumas
ocasiões perguntei a mim mesmo qual seria o martírio maior
O de quem recebe a morte pela fé, às mãos dos
inimigos de Deus; ou o de quem gasta os seus anos trabalhando, sem outra
intenção que servir a Igreja e as almas, e envelhece sorrindo e passa
inadvertido...
Para mim, o martírio sem espetáculo é mais
heróico... Esse é o teu caminho.
Para seguir
o Senhor, para intimar com Ele, temos de nos espezinhar pela humildade, como se
pisam as uvas no lagar.
Se calcamos a nossa miséria - que isso somos -,
então Ele instala-se à vontade na alma. Como em Betânia, fala-nos e
falamos-Lhe, em conversa confiada de amigo.
Oh! meu Bom
Jesus, pelo mérito da Vossa Dolorosa Paixão quando novamente caístes e pelos
merecimentos de Vossa Mãe Santíssima e das almas reparadoras, peço-Vos a
conversão dos pecadores, a salvação dos moribundos e o alívio das Almas do
Purgatório.
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