“Um dos
soldados traspassou-Lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água”.
A perfuração do peito de Jesus, de ferida tornou-se
fresta, porta aberta para o coração de Deus. Aqui o seu amor infinito por nós
deixa-se tomar como água que vivifica e bebida que invisivelmente sacia e faz
renascer. Também nós nos aproximamos do corpo de Jesus descido da Cruz e sustentado
pelos braços da Mãe. Aproximamo-nos «não caminhando, mas crendo, não com os
passos do corpo, mas com a livre decisão do coração». Neste corpo inanimado,
reconhecemo-nos como seus membros feridos e sofredores, mas guardados pelo
abraço amoroso da Mãe. Mas reconhecemo-nos também nestes braços maternos,
simultaneamente fortes e ternos. Os braços abertos da Igreja-Mãe lembram o
altar que nos oferece o Corpo de Cristo e aí, nós, tornamo-nos Corpo místico de
Cristo.
Ao nascermos vamos para o colo de nossa mãe, e
quanto bem faz um colo cheio de amor. Quantas vezes desejamos um colo, um lugar
onde podemos “morrer” as nossas angustias e dores, frustrações e decepções. Em
todos esses momentos a minha fé me empurra para o colo de Maria, nossa mãe. E
ela enxuga nossas feridas e coloca azeite, unção nas dores de nossas almas.
Como é bom deitar no colo de uma mãe: A vossa proteção recorremos santa mãe de
Deus, não desprezeis as nossas suplica em nossas necessidades, mais livrai-nos
sempre de todos os perigos ó Virgem gloriosa e bendita.
«Ele era,
na verdade, Filho de Deus».
Jesus morreu, o seu coração é trespassado pela
lança do soldado romano e dele brotam sangue e água: misteriosa imagem do rio
dos sacramentos, do Batismo e da Eucaristia, dos quais, em virtude do coração
trespassado do Senhor, renasce incessantemente a Igreja. E não Lhe são
quebradas as pernas, como aos outros dois crucificados; deste modo Ele aparece
como o verdadeiro cordeiro pascal, ao qual nenhum osso deve ser quebrado (cf.
Ex 12, 46). E agora que tudo suportou, vemos que Ele, apesar de toda a confusão
dos corações, apesar do poder do ódio e da cobardia, não ficou sozinho. Os
fiéis existem. Junto da cruz, estavam Maria, sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria,
Maria de Magdala e o discípulo que Ele amava. Agora chega também um homem rico,
José de Arimatéia: o rico encontra modo de passar pela buraco de uma agulha,
porque Deus lhe dá a graça. Sepulta Jesus no seu túmulo ainda intacto, num
jardim: o cemitério onde fica sepultado Jesus transforma-se em jardim, no
jardim donde fora expulso Adão quando se separara da plenitude da vida, do seu
Criador. O túmulo no jardim faz-nos saber que o domínio da morte está para
terminar. E chega também um membro do Sinédrio, Nicodemos, a quem Jesus tinha
anunciado o mistério do renascimento pela água e pelo Espírito. Até no Sinédrio,
que tinha decidido a sua morte, há alguém que acredita que conhece e reconhece
Jesus após a sua morte. Sobre a hora do grande luto, da grande escuridão e do
desespero, aparece misteriosamente a luz da esperança. O Deus escondido
permanece em todo o caso o Deus vivo e próximo. O Senhor morto permanece em
todo o caso o Senhor e nosso Salvador, mesmo na noite da morte. A Igreja de
Jesus Cristo, a sua nova família, começa a formar-se.
Senhor
descestes à escuridão da morte. Mas o vosso corpo é recolhido por mãos bondosas
e envolvido num cândido lençol (Mt 27, 59). A fé não está completamente morta,
não se pôs totalmente o sol. Quantas vezes parece que Vós estais a dormir. Como
é fácil a nós, homens afastar-nos dizendo para nós mesmos: Deus morreu.
Fazei com que, na hora da escuridão, reconheçamos que em todo o caso Vós estais
lá. Não nos deixeis sozinhos quando tendemos a desanimar. Ajudai-nos a não
deixar-Vos sozinho. Daí-nos uma fidelidade que resista no desânimo e um amor
que Vos acolha no momento mais extremo da vossa necessidade, como a vossa Mãe,
que Vos abraçou de novo no seu regaço. Ajudai-nos, ajudai os pobres e os ricos,
os simples e os sábios, a ver através dos seus medos e preconceitos e a
oferecer-Vos a nossa capacidade, o nosso coração, o nosso tempo, preparando
assim o jardim no qual possa dar-se a ressurreição.
Mergulhada na dor, Maria está junto da Cruz. E
João, com Ela. Mas faz-se tarde, e os judeus insistem para que se tire o Senhor
dali.
Depois de ter obtido de Pilatos a licença que a lei
romana exige para sepultar os condenados, chega ao Calvário um senador chamado
José, varão bom e justo, oriundo de Arimateia. Ele não tinha concordado com a
condenação nem com a execução; ao contrário, era dos que esperavam o reino de
Deus (Lc XXIII, 50-51). Com ele vem também Nicodemos, o mesmo que anteriormente
tinha ido de noite encontrar-se com Jesus, trazendo uma mistura de mirra e
aloés, de quase cem libras (Jo XIX, 39).
Não eram conhecidos, publicamente, como discípulos
do Mestre; não se encontravam nos grandes milagres nem O acompanharam na Sua
entrada triunfal, em Jerusalém. Agora, no momento mau, quando os outros fogem,
não temem comprometer-se pelo seu Senhor.
Tomam os dois o corpo de Jesus e deixam-nO nos
braços de Sua Santíssima Mãe. Renova-se a dor de Maria.
Para onde foi
o teu Amado, ó mais formosa das mulheres? Para onde partiu quem tu amas, e
procura-lo-emos contigo (Cant. V, 17)?
A Virgem Santíssima é nossa Mãe e não queremos, nem
podemos, deixá-la sozinha.
Veio salvar
o mundo, e os Seus negam-nO ante Pilatos.
Ensinou-nos o caminho do bem, e arrastam-nO pela
via do Calvário.
Deu exemplo em tudo, e preferem um ladrão homicida.
Nasceu para perdoar, e, sem motivo, condenam-nO ao suplício.
Chegou por caminhos de paz, e declaram-Lhe guerra.
Era a Luz, e entregam-nO ao poder das trevas. Trazia Amor, e pagam-lhe com
ódio. Veio para ser Rei, e coroam-nO de espinhos.
Fez-Se servo para nos libertar do pecado, e
cravam-nO na Cruz. Incarnou para nos dar a Vida, e nós recompensamo-lo com a
morte.
Não
compreendo o teu conceito de cristão.
Achas que é justo que o Senhor tenha morrido
crucificado e tu te conformes com "ir andando"?
Esse "ir andando" é o caminho áspero e
estreito de que Jesus falava?
Não admitas
o desalento no teu apostolado.
Não fracassaste, como tão-pouco Cristo fracassou na
Cruz. Ânimo!... Continua contracorrente, protegido pelo Coração Materno e
Puríssimo da Senhora; Sancta Maria, refugium nostrum et virtus!, és o meu
refúgio e a minha fortaleza.
Tranquilo. Sereno... Deus tem muito poucos amigos
na Terra. Não desejes sair deste mundo. Não recuses o peso dos dias, ainda que,
por vezes, se nos tornem muitos longos.
Se queres
ser fiel, sê muito mariano.
A Nossa Mãe, desde a embaixada do Anjo até à sua
agonia ao pé da Cruz, não teve outro coração nem outra vida que a de Jesus.
Recorre a Maria, com terna devoção de filho, e Ela
alcançar-te-á essa lealdade e abnegação que desejas.
"Não
valho nada, não posso nada, não tenho nada, não sou nada...”.
Mas Tu subiste à Cruz, para que eu possa
apropriar-me dos Teus méritos infinitos. E ali recolho também - são meus,
porque sou seu filho - os merecimentos da Mãe de Deus e os de S. José. E
apodero-me das virtudes dos santos e de tantas almas entregues...
Depois, lanço um olhar à minha vida e digo: ai, meu
Deus, isto é uma noite cheia de escuridão! Só, de vez em quando, brilham uns
pontos luminosos, pela Tua grande misericórdia e pela minha pouca
correspondência... Tudo isto Te ofereço, Senhor, não tenho outra coisa.
Oh! meu Bom
Jesus, pelo mérito da Vossa Dolorosa Paixão quando Vos desceram da Cruz e pelos
merecimentos de Vossa Mãe Santíssima e das almas reparadoras, peço-Vos a
conversão dos pecadores, a salvação dos moribundos e o alívio das Almas do
Purgatório.
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