quinta-feira, 24 de março de 2016

Via-Sacra: 12ª Estação: “Jesus morre na Cruz” (S. João 19,28-30).


«Tenho sede». «Tudo está consumado».

Nestas duas frases, Jesus confia-nos, com um olhar voltado para a humanidade e outro para o Pai, o desejo ardente que envolveu a sua pessoa e a sua missão: o amor ao homem e a obediência ao Pai. Um amor horizontal e um amor vertical: eis o desenho da Cruz! E do ponto de encontro deste duplo amor, lá onde Jesus inclina a cabeça, brota o Espírito Santo, primeiro fruto do seu regresso ao Pai.

Neste sopro vital da consumação, vibra a lembrança da obra da criação agora redimida; mas vibra também o apelo a todos nós, crentes n’Ele, para «completarmos aquilo que falta, das tribulações de Cristo, na nossa carne». Até que tudo esteja consumado! Senhor Jesus, morto por nós!

Eis o nosso maior inimigo, a morte! Parece vencedora, mas vencida no silêncio e na dor de um Deus que soube se fazer igual a nós para nos salvar. Morreu a nossa morte para nos dá a Sua Eterna Vida. Olha para essa cruz e para esse crucificado e diz para toda situação de morte e fracasso de sua vida, para os seus pecados e franquezas, para a morte: Eu sou vencedor! O amor venceu o amor sempre vencerá, em Cristo eu sou mais que vencedor. Não murmurarei mais sobre minha cruz, minhas dores e sofrimentos, farei deles o altar de minha vitória. “A cruz sagrada seja minha luz, não seja o dragão o meu guia, retira-te satanás. Nunca me aconselhes coisas vãs, é mal o que tu me ofereces bebe tu mesmo os teus venenos”…

“Meu Deus, Meu Deus, porque Me abandonaste?”

No cimo da cruz de Jesus – nas duas línguas do mundo de então, o grego e o latim, e na língua do povo eleito, o hebraico – está escrito quem é: o Rei dos Judeus, o Filho prometido a David. Pilatos, o juiz injusto, tornou-se profeta sem querer. Perante a opinião pública mundial é proclamada a realeza de Jesus. O próprio Jesus não tinha aceitado o título de Messias, enquanto poderia induzir a uma ideia errada, humana, de poder e de salvação. Mas, agora, o título pode estar escrito ali publicamente sobre o Crucificado. Ele, assim, é verdadeiramente o rei do mundo. Agora foi verdadeiramente «elevado». Na sua descida, Ele subiu. Agora cumpriu radicalmente o mandamento do amor, cumpriu a oferta de Si próprio, e precisamente deste modo Ele é agora a manifestação do verdadeiro Deus, daquele Deus que é amor. Agora sabemos quem é Deus. Agora sabemos como é a verdadeira realeza. Jesus reza o Salmo 22, que começa por estas palavras: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?» (Sal 22/21, 2). Assume em Si mesmo todo o Israel, a humanidade inteira, que sofre o drama da escuridão de Deus, e faz com que Deus Se manifeste precisamente onde parece estar definitivamente derrotado e ausente. A cruz de Cristo é um acontecimento cósmico. O mundo fica na escuridão, quando o Filho de Deus sofre a morte. A terra treme. E junto da cruz tem início a Igreja dos pagãos. O centurião romano reconhece, compreende que Jesus é o Filho de Deus. Da cruz, Ele triunfa sem cessar.

Senhor Jesus Cristo, na hora da vossa morte, o sol escureceu. Sois pregado na cruz sem cessar. Precisamente nesta hora da história, vivemos na escuridão de Deus. Pelo sofrimento sem medida e pela maldade dos homens o rosto de Deus, o vosso rosto, aparece obscurecido, irreconhecível. Mas foi precisamente na cruz que Vos fizestes reconhecer. Precisamente enquanto sois Aquele que sofre e que ama, sois aquele que é elevado. Foi precisamente lá que triunfastes. Ajudai-nos a reconhecer, nesta hora de escuridão e confusão, o vosso rosto. Ajudai-nos a crer em Vós e a seguir-Vos precisamente na hora da escuridão e da privação. Mostrai-Vos novamente ao mundo nesta hora. Fazei com que a vossa salvação se manifeste.

No cimo da Cruz, está escrita a causa da condenação: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus (Jo XIX, 19). E todos os que passam por ali O injuriam e O escarnecem.

- Se é o rei de Israel, desça agora da Cruz (Mt XXVII, 42).

Um dos ladrões vem em Sua defesa:

- Este não fez nenhum mal (Lc XXIII, 41).

Depois, dirige a Jesus uma petição humilde, cheia de fé:

- Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu Reino (Lc XXIII, 42).

- Em verdade te digo que, hoje mesmo, estarás contigo no Paraíso (Lc XXIII, 43).

Maria, Sua Mãe, está junto da Cruz, com outras santas mulheres. Jesus olha-a e olha, depois, para o discípulo que ama e diz a Sua Mãe:

- Mulher, aí tens o teu filho.

Depois, diz ao discípulo:

- Aí tens a tua Mãe (Jo XIX, 26-27).

Apaga-se a luminária do céu e a terra fica mergulhada em trevas. São cerca das três, quando Jesus exclama:

- Elí, Elí, lamma sabachtani?! Isto é: Meu Deus, Meu Deus, por que Me abandonaste (Mt XXVII, 46)?

Depois, sabendo que todas as coisas estão prestes a ser consumadas, para que se cumpra as Escrituras, diz:

- Tenho sede (Jo XIX, 28).

Os soldados embebem uma esponja em vinagre e, atando-a a uma cana de hissope, aproximam-Lha da boca. Jesus sorve o vinagre e exclama:

- Tudo está consumado (Jo XIX, 30).

O véu do templo rasga-se e a terra treme, quando o Senhor brada com voz forte:

- Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito (Lc XXIII, 46). E expira. Ama o sacrifício que é fonte de vida interior. Ama a Cruz que é altar do sacrifício. Ama a dor até beber, como Cristo, as fez do cálice. 

Et inclinato capite, tradidit spiritum (Jo XIX,30).

O Senhor exalou o Seu último alento. Os discípulos tinham-nO ouvido dizer muitas vezes: meus cibus est..., o Meu alimento é fazer a Vontade d'Aquele que Me enviou e dar cumprimento à Sua obra (Jo IV, 34). Fê-lo até ao fim, com paciência, com humildade, sem reservar nada para Si... Oboediens usque ad mortem (Fil II, 8): obedeceu até à morte e morte de Cruz!

Uma cruz. Um corpo pregado com cravos ao madeiro. O lado aberto...

Com Jesus ficam apenas Sua Mãe, umas mulheres e um adolescente. Os apóstolos onde estão? E os que foram curados das suas doenças: os coxos, os cegos, os leprosos?... E os que O aclamaram?... Ninguém responde! Cristo, rodeado de silêncio.

Também tu poderás sentir, alguma vez, a solidão do Senhor na Cruz. Procura, então, o apoio d'Aquele que morreu e ressuscitou. Procura abrigo nas chagas das Suas mãos, dos Seus pés, do Seu lado. E renovar-se-á a tua vontade de recomeçar, e reempreenderás o caminho com maior decisão e eficácia.

Há uma falsa ascética que apresenta o Senhor na Cruz, raivoso, rebelde.

Um corpo retorcido que parece ameaçar os homens: aniquilastes-Me, mas Eu lançarei sobre vós os Meus cravos, a Minha Cruz e os Meus espinhos.

Esses não conhecem o espírito de Cristo. Sofreu tudo o que pôde - e, por ser Deus, podia tanto! -; mas amava mais do que padecia... E, depois de morto, consentiu que uma lança lhe abrisse outra chaga, para que tu e eu encontrássemos refúgio junto do Seu Coração amabilíssimo.

Tenho repetido muitas vezes aquele verso do hino eucarístico

Peto quod petivit latro poenitens, e sempre me comovo: pedir como o ladrão arrependido!

Reconheceu que, ele sim, merecia aquele castigo atroz... E, com uma palavra, roubou o coração de Cristo e abriu, para si, as portas do Céu.

Da Cruz pende o corpo - já sem vida - do Senhor.

A multidão, vendo o que se tinha passado, retira-se batendo no peito (Lc XXIII, 48).

Agora que estás arrependido, promete a Jesus que, com a Sua ajuda, não vais crucificá-Lo mais. Di-lo com fé. Repete uma e outra vez: amar-Te-ei, meu Deus, porque, desde que nasceste, desde que eras criança; Te abandonaste nos meus braços, inerme, confiando na minha lealdade.


Oh! meu Bom Jesus, pelo mérito da Vossa Dolorosa Paixão quando expirastes no Calvário e pelos merecimentos de Vossa Mãe Santíssima e das almas reparadoras, peço-Vos a conversão dos pecadores, a salvação dos moribundos e o alívio das Almas do Purgatório.

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