sábado, 19 de março de 2016

Os 7 pecados capitais que podemos estar cometendo com a infância de nossos filhos


Tempo e espaço. Duas simples palavras, mas que podem transformar a vida de uma criança e sua família. Tudo porque é disso que elas precisam: a presença e a atenção dos pais e de espaço para poder explorar, aprender, descobrir e gastar toda a energia que aqueles pequenos corpos têm armazenado.

Mas hoje, será que nossas crianças têm isso? Muito se escuta: “A infância dos anos 80 é que foi boa. Hoje as crianças não sabem aproveitar”. Qual a parcela de culpa dos pais e da sociedade em geral nisso tudo? Em uma palestra dada no Rio Grande do Sul, o pediatra brasileiro, Daniel Becker, falou sobre alguns deslizes da sociedade em relação à infância. Ele considera que existem sete pecados que os adultos têm cometido com as crianças e que já tem influenciado toda uma geração.


1. Privar o nascimento natural e o aleitamento materno

Não é uma novidade falarmos da cultura da cesárea no Brasil. Apesar de haver uma corrente de profissionais e mulheres a favor da conscientização e da informação sobre o parto normal, ainda é recorrente que a maioria das mulheres tenha seus filhos por meio de uma cesariana. Algumas delas até querem o parto normal, mas com o passar dos meses, muitas vezes por ajuda do próprio médico, o medo as fazem escolher pela cirurgia. De acordo com Becker, as estatísticas brasileiras são vergonhosas e a cesárea traz muitos malefícios para a mãe e o filho, principalmente nascimentos prematuros. A falta de suporte para que as mães que trabalham possam amamentar também é algo que pode prejudicar o desenvolvimento da criança. Além disso, às vezes, com ajuda do próprio pediatra outros alimentos são introduzidos antes dos seis meses de vida, quando o bebê deveria apenas mamar o leite materno.

2. Terceirização da educação

É um assunto que traz muita culpa para pais e mães, mas, é algo que precisa ser pensado pela família: quanto tempo meu filho fica na creche ou com babás? Seis, oito, doze horas? Para o pediatra essa é uma forma de perder algo muito importante da infância, o convívio com os filhos. “Convívio é aquilo que nos dá a intimidade, a capacidade de estar junto, o amor, a sensação de estar cuidando de alguém, a sensação de conhecer profundamente alguém”, disse Becker.

3. Intoxicação

O que as crianças estão comendo hoje em dia? Tudo com muito açúcar, muito óleo e gordura. Em que lugar do cardápio ficou a nutritiva combinação do arroz, do feijão, do bife e da salada? De acordo com Becker, a obesidade e a diabetes estão sendo problemas recorrentes na infância. O sinal negativo de que as comidas industrializadas podem até ser mais rápidas, mas, certamente, não é o melhor caminho. 

4. Confinamento e distração permanente

Qual foi a última vez que seu filho brincou na rua? Quantas horas ele passa em frente à televisão, celular ou tablet? O que você fazia para se divertir quando tinha a idade dele? Eles estão perdendo muitas coisas, não é mesmo? Becker diz que quando deixamos nossos filhos dentro de casa e permanentemente distraídos com um vídeo, por exemplo, estamos amputando a criatividade e a imaginação deles que surgem nos momentos de tédio e de vazio, algo que as crianças raramente têm nos tempos modernos.

5. Consumismo infantil

Além de todas as publicidades que sugam a atenção das crianças nos intervalos de vídeos, o consumismo ainda é alimentado pelo passeio no shopping do final de semana. As crianças dessa geração têm crescido acreditando que a felicidade está nas praças de alimentação dos centros comerciais. A publicidade para os pequenos “explora a incapacidade da criança de distinguir fantasia de realidade, explora o amor dela por personagens e instigam nela valores como consumismo obsessivo, hipervalorização da aparência, a futilidade e coisas piores”, explicou o pediatra.

6. Adultização e erotização das crianças

Quem não se lembra de uma edição de 2014 da Vogue Kids brasileira que continha fotos de meninas em poses sensuais? A justiça tirou a revista de circulação por conta das críticas recebidas na internet. Mas a adultização está nas pequenas coisas também do dia a dia. Nos sapatos de salto para meninas que mal saíram das fraldas, nas artistas infantis usando roupas curtíssimas, na camiseta infantil com os dizeres “vem ni mim que eu to facin”, por exemplo. “Existe uma erotização que usa a criança para vender produtos de moda. Uma erotização baseada no machismo, na objetificação das meninas e das mulheres, na valorização excessiva da aparência”.

7. Superproteção

A compensação que os filhos acabam recebendo pela falta de tempo que os pais têm para eles criou uma geração de crianças e adolescentes sem noção alguma de limites. No momento que as crianças decidem tudo e são colocadas como o principal ser da casa, não mais como mais um membro da família, elas ficam sem um exemplo de pessoa forte que as conduza com autoridade. Para Becker o “não” é uma forma também de demonstrar amor para com os filhos. “A gente precisa dar para os nossos filhos [limites], mas, estamos perdendo a capacidade. Em vez disso, a gente se interpõe entre as experiências dos filhos e do mundo fazendo justamente que eles não tenham experiência da vida e, portanto, não desenvolvam mecanismos de lidar com a frustração, com a dor e com a dificuldade. Certamente o mundo vai entregar para eles mais tarde”, explica Becker.

A combinação de todos esses eventos citados acima tem dado resultado nos consultórios médicos. Segundo Becker, ao invés da sociedade discutir sobre como a infância mudou, sobre as causas da birra, de ir mal na escola, da violência gratuita, tem feito o mais fácil: medicamentar as crianças. O Brasil perde só para os Estados Unidos em consumo da Ritalina – remédio para combater o TDAH – Déficit de Atenção e Hiperatividade. Em 1999 o Brasil consumiu cerca de 70 mil caixas da medicação, em 2010, o número pulou para mais de dois milhões. “Isso não é uma epidemia de doença. É um massacre contra a infância. Estamos rotulando, normatizando e impedindo que crianças sejam elas mesmas”, conta.

O resultado dessa equação é fácil e já foi dado no início do texto: tempo e espaço. É disso que as crianças precisam para se sentirem amadas, importantes e valorizadas. De bônus as famílias ainda podem diminuir o consumismo, ensinar as crianças a apreciarem a natureza e fortalecer o vínculo de amor entre pais e filhos.
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Família / Catholicus

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