“Mulheres de
Jerusalém, não choreis por Mim”.
Jesus Mestre, ao longo do Caminho do Calvário,
continua a instruir a nossa humanidade. Com o seu olhar de verdade e
misericórdia, ao encontrar as mulheres de Jerusalém, recolhe as lágrimas de
compaixão derramadas por Ele. Ele, o Deus que chorou e Se lamentou sobre
Jerusalém, educa agora o pranto daquelas mulheres para que não fique estéril
lamentação externa. Convida-as a reconhecerem n’Ele a sorte do Inocente
injustamente condenado e queimado, como madeira verde, pelo «castigo que nos
salva». Ajuda-as a interrogarem amadeira seca do próprio coração para sentirem
a dor benéfica da compunção. Aqui brota o pranto autêntico, quando os olhos
confessam com as lágrimas não só o pecado, mas também a dor do coração. São
lágrimas abençoadas, como as de Pedro, sinal de arrependimento e penhor de
conversão, que renovam em nós a graça do Batismo.
Se fazem
assim no madeiro verde, que será no madeiro seco?
As palavras com que Jesus adverte as mulheres de
Jerusalém que O seguem e choram por Ele, fazem-nos refletir. Como entendê-las?
Não se trata porventura de uma advertência contra uma piedade puramente sentimental,
que não se torna conversão e fé vivida? De nada serve lamentar, por palavras e
sentimentalmente, os sofrimentos deste mundo, se a nossa vida continua sempre
igual. Por isso, o Senhor nos adverte do perigo em que nós próprios nos
encontramos. Mostra-nos a seriedade do pecado e a seriedade do juízo. Apesar de
todas as nossas palavras de horror à vista do mal e dos sofrimentos dos
inocentes, não somos nós porventura demasiado inclinados a banalizar o mistério
do mal? Da imagem de Deus e de Jesus, no fim de contas, admitimos apenas o
aspecto terno e amável, enquanto tranquilamente cancelamos o aspecto do juízo?
Como poderia Deus fazer-Se um drama com a nossa fragilidade – pensamos cá
conosco –, não passamos de simples homens?! Mas, fixando os sofrimentos do
Filho, vemos toda a seriedade do pecado, vemos como tem de ser expiado até ao
fim para poder ser superado. Não se pode continuar a banalizar o mal, quando
vemos a imagem do Senhor que sofre. Também a nós, diz Ele: Não choreis por Mim,
chorai por vós próprios… Porque se tratam assim o madeiro verde, que será do
madeiro seco?
Senhor, às
mulheres que choravam, falastes de penitência, do dia do Juízo, quando nos
encontrarmos diante da vossa face, a face do Juiz do mundo. Chamais-nos a sair
da banalização do mal que nos deixa tranquilos para podermos continuar a nossa
vida de sempre. Mostrai-nos a seriedade da nossa responsabilidade, o perigo de
sermos encontrados, no Juízo, culpados e estéreis. Fazei com que não nos
limitemos a caminhar ao vosso lado, oferecendo apenas palavras de compaixão.
Convertei-nos e dai-nos uma vida nova; não permitais que acabemos por ficar
como um madeiro seco, mas fazei que nos tornemos ramos vivos em Vós, a videira
verdadeira, e produzamos fruto para a vida eterna (cf. Jo 15, 1-10).
Entre as pessoas que contemplam a passagem do
Senhor, há umas tantas mulheres que não podem conter a sua compaixão e
desfazem-se em lágrimas, recordando porventura aquelas jornadas gloriosas de
Jesus, quando todos exclamavam maravilhados: bene omnia fecit (Mc VII, 37), fez
tudo bem.
Mas o Senhor quer encaminhar esse pranto para um
motivo mais sobrenatural, e convida-as a chorar pelos pecados, que são a causa
da Paixão e que atrairão o rigor da justiça divina:
- Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai
por vós mesmas e pelos vossos filhos... Pois, se tratam assim a madeira verde,
o que acontecerá ao lenho seco (Lc XXIII, 28, 31)?
Os teus pecados, os meus, os de todos os homens
põem-se de pé. Todo o mal que fizemos e o bem que deixámos de fazer. O panorama
desolador dos inumeráveis delitos e infâmias sem conta, que teríamos cometido,
se Ele, Jesus, não nos tivesse confortado com a luz do Seu olhar amabilíssimo.
Que pouco é uma vida para reparar!
Os santos -
dizes-me rebentavam em lágrimas de dor ao pensar na Paixão de Nosso Senhor. Eu,
porém...
Talvez seja porque tu e eu presenciamos as cenas,
mas não as "vivemos".
Veio para o
que era Seu e os Seus não O receberam (Jo 1,11).
Mais ainda, arrastaram-nO para fora da cidade para
O crucificarem.
Jesus responde com um convite ao arrependimento, agora,
enquanto a alma está a caminho e ainda há tempo.
Contrição profunda pelos nossos pecados. Dor pela
malícia inesgotável dos homens que se preparam para dar a morte ao Senhor.
Reparação pelos que ainda se obstinam em tornar estéril o sacrifício de Cristo
na Cruz.
É preciso
unir, é preciso compreender, é preciso desculpar.
Não levantes nunca uma cruz apenas para recordar
que uns mataram outros. Seria o estandarte do diabo.
A Cruz de Cristo é calar, perdoar e rezar por uns e
por outros, para que todos alcancem a paz.
O Mestre
passa, uma e outra vez, muito perto de nós.
Olha-nos... E se O vês, se O escutas, se não Lhe
resistes, Ele ensinar-te-á a dar sentido sobrenatural a todas as tuas acções...
E, então, também tu semearás, onde te encontrares, consolação e paz e alegria.
Por muito
que ames, nunca amarás bastante.
O coração humano tem um coeficiente de dilatação
enorme. Quando ama, dilata-se num crescendo de carinho que supera todas as
barreiras.
Se amas o Senhor, não haverá criatura que não
encontre lugar no teu coração.
Oh! meu Bom
Jesus, pelo mérito da Vossa Dolorosa Paixão quando Vos consolaram as mulheres
de Jerusalém e pelos merecimentos de Vossa Mãe Santíssima e das almas
reparadoras, peço-Vos a conversão dos pecadores, a salvação dos moribundos e o
alívio das Almas do Purgatório.
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