Irmãos ou parentes
próximos?
Viajando
pelo país não é muito difícil perceber a variedade de termos usados na língua
portuguesa. Sotaques, pronúncias e afins que podem ter sentidos variados de
acordo com a região e o costume do lugar. Como não pensar nas Sagradas
Escrituras cujos livros divinamente inspirados foram escritos em épocas,
costumes, nações e povos diferentes e por vezes com distância de tempo
consideradas? Pois bem, a língua hebraica possui apenas uma palavra para
designar parentesco e que, ao se traduzir para o latim e o grego (que foram as
primeiras traduções bíblicas do hebraico), a palavra hebraica que designava
qualquer parentesco foi traduzida pela palavra “irmão”. Porém, como notamos a
seguir, não se pode dizer que todos os irmãos citados na Bíblia sejam, de fato,
irmãos de sangue. Vejamos:
NO ANTIGO TESTAMENTO
EXEMPLO 1
Estes são os descendentes de Taré: Taré foi pai de Abrão, Nacor e Arão. Arão foi pai de Ló, e morreu antes de seu pai Taré, em sua terra
natal, Ur dos Caldeus. Abrão e Nacor casaram-se. O nome da mulher de Abrão era
Sarai e o nome da mulher de Nacor, Melca filha de Arã, pai de Melca e Jesca.
Sarai era estéril e não tinha filhos. Taré pegou o filho Abrão, o neto Ló filho
de Arã, a nora Sarai, mulher de seu filho Abrão, e os fez sair de Ur dos
Caldeus, para dirigir-se à terra de Canaã. Mas, quando chegaram a Harã, ali se
estabeleceram. - Gênesis 11,27-31.
Levando
consigo sua mulher Sarai, o sobrinho Ló e todos os bens que possuíam, além dos escravos que
haviam adquirido em Harã, Abrão partiu
rumo à terra de Canaã, aonde chegaram. – Gênesis 12,5
Conforme
percebemos em destaque nos textos acima, entendemos que:
TARÉ,
pai dos irmãos: Abrão e Arã.
ARÃO,
pai de Ló.
ABRÃO,
tio de Ló.
LÓ,
sobrinho de ABRÃO.
Porém,
no texto abaixo, Ló é chamado de “irmão” de Abrão, embora seja sobrinho:
Abrão
disse a Ló: “Não deve haver discórdia entre nós e
entre nossos pastores, pois somos
irmãos”.
– Gênesis 13,8.
Embora
Abraão seja somente tio de Ló, ele o chama de “irmão”, pois na língua hebraica
não existe outra palavra para designar este tipo de parentesco como sobrinho.
EXEMPLO 2
Rebeca
tinha um irmão de nome Labão. Ele saiu correndo até a fonte em busca do
homem,
- Gênesis 24,29.
Isaac chamou Jacó, deu-lhe a bênção e ordenou: “Vai a Padã-Aram, à casa de
Batuel, teu avô materno. Casa-te lá com uma das filhas de Labão, irmão de tua mãe”. – Gênesis 28,2
BATUEL,
pai dos irmãos: Labão e Rebeca.
REBECA,
mãe de Jacó.
LABÃO,
tio de Jacó.
JACÓ,
sobrinho de Labão.
Porém,
no texto abaixo, Labão é chamado de “irmão” de Jacó, embora só seja seu tio:
Labão
disse a Jacó: “O fato de seres meu irmão* não é motivo para que me sirvas de graça; dize-me que
salário queres”.
– Gênesis 29,15
EXEMPLO 3
Os filhos de Merali foram Mooli e Musi; os filhos de Mooli foram Eleazar e Cis.
Eleazar morreu sem deixar filhos,
mas teve filhas que se casaram com os
filhos de Cis, seus irmãos.* –
1 Crônicas 23,21-22.
MOOLI,
pai dos irmãos: Eleazar e Cis.
ELEAZAR
teve filhas.
CIS
teve filhos.
FILHAS
de Eleazar são PRIMAS dos filhos de Cis.
As
filhas de Eleazar são chamadas de irmãs
dos filhos de Cis, embora só sejam primos.
EXEMPLO 4
Os filhos
de Aarão, Nadab e Abiú, tomaram cada um seu turíbulo, puseram neles fogo,
colocaram incenso e ofereceram diante do Senhor um fogo profano, que não havia
sido autorizado. Então saiu um fogo enviado pelo Senhor, que os devorou, e
morreram na presença do Senhor. Moisés disse para Aarão: “A isto se referia o
Senhor ao dizer: Serei santificado pelos que se aproximam de mim, e glorificado
diante de todo o povo”. Aarão ficou calado. Moisés chamou Misael e Elisafã, filhos de Oziel, tio de Aarão, e lhes disse:
“Vinde e carregai vossos irmãos para
longe do santuário, para fora do acampamento”. – Levítico 10,1-4
Filhos
de Caat: Amram, Isaar, Hebron e Oziel. Caat viveu cento e trinta e três anos. – Êxodo 6,18
Amram
casou-se com Jocabed, sua tia, da qual lhe nasceram Aarão e Moisés. Amram viveu cento e trinta e sete
anos. –
Êxodo 6,20
Filhos
de Oziel: Misael, Elisafã e Setri. Aarão casou-se com Isabel filha de Aminadab, irmã de Naason; dela lhe nasceram Nadab e Abiú, Eleazar
e Itamar. – Êxodo 6,22-23.
CAAT,
pai dos irmãos: Amram e Oziel.
AMRAM,
pai de Aarão.
AARÃO,
pai de Nadab e Abiú.
OZIEL,
pai dos irmãos Misael e Elisafã.
NADAB
e ABIÚ são primos de 2º grau de MISAEL e ELISAFÃ.
Nadab
e Abiú são filhos de Aarão, enquanto que Misael e Elisafã são filhos do tio de
Aarão que se chamava Oziel. O que fica claro é que os dois filhos de Aarão e os
dois filhos de Oziel são na verdade primos
de segundo grau, porém, no hebraico não existe a palavra para designar primo, o que levou Moisés a trata-los
como “irmãos”.
* Algumas traduções da
Bíblia para facilitar ao leitor já usam aqui no lugar de “irmão” a palavra parente
ou mesmo sobrinho.
NO NOVO TESTAMENTO
O
Evangelho de São Marcos cita como “irmãos” de Jesus: Tiago, José, Judas e
Simão.
“...Não é ele o filho do carpinteiro, o
filho de Maria, irmão de Tiago, de José,
de Judas e Simão? E as suas irmãs não vivem aqui entre nós?” E não queriam
acreditar nele.
– Marcos 6,3
Seriam
estes quatro nomes irmãos de Jesus? Veremos que não!
No
evangelho de Mateus são citados duas pessoas com o nome de Tiago. Um é filho de
Alfeu e o outro de Zebedeu.
Os nomes dos doze apóstolos são os
seguintes: o primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago filho de Zebedeu, e João, seu
irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago filho de Alfeu, e Tadeu; - Mateus 10,2-3
Tiago
tem um irmão chamado Judas, que é o Tadeu (não o Iscariotes) relatado no
evangelho de São Marcos 6,3 (ver acima), conforme podemos confirmar na epístola
de São Judas e no evangelho de São Lucas:
Judas, servo
de Jesus Cristo, irmão de Tiago, aos
eleitos amados em Deus Pai e guardados por Jesus Cristo. – Judas 1,1
Mateus e Tomé, Tiago filho de Alfeu e Simão
chamado Zelotes, Judas filho de Tiago** – Lucas 6,16
** “Judas, de Tiago”,
que poderia significar também “irmão
de Tiago”.
Nos
evangelhos de Mateus e Marcos encontramos outra Maria que é a mãe de Tiago (o
Menor) e José. Esta Maria não é a mãe de Jesus:
Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e José, e a mãe dos
filhos de Zebedeu.
– Mateus 27,56
Havia ali também algumas mulheres, que
olhavam de longe. Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago Menor e de José, e Salomé. – Marcos 15,40
Concluímos
que aqueles nomes citados no início como sendo irmãos de Jesus têm outros pais
e outras mães que não são Maria e José. Eles são, por isso mesmo, primos entre si. A ilustração a seguir (baseada na genealogia de Jesus)
representa bem o que acabamos de provar:
JOAQUIM
e ANA: pais de Maria.
MARIA:
mãe de Jesus.
JACÓ:
pai de José (esposo de Maria),
Cléofas /Alfeu (esposo de outra Maria).***
JOSÉ
(esposo de Maria): pai adotivo de Jesus.
CLÉOFAS
e MARIA (não a mãe de Jesus): pais de
Tiago, José, Judas e Simão.
JESUS
é, na verdade, primo destes quatro
irmãos: TIAGO, JOSÉ, JUDAS E SIMÃO que são filhos de Maria, esposa de Cléofas.
Na
linguagem hebraica existe somente uma palavra (irr) para designar qualquer parentesco, é por isso que não se pode
traduzir, do hebraico, a palavra irmão para
irmão de sangue. Portanto, aquele que afirma que Jesus teve mais
irmãos incorre em um GRAVE ERRO!
José não “conheceu”
Maria.
A origem de Jesus Cristo, porém, foi assim:
Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José. Mas antes de morarem
juntos, ficou grávida do Espírito Santo. José, seu marido, sendo homem justo e
não querendo denunciá-la, resolveu abandoná-la em segredo. Mas enquanto assim
pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e disse: “José filho
de Davi não tenhas medo de receber Maria, tua esposa, pois o que nela foi
gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de
Jesus. É ele que salvará o povo de seus pecados”. Tudo isso aconteceu para que
se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: “Eis que a Virgem conceberá e
dará à luz um filho, e o chamarão com o nome de Emanuel, que significa: Deus
conosco”. Quando acordou, José fez como o anjo do Senhor lhe tinha mandado e
aceitou sua mulher. Mas não a conheceu
até o dia em que ela deu à luz um filho. E ele o chamou
com o nome de Jesus.
– Mateus 1,18-25
“Conhecer”,
biblicamente falando, significa ter intimidade (relações). A passagem mostra
que José não teve intimidade com Maria.
Nas
bíblias protestantes, este versículo (v.25) está um pouco diferente:
Mas não a conheceu até que ela deu à luz um
filho. E ele lhe pôs o nome de Jesus.
– Mateus
1,25 (tradução contemporânea de João Ferreira de Almeida).
Muitos
interpretam erroneamente este versículo e o deturpam com o seguinte pensamento:
José não conheceu Maria até que Jesus nasceu. Após o seu
nascimento, eles passaram a ter uma vida matrimonial normal, tendo assim,
outros filhos e filhas.
No
hebraico, a palavra até é usada para designar que assim como era antes, também o
será depois. Vejamos alguns exemplos:
E Micol, filha de Saul, não teve filhos até o dia de sua morte. – 2 Samuel 6,23.
Claro
que Micol não teve filhos após a sua morte! Portanto, a expressão até empregada
em Mateus 1,25 para sugerir que Maria e José tiveram filhos após o nascimento
de Jesus e, não há nenhum lugar nas Escrituras há menção de que os “irmãos” de
Jesus são filhos de Maria e José.
Isabel era “prima” de
Maria
Muitos
protestantes, com a intenção de refutar os argumentos citados, utilizam o
seguinte texto bíblico afirmando que esta passagem distingue “primos” de
“irmãos”:
Até Isabel, tua prima,
concebeu um filho e sua velhice, sendo este o sexto mês para aquela que era
considerada estéril. – Lucas 1,36 (Tradução de João Ferreira de Almeida).
Nas
Bíblias católicas lemos este mesmo versículo assim:
Até Isabel, tua parenta,
concebeu um filho em sua velhice, e este é o sexto mês daquela que era
considerada estéril. –
Lucas 1,36
Os
protestantes afirmam que a palavra grega adelphói,
nos Evangelhos, significa “primos”, e não “irmãos”. E citam as seguintes
passagens para “justificar” o injustificável:
– Isabel,
em Lucas 1,36, é tida como prima de
Maria; (ver acima).
– em Colossenses
4,10 Marcos é dito primo de Barnabé:
Aristarco, meu companheiro de prisão, envia-lhes saudações, bem
como Marcos, primo de Barnabé. Vocês
receberam instruções a respeito de Marcos, e se ele for visita-los, recebam-no. – Colossenses 4,10. (Tradução de João
Ferreira de Almeida).
Disto,
segundo eles, se conclui que a língua grega tem palavra própria para designar o
primo. Se o evangelista usou a
palavra adelphós em Marcos 6,3 e Mateus 13,55, ele o fez porque Jesus era
realmente irmão de Tiago, José, Judas
e Simão.
Porém, Isabel não é prima
de Maria, mas é syggenís, parenta,
familiar. A tradução que verte syggenís
por prima é falha (por isso as bíblias católicas geralmente a traduzem por parenta). Ademais, a diferença de idade
entre Maria e Isabel era muito grande (Isabel já era estéril quando Maria ainda
não co-habitava com José); deviam ser de duas gerações diferentes e não primas
(da mesma geração).
Em
Colossenses 4,10 São Paulo usa a palavra anepsiós,
que significa propriamente primo. Em
tal caso, o Apóstolo está escrevendo para cristãos do Império greco-romano, de
língua grega, distantes do fundo semita dos Evangelhos. Não se pode esquecer
que a língua grega dos Evangelhos supõe um fundo semita, pois o Evangelho é a
redação escrita da pregação oral dos Apóstolos feita em aramaico. Ora em
aramaico o vocábulo ‘ah’ significa parente ou familiar, e é com este sentido amplo que ele é traduzido para o
grego pelo termo adelphós. Deve-se,
pois, entender adelphós no sentido de
‘ah’ aramaico. A amplidão de
significado de ‘ah’ se depreende,
entre outros, do fato de que a própria esposa no Cântico dos Cânticos é dita
irmã:
Como são ternos teus carinhos, minha irmã e minha noiva! Tuas carícias são mais deliciosas que o vinho;
teus perfumes mais aromáticos que todos os bálsamos. És um jardim fechado,
minha irmã e minha noiva, um jardim
fechado, uma fonte selada. Vou entrar no meu jardim, minha irmã e minha noiva, colher mirra e bálsamo, comer do favo de mel,
beber vinho e leite. –
Cântico dos Cânticos 4,10.12; 5,1.
Conclusão
No
grego bíblico, o termo “adelphós” (irmão) corresponde ao vocábulo “ah”, que
tanto pode significar irmão carnal quanto parente conseguíneo. Assim, a palavra
“adelphós” (irmão) é usada também para designar um primo, um sobrinho, um tio
ou qualquer parente. Em Gênesis 13,8 Abrão (a mudança de seu nome para Abraão
se dará posteriormente) diz a Ló: “[...] somos irmãos”; mas, pouco antes
(Gênesis 11,27-31) se lê que Ló era filho de Arão, irmão de Abrão; portanto, Ló
era sobrinho de Abrão e não irmão (cf. Gn 29,15 e compare com Gn 27,43 e
29,10-11).
Por
trás dessa identificação de “irmão” com “primo” ou “parente”, há um conceito de
família diferente do nosso. Ao nos referirmos a uma família, pensamos no pai,
na mãe e nos seus filhos. Os orientais, diferente de nós, incluíam nela (muitos
até hoje) também os parentes, próximos ou distantes.
Os
evangelistas referem-se aos parentes de Jesus como “irmãos e irmãs”, sem nunca
chama-los de “filhos de Maria”, nem dizer que Maria fosse mãe deles. Mateus
13,55 e Marcos 6,3 citam alguns “irmãos” de Jesus: Tiago, José, Judas e Simão.
Descrevendo a cena do Calvário, porém, o evangelista João diz:
Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua
mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de
Cléofas, e Maria Madalena. – João 19,25
Marcos
destaca que esta outra Maria era mãe de Tiago, o Menor, e de José (cf. Mc
15,40). Estes últimos não eram, pois, irmãos carnais de Jesus, mas seus primos,
pois filhos da irmã de sua mãe. ***
***
Alguns teólogos afirmam ser Cléofas irmão
de José (esposo de Maria, mãe de Jesus). Outros ainda ser Maria (esposa de
Cléofas) irmã de Maria (mãe de Jesus). O fato é que estes “irmãos” de Jesus que
são na verdade, seus parentes, são filhos do irmão de José (Cléofas) ou da irmã
de Maria (Maria, esposa de Cléofas) mas nunca seus irmãos de sangue. É possível
que Cléofas e Alfeu sejam a mesma pessoa, com um nome grego e outro judaico. Ou
ainda, que essa Maria, tia de Jesus, casou-se duas vezes, uma com Alfeu,
concebendo Tiago e outra com Cléofas, com quem teve outros filhos. Até aqui,
tem-se claramente que "Tiago, irmão do Senhor", tinha outro pai e
outra mãe. E que esta mãe era, na verdade, tia de Jesus.
Por
sinal, no início de sua carta, o apóstolo Judas declara-se “servo
de Jesus Cristo e irmão de Tiago”
(1,1) e São Paulo diz ainda a respeito de Tiago:
Dos outros apóstolos não vi mais nenhum, a
não ser Tiago, irmão do Senhor. – Gálatas 1,19.
Tiago,
“irmão” do Senhor, não é filho de José. Alguém poderia alegar que ele é filho somente
de Maria, que se casou com outro homem após a morte de José. Porém, nos trechos
referentes às mulheres que estavam aos pés da Cruz do Senhor, temos a mãe de
Tiago, que é claramente outra pessoa que não a mãe de Jesus.
Maria teve muitos outros
“filhos e filhas”
e Jesus teve muitos
“irmãos e irmãs”.
A
palavra primogênito não é
determinante para se concluir que Jesus tenha tido irmãos e irmãs; seu uso é
sobretudo jurídico. A lei mosaica exigia que o primogênito (primeiro gerado)
fosse consagrado ao Senhor (cf. Ex 13,2), independentemente de mais tarde os
pais terem ou não outros filhos.
Ademais,
podemos citar ainda:
Enquanto
Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém
disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos
estão aí fora, e querem falar contigo”. Jesus
perguntou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” E, estendendo a mão para os discípulos,
Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade de
meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão,
minha irmã e minha mãe”. - Mateus 12,46-50.
As
palavras de Jesus nessa passagem podem parecer muito duras. Mas sua intenção
não era a exclusão, mas o contrário. Jesus deseja ampliar a sua família. E qual
o critério de inclusão? Aqueles que fazem a vontade de meu Pai que está nos
céus. Os critérios de Jesus são também surpreendentes. Muito diferentes
daqueles que vivenciamos. Muitas vezes incluo na minha “família”, no meu
círculo de amizades, pessoas que de alguma forma possam me trazer algum
benefício. Meus critérios são, muitas vezes, a aparência, a posição social, o
desempenho intelectual. E o desejo de Jesus desbanca essas minhas lógicas. Só
faz sentido estar em família se todo aquele que faz a vontade de meu Pai puder
ser verdadeiramente da minha família.
Ao declarar
que todo aquele que faz a vontade de Deus é a Sua família, Jesus não estava
renunciando à sua família segundo a carne. Simplesmente Jesus define claramente
que o parentesco de ordem humana, seja a mãe, os irmãos ou irmãs que ele tinha,
não tem qualquer significação no Reino de Deus. O único “parentesco” permanente
que Ele pode ter é de ordem espiritual - e é com aqueles que fazem a vontade de
Deus. A estes, Ele chama de irmãos.
Deixando de
lado os laços sanguíneos, representado pelo parentesco segundo a carne com sua
mãe e seus irmãos, o Senhor Jesus passará agora a ampliar o seu ministério a
todos aqueles que o receberem, sem distinção entre judeus e gentios. Não se
dará mais exclusividade a Israel, devido à sua incredulidade e rejeição. O
relacionamento segundo a carne passa a ser inteiramente superado por afinidades
espirituais. A obediência a Deus é agora o fator predominante e definitivo para
estabelecer tais afinidades, sem outra distinção qualquer. Em suma, nosso relacionamento espiritual com Cristo produz um
vínculo maior do que nosso parentesco de sangue.
Se
Maria tivesse tido outros filhos, seria inexplicável que Jesus, na hora de sua
morte, a confiasse ao apóstolo João já que os outros filhos é que teriam
obrigação de cuidar dela:
Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé
sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela,
o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!”. Depois
disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!”. E a partir dessa hora, o discípulo a
recebeu em sua casa.
– João 19,25-27
Na
pessoa do discípulo predileto, Maria torna-se mãe de todos os discípulos do
Salvador. Neste sentido, portanto, se quisermos afirmar que Maria teve outros
filhos e filhas e consequentemente que Jesus teve outros irmãos, devemos dizer
que sim, e que nós, os discípulos de Jesus, somos filhos de Maria e mediante o
batismo, irmãos de Jesus “de maneira que já
não és escravo, mas filho e, se filho, também herdeiro por Deus” (Gálatas
4,7).
É
inacreditável que pessoas que busquem a verdade de coração sincero – apesar de
perceberem que estão numa mentira - se deixem conduzir pelo protestantismo que
semeia confusão em meio a tantas pessoas blasfemando o caminho da verdade e levando
inúmeras almas a se perderem,. Como muito bem disse Mons. Ségur: “O protestantismo é a religião daqueles que
não têm nenhuma. Entre os protestantes, cada um traça seu próprio caminho; é a
confusão religiosa universal. Ninguém conhece aquilo em que acredita, e nem
porque acredita; cada um faz o que satisfaz, cada um segue seu próprio
capricho”.
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