terça-feira, 8 de novembro de 2016

Se Maria é virgem, quem são os irmãos de Jesus?




Irmãos ou parentes próximos?

Viajando pelo país não é muito difícil perceber a variedade de termos usados na língua portuguesa. Sotaques, pronúncias e afins que podem ter sentidos variados de acordo com a região e o costume do lugar. Como não pensar nas Sagradas Escrituras cujos livros divinamente inspirados foram escritos em épocas, costumes, nações e povos diferentes e por vezes com distância de tempo consideradas? Pois bem, a língua hebraica possui apenas uma palavra para designar parentesco e que, ao se traduzir para o latim e o grego (que foram as primeiras traduções bíblicas do hebraico), a palavra hebraica que designava qualquer parentesco foi traduzida pela palavra “irmão”. Porém, como notamos a seguir, não se pode dizer que todos os irmãos citados na Bíblia sejam, de fato, irmãos de sangue. Vejamos:

NO ANTIGO TESTAMENTO

EXEMPLO 1

Estes são os descendentes de Taré: Taré foi pai de Abrão, Nacor e Arão. Arão foi pai de Ló, e morreu antes de seu pai Taré, em sua terra natal, Ur dos Caldeus. Abrão e Nacor casaram-se. O nome da mulher de Abrão era Sarai e o nome da mulher de Nacor, Melca filha de Arã, pai de Melca e Jesca. Sarai era estéril e não tinha filhos. Taré pegou o filho Abrão, o neto Ló filho de Arã, a nora Sarai, mulher de seu filho Abrão, e os fez sair de Ur dos Caldeus, para dirigir-se à terra de Canaã. Mas, quando chegaram a Harã, ali se estabeleceram. - Gênesis 11,27-31.

Levando consigo sua mulher Sarai, o sobrinho Ló e todos os bens que possuíam, além dos escravos que haviam adquirido em Harã, Abrão partiu rumo à terra de Canaã, aonde chegaram. – Gênesis 12,5

Conforme percebemos em destaque nos textos acima, entendemos que:

TARÉ, pai dos irmãos: Abrão e Arã.
ARÃO, pai de Ló.
ABRÃO, tio de Ló.
LÓ, sobrinho de ABRÃO.

Porém, no texto abaixo, Ló é chamado de “irmão” de Abrão, embora seja sobrinho:

Abrão disse a Ló: “Não deve haver discórdia entre nós e entre nossos pastores, pois somos irmãos”. – Gênesis 13,8.

Embora Abraão seja somente tio de Ló, ele o chama de “irmão”, pois na língua hebraica não existe outra palavra para designar este tipo de parentesco como sobrinho.

EXEMPLO 2

Rebeca tinha um irmão de nome Labão. Ele saiu correndo até a fonte em busca do homem, - Gênesis 24,29.

Isaac chamou Jacó, deu-lhe a bênção e ordenou: “Vai a Padã-Aram, à casa de Batuel, teu avô materno. Casa-te lá com uma das filhas de Labão, irmão de tua mãe”. – Gênesis 28,2

BATUEL, pai dos irmãos: Labão e Rebeca.
REBECA, mãe de Jacó.
LABÃO, tio de Jacó.
JACÓ, sobrinho de Labão.

Porém, no texto abaixo, Labão é chamado de “irmão” de Jacó, embora só seja seu tio:

Labão disse a Jacó: “O fato de seres meu irmão* não é motivo para que me sirvas de graça; dize-me que salário queres”. – Gênesis 29,15

EXEMPLO 3

Os filhos de Merali foram Mooli e Musi; os filhos de Mooli foram Eleazar e Cis. Eleazar morreu sem deixar filhos, mas teve filhas que se casaram com os filhos de Cis, seus irmãos.* – 1 Crônicas 23,21-22.

MOOLI, pai dos irmãos: Eleazar e Cis.
ELEAZAR teve filhas.
CIS teve filhos.
FILHAS de Eleazar são PRIMAS dos filhos de Cis.

As filhas de Eleazar são chamadas de irmãs dos filhos de Cis, embora só sejam primos.

EXEMPLO 4

Os filhos de Aarão, Nadab e Abiú, tomaram cada um seu turíbulo, puseram neles fogo, colocaram incenso e ofereceram diante do Senhor um fogo profano, que não havia sido autorizado. Então saiu um fogo enviado pelo Senhor, que os devorou, e morreram na presença do Senhor. Moisés disse para Aarão: “A isto se referia o Senhor ao dizer: Serei santificado pelos que se aproximam de mim, e glorificado diante de todo o povo”. Aarão ficou calado. Moisés chamou Misael e Elisafã, filhos de Oziel, tio de Aarão, e lhes disse: “Vinde e carregai vossos irmãos para longe do santuário, para fora do acampamento”. – Levítico 10,1-4

Filhos de Caat: Amram, Isaar, Hebron e Oziel. Caat viveu cento e trinta e três anos. – Êxodo 6,18

Amram casou-se com Jocabed, sua tia, da qual lhe nasceram Aarão e Moisés. Amram viveu cento e trinta e sete anos. – Êxodo 6,20

Filhos de Oziel: Misael, Elisafã e Setri. Aarão casou-se com Isabel filha de Aminadab, irmã de Naason; dela lhe nasceram Nadab e Abiú, Eleazar e Itamar. – Êxodo 6,22-23.

CAAT, pai dos irmãos: Amram e Oziel.
AMRAM, pai de Aarão.
AARÃO, pai de Nadab e Abiú.
OZIEL, pai dos irmãos Misael e Elisafã.
NADAB e ABIÚ são primos de 2º grau de MISAEL e ELISAFÃ.

Nadab e Abiú são filhos de Aarão, enquanto que Misael e Elisafã são filhos do tio de Aarão que se chamava Oziel. O que fica claro é que os dois filhos de Aarão e os dois filhos de Oziel são na verdade primos de segundo grau, porém, no hebraico não existe a palavra para designar primo, o que levou Moisés a trata-los como “irmãos”.

* Algumas traduções da Bíblia para facilitar ao leitor já usam aqui no lugar de “irmão” a palavra parente ou mesmo sobrinho.

NO NOVO TESTAMENTO


O Evangelho de São Marcos cita como “irmãos” de Jesus: Tiago, José, Judas e Simão.

“...Não é ele o filho do carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e Simão? E as suas irmãs não vivem aqui entre nós?” E não queriam acreditar nele. – Marcos 6,3

Seriam estes quatro nomes irmãos de Jesus? Veremos que não!

No evangelho de Mateus são citados duas pessoas com o nome de Tiago. Um é filho de Alfeu e o outro de Zebedeu.

Os nomes dos doze apóstolos são os seguintes: o primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago filho de Alfeu, e Tadeu; - Mateus 10,2-3

Tiago tem um irmão chamado Judas, que é o Tadeu (não o Iscariotes) relatado no evangelho de São Marcos 6,3 (ver acima), conforme podemos confirmar na epístola de São Judas e no evangelho de São Lucas:

Judas, servo de Jesus Cristo, irmão de Tiago, aos eleitos amados em Deus Pai e guardados por Jesus Cristo. – Judas 1,1

Mateus e Tomé, Tiago filho de Alfeu e Simão chamado Zelotes, Judas filho de Tiago** – Lucas 6,16

** “Judas, de Tiago”, que poderia significar também “irmão de Tiago”.

Nos evangelhos de Mateus e Marcos encontramos outra Maria que é a mãe de Tiago (o Menor) e José. Esta Maria não é a mãe de Jesus:

Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. – Mateus 27,56

Havia ali também algumas mulheres, que olhavam de longe. Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago Menor e de José, e Salomé. – Marcos 15,40

Concluímos que aqueles nomes citados no início como sendo irmãos de Jesus têm outros pais e outras mães que não são Maria e José. Eles são, por isso mesmo, primos entre si. A ilustração a seguir (baseada na genealogia de Jesus) representa bem o que acabamos de provar:

JOAQUIM e ANA: pais de Maria.
MARIA: mãe de Jesus.

JACÓ: pai de José (esposo de Maria), Cléofas /Alfeu (esposo de outra Maria).***
JOSÉ (esposo de Maria): pai adotivo de Jesus.
CLÉOFAS e MARIA (não a mãe de Jesus): pais de Tiago, José, Judas e Simão.

JESUS é, na verdade, primo destes quatro irmãos: TIAGO, JOSÉ, JUDAS E SIMÃO que são filhos de Maria, esposa de Cléofas.

Na linguagem hebraica existe somente uma palavra (irr) para designar qualquer parentesco, é por isso que não se pode traduzir, do hebraico, a palavra irmão para irmão de sangue. Portanto, aquele que afirma que Jesus teve mais irmãos incorre em um GRAVE ERRO!

José não “conheceu” Maria.

A origem de Jesus Cristo, porém, foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José. Mas antes de morarem juntos, ficou grávida do Espírito Santo. José, seu marido, sendo homem justo e não querendo denunciá-la, resolveu abandoná-la em segredo. Mas enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e disse: “José filho de Davi não tenhas medo de receber Maria, tua esposa, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus. É ele que salvará o povo de seus pecados”. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamarão com o nome de Emanuel, que significa: Deus conosco”. Quando acordou, José fez como o anjo do Senhor lhe tinha mandado e aceitou sua mulher. Mas não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho. E ele o chamou com o nome de Jesus. – Mateus 1,18-25

“Conhecer”, biblicamente falando, significa ter intimidade (relações). A passagem mostra que José não teve intimidade com Maria.

Nas bíblias protestantes, este versículo (v.25) está um pouco diferente:

Mas não a conheceu até que ela deu à luz um filho. E ele lhe pôs o nome de Jesus. – Mateus 1,25 (tradução contemporânea de João Ferreira de Almeida).

Muitos interpretam erroneamente este versículo e o deturpam com o seguinte pensamento: José não conheceu Maria até que Jesus nasceu. Após o seu nascimento, eles passaram a ter uma vida matrimonial normal, tendo assim, outros filhos e filhas.

No hebraico, a palavra até é usada para designar que assim como era antes, também o será depois. Vejamos alguns exemplos:

E Micol, filha de Saul, não teve filhos até o dia de sua morte. – 2 Samuel 6,23.

Claro que Micol não teve filhos após a sua morte! Portanto, a expressão até empregada em Mateus 1,25 para sugerir que Maria e José tiveram filhos após o nascimento de Jesus e, não há nenhum lugar nas Escrituras há menção de que os “irmãos” de Jesus são filhos de Maria e José.

Isabel era “prima” de Maria

Muitos protestantes, com a intenção de refutar os argumentos citados, utilizam o seguinte texto bíblico afirmando que esta passagem distingue “primos” de “irmãos”:

Até Isabel, tua prima, concebeu um filho e sua velhice, sendo este o sexto mês para aquela que era considerada estéril. – Lucas 1,36 (Tradução de João Ferreira de Almeida).

Nas Bíblias católicas lemos este mesmo versículo assim:

Até Isabel, tua parenta, concebeu um filho em sua velhice, e este é o sexto mês daquela que era considerada estéril. – Lucas 1,36

Os protestantes afirmam que a palavra grega adelphói, nos Evangelhos, significa “primos”, e não “irmãos”. E citam as seguintes passagens para “justificar” o injustificável:

– Isabel, em Lucas 1,36, é tida como prima de Maria; (ver acima).
– em Colossenses 4,10 Marcos é dito primo de Barnabé:

Aristarco, meu companheiro de prisão, envia-lhes saudações, bem como Marcos, primo de Barnabé. Vocês receberam instruções a respeito de Marcos, e se ele for visita-los, recebam-no. – Colossenses 4,10. (Tradução de João Ferreira de Almeida).

Disto, segundo eles, se conclui que a língua grega tem palavra própria para designar o primo. Se o evangelista usou a palavra adelphós em Marcos 6,3 e Mateus 13,55, ele o fez porque Jesus era realmente irmão de Tiago, José, Judas e Simão.

Porém, Isabel não é prima de Maria, mas é syggenís, parenta, familiar. A tradução que verte syggenís por prima é falha (por isso as bíblias católicas geralmente a traduzem por parenta). Ademais, a diferença de idade entre Maria e Isabel era muito grande (Isabel já era estéril quando Maria ainda não co-habitava com José); deviam ser de duas gerações diferentes e não primas (da mesma geração).

Em Colossenses 4,10 São Paulo usa a palavra anepsiós, que significa propriamente primo. Em tal caso, o Apóstolo está escrevendo para cristãos do Império greco-romano, de língua grega, distantes do fundo semita dos Evangelhos. Não se pode esquecer que a língua grega dos Evangelhos supõe um fundo semita, pois o Evangelho é a redação escrita da pregação oral dos Apóstolos feita em aramaico. Ora em aramaico o vocábulo ‘ah’ significa parente ou familiar, e é com este sentido amplo que ele é traduzido para o grego pelo termo adelphós. Deve-se, pois, entender adelphós no sentido de ‘ah’ aramaico. A amplidão de significado de ‘ah’ se depreende, entre outros, do fato de que a própria esposa no Cântico dos Cânticos é dita irmã:

Como são ternos teus carinhos, minha irmã e minha noiva! Tuas carícias são mais deliciosas que o vinho; teus perfumes mais aromáticos que todos os bálsamos. És um jardim fechado, minha irmã e minha noiva, um jardim fechado, uma fonte selada. Vou entrar no meu jardim, minha irmã e minha noiva, colher mirra e bálsamo, comer do favo de mel, beber vinho e leite. – Cântico dos Cânticos 4,10.12; 5,1.

Conclusão

No grego bíblico, o termo “adelphós” (irmão) corresponde ao vocábulo “ah”, que tanto pode significar irmão carnal quanto parente conseguíneo. Assim, a palavra “adelphós” (irmão) é usada também para designar um primo, um sobrinho, um tio ou qualquer parente. Em Gênesis 13,8 Abrão (a mudança de seu nome para Abraão se dará posteriormente) diz a Ló: “[...] somos irmãos”; mas, pouco antes (Gênesis 11,27-31) se lê que Ló era filho de Arão, irmão de Abrão; portanto, Ló era sobrinho de Abrão e não irmão (cf. Gn 29,15 e compare com Gn 27,43 e 29,10-11).

Por trás dessa identificação de “irmão” com “primo” ou “parente”, há um conceito de família diferente do nosso. Ao nos referirmos a uma família, pensamos no pai, na mãe e nos seus filhos. Os orientais, diferente de nós, incluíam nela (muitos até hoje) também os parentes, próximos ou distantes.

Os evangelistas referem-se aos parentes de Jesus como “irmãos e irmãs”, sem nunca chama-los de “filhos de Maria”, nem dizer que Maria fosse mãe deles. Mateus 13,55 e Marcos 6,3 citam alguns “irmãos” de Jesus: Tiago, José, Judas e Simão. Descrevendo a cena do Calvário, porém, o evangelista João diz:

Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. – João 19,25

Marcos destaca que esta outra Maria era mãe de Tiago, o Menor, e de José (cf. Mc 15,40). Estes últimos não eram, pois, irmãos carnais de Jesus, mas seus primos, pois filhos da irmã de sua mãe. ***

*** Alguns teólogos afirmam ser Cléofas irmão de José (esposo de Maria, mãe de Jesus). Outros ainda ser Maria (esposa de Cléofas) irmã de Maria (mãe de Jesus). O fato é que estes “irmãos” de Jesus que são na verdade, seus parentes, são filhos do irmão de José (Cléofas) ou da irmã de Maria (Maria, esposa de Cléofas) mas nunca seus irmãos de sangue. É possível que Cléofas e Alfeu sejam a mesma pessoa, com um nome grego e outro judaico. Ou ainda, que essa Maria, tia de Jesus, casou-se duas vezes, uma com Alfeu, concebendo Tiago e outra com Cléofas, com quem teve outros filhos. Até aqui, tem-se claramente que "Tiago, irmão do Senhor", tinha outro pai e outra mãe. E que esta mãe era, na verdade, tia de Jesus.

Por sinal, no início de sua carta, o apóstolo Judas declara-se “servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago (1,1) e São Paulo diz ainda a respeito de Tiago:

Dos outros apóstolos não vi mais nenhum, a não ser Tiago, irmão do Senhor. – Gálatas 1,19.

Tiago, “irmão” do Senhor, não é filho de José. Alguém poderia alegar que ele é filho somente de Maria, que se casou com outro homem após a morte de José. Porém, nos trechos referentes às mulheres que estavam aos pés da Cruz do Senhor, temos a mãe de Tiago, que é claramente outra pessoa que não a mãe de Jesus.

Maria teve muitos outros “filhos e filhas”
e Jesus teve muitos “irmãos e irmãs”.

A palavra primogênito não é determinante para se concluir que Jesus tenha tido irmãos e irmãs; seu uso é sobretudo jurídico. A lei mosaica exigia que o primogênito (primeiro gerado) fosse consagrado ao Senhor (cf. Ex 13,2), independentemente de mais tarde os pais terem ou não outros filhos.

Ademais, podemos citar ainda:

Enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. Jesus perguntou àquele que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. - Mateus 12,46-50.

As palavras de Jesus nessa passagem podem parecer muito duras. Mas sua intenção não era a exclusão, mas o contrário. Jesus deseja ampliar a sua família. E qual o critério de inclusão? Aqueles que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus. Os critérios de Jesus são também surpreendentes. Muito diferentes daqueles que vivenciamos. Muitas vezes incluo na minha “família”, no meu círculo de amizades, pessoas que de alguma forma possam me trazer algum benefício. Meus critérios são, muitas vezes, a aparência, a posição social, o desempenho intelectual. E o desejo de Jesus desbanca essas minhas lógicas. Só faz sentido estar em família se todo aquele que faz a vontade de meu Pai puder ser verdadeiramente da minha família. 

Ao declarar que todo aquele que faz a vontade de Deus é a Sua família, Jesus não estava renunciando à sua família segundo a carne. Simplesmente Jesus define claramente que o parentesco de ordem humana, seja a mãe, os irmãos ou irmãs que ele tinha, não tem qualquer significação no Reino de Deus. O único “parentesco” permanente que Ele pode ter é de ordem espiritual - e é com aqueles que fazem a vontade de Deus. A estes, Ele chama de irmãos.

Deixando de lado os laços sanguíneos, representado pelo parentesco segundo a carne com sua mãe e seus irmãos, o Senhor Jesus passará agora a ampliar o seu ministério a todos aqueles que o receberem, sem distinção entre judeus e gentios. Não se dará mais exclusividade a Israel, devido à sua incredulidade e rejeição. O relacionamento segundo a carne passa a ser inteiramente superado por afinidades espirituais. A obediência a Deus é agora o fator predominante e definitivo para estabelecer tais afinidades, sem outra distinção qualquer. Em suma, nosso relacionamento espiritual com Cristo produz um vínculo maior do que nosso parentesco de sangue.

Se Maria tivesse tido outros filhos, seria inexplicável que Jesus, na hora de sua morte, a confiasse ao apóstolo João já que os outros filhos é que teriam obrigação de cuidar dela:

Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!”. Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!”. E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa. – João 19,25-27

Na pessoa do discípulo predileto, Maria torna-se mãe de todos os discípulos do Salvador. Neste sentido, portanto, se quisermos afirmar que Maria teve outros filhos e filhas e consequentemente que Jesus teve outros irmãos, devemos dizer que sim, e que nós, os discípulos de Jesus, somos filhos de Maria e mediante o batismo, irmãos de Jesus “de maneira que já não és escravo, mas filho e, se filho, também herdeiro por Deus” (Gálatas 4,7).

É inacreditável que pessoas que busquem a verdade de coração sincero – apesar de perceberem que estão numa mentira - se deixem conduzir pelo protestantismo que semeia confusão em meio a tantas pessoas blasfemando o caminho da verdade e levando inúmeras almas a se perderem,. Como muito bem disse Mons. Ségur: “O protestantismo é a religião daqueles que não têm nenhuma. Entre os protestantes, cada um traça seu próprio caminho; é a confusão religiosa universal. Ninguém conhece aquilo em que acredita, e nem porque acredita; cada um faz o que satisfaz, cada um segue seu próprio capricho”.

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