Mais
uma vez, irmãos caríssimos, a bondade do Senhor nos dá a graça de iniciarmos um
Ano Litúrgico com este sagrado Tempo do Advento.
Como todos sabeis, nestas duas primeiras semanas das quatro que nos preparam para o Santo Natal, a Igreja nos recorda que o Senhor, que veio a Belém, virá no final dos tempos como Juiz, na Sua bendita Parusia, isto é, na Sua Vinda gloriosa.
E é
essencial, amados irmãos, que os cristãos nunca esqueçam isto: o Senhor virá, e
o caminho da criação e a corrida da nossa vida neste mundo são uma peregrinação
ao Seu Encontro!
Nada nem ninguém tem neste tempo, nesta existência, morada permanente: caminhamos para o Senhor, somos filhos daquele Dia bendito, Dia do Cristo Senhor! Sabemos que “a noite deste mundo vai adiantada e o Dia vem chegando”, Dia de luz, Dia de salvação, Dia no qual o Reino que Cristo plantou com Seu piedoso nascimento, morte e ressurreição, haverá de se manifestar com toda a sua força e toda a sua glória!
Por isso mesmo, como são belas as palavras da antífona de entrada, colocada no Missal para esta primeira Missa do novo Ano da Igreja: “A Vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em Vós, que eu não seja envergonhado; pois não será desiludido quem em Vós espera!”
Eis a atitude do cristão diante deste Dia que vem, Dia que é o próprio Cristo glorioso: caminhar bem firme neste mundo com a alma elevada para o Senhor, sabendo que Ele virá ao nosso encontro, e nossa existência é uma preparação para este momento – por isso mesmo a oração inicial da Celebração eucarística deste Domingo pede a Deus a graça de “acorrermos com as nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem”.
Sigamos, portanto, meus caríssimos, sigamos o conselho do santo Apóstolo: “Procedamos honestamente; revesti-vos do Senhor Jesus Cristo!” Neste tempo entre Seu Natal e Sua Parusia, vivamos uma vida de contínua conversão: “Nada de glutonerias e bebedeiras, nem de orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades”, nada de egoísmo que nos fecha aos irmãos, nada de descaso para com os mais fracos e feridos desta nossa vida! Se vivermos realmente assim, com os olhos fitos Naquele que vem, conscientes de que caminhamos para Ele e Dele dependemos, tudo ganha um novo sentido, meus caros, e nós teremos uma verdadeira liberdade e maturidade diante dos desafios da vida!
Irmãos
meus em Cristo Jesus, diante de tantos sinais de impiedade e desprezo de Deus e
da dignidade humana no mundo atual, diante do esfriamento na fé e no fervor de
muitos, diante de tantos sinais desanimadores, dentro e fora da Igreja, muitos
de nós pensam que o mundo está perdido, parecendo uma nau sem rumo; muitos
talvez sejam tentados a perder a esperança e a não mais ver que o Senhor dirige
a história humana.
Não, caríssimos: o mundo foi definitivamente salvo pelo Senhor, o mundo caminha
para o Cristo Jesus, Princípio e Fim de tudo – esta é uma certeza certíssima da
nossa fé cristã! Neste sentido, como não nos encher de esperança e paz
escutando as palavras de Isaías profeta, que falava pensando na vinda do
Messias – vinda em Belém e vinda no final dos tempos? O que diz o Profeta? Que
mistério anuncia? Que esperança suscita em nosso coração? “Acontecerá, nos
últimos tempos, que o monte da Casa do Senhor estará firmemente estabelecido no
ponto mais alto das montanhas. A ele acorrerão todos os povos. De Sião provém a
Lei e de Jerusalém, a Palavra do Senhor.” Que significam estas palavras, meus
irmãos? Esta Casa do Senhor colocada no mais alto dos montes é o novo Israel, a
Igreja, Corpo de Cristo e Templo do Espírito; esta Igreja, nossa Mãe católica,
da qual vem a Lei (não mais a de Moisés, mas a lei do Espírito que dá Vida, a
lei do amor); dessa Casa do Senhor vem a Palavra, que é o próprio Cristo,
anunciado na Liturgia e dado e recebido nos sacramentos! Como é impressionante,
quanto é consolador escutar o Profeta anunciando que a esta santa Casa do
Senhor “acorrerão todas as nações”. Sim, pois o desejo do nosso Deus é que,
crendo em Cristo e recebendo o santo Batismo, “todos se salvem e cheguem ao
conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).
O cristão não deve impor sua fé a ninguém, mas também não deve nunca deixar de anunciar com a palavra e testemunhar com a vida esta esperança que se encontra em Cristo Jesus, Salvador de todos e único Caminho da humanidade. É nossa missão de discípulos de Cristo: sermos Seus missionários, sermos Suas testemunhas, anunciando o Seu santo Nome e a salvação que Ele trouxe a toda a humanidade!
Pois
bem, meus amados, caminhemos neste mundo como aqueles que têm esperança porque
alicerçaram em Deus e no Seu Cristo a sua vida! Como seria triste, quão grande
seria a infidelidade nossa se, esquecidos daquilo que o Senhor nos promete e
nos prepara, nos entregássemos a uma vida leviana, acomodada, morna, desatenta
ao amor do Senhor e aos Seus apelos! Como seria grave pecado de nossa parte
simplesmente viver e pensar e agir como os outros, que sem conhecerem a Cristo,
não têm esperança! Jesus nos exorta gravemente a que vigiemos, a que estejamos
sempre atentos à sua Vinda: Vinda no Fim dos tempos, mas também aquelas vindas
de cada dia, nos tantos apelos que Ele nos faz!
Falando
desta Vinda, que advertências tão sérias ele nos dirige no Evangelho deste
hoje: “A Vinda do Filho do Homem, isto é, do Juiz de tudo, será como no tempo
de Noé: “comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que
Noé entrou na arca” – em outras palavras: a Vinda do Senhor acontecerá no
dia-a-dia de nossa vida, de modo que devemos viver à luz desse Dia, como filhos
desse Dia! E mais: “Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e
o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e
a outra será deixada”.
Compreendeis, irmãos? Estarão trabalhando no campo ou moendo no moinho, fazendo
coisas tão normais, tão pequenas, tão de cada dia, como nós... E, no entanto, o
Senhor virá inesperadamente... E vede que este Dia será de discernimento, de
discriminação, de separação: um será levado com o Senhor; outro será deixado
longe do Senhor, na perdição!
Caríssimos,
cuidemos de viver de tal modo que não sejamos deixados! Fiquemos atentos, não
durmamos, como aqueles que não têm fé! Quem dorme? Dorme quem vive no pecado,
dorme quem repousa na infidelidade, dorme quem justifica sua mediocridade
espiritual, dorme quem não leva o Senhor a sério, dorme quem não rompe com as
obras das trevas! Não durmamos: vigiemos! “Vigiai, porque não sabeis a que hora
vem o vosso Senhor!”
Que este santo Advento nos dê a graça de retomarmos a fé, o ânimo e o espírito de vigilância, para estarmos preparados para o encontro com Aquele que vem. Amém.
Dom Henrique
Soares da Costa
Bispo de
Palmares, PE
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