Muitos
jovens se afastam da vida religiosa ao verificarem o contraste entre a aparente
religiosidade exterior de alguns companheiros e sua esterilidade espiritual.
Outros
trazem à prática da religião demasiado sentimento, e, por seu sentimentalismo,
fazem com que a religiosidade seja mal interpretada pelas pessoas sérias.
Religiosidade é o culto de Deus conjuntamente prestado pela razão,
pelo coração e pela vontade.
O coração,
ou sentimento, tem, pois, também o seu papel, mas um elemento não deve
demasiar-se em detrimento dos outros dois. (…)
E quando [a religiosidade] será real e varonil?
Podem alguns
ter ideias de religião adulteradas quanto quiserem: não poderão negar que ela é
um dos mais belos ornatos que constituem a verdadeira nobreza do homem.
Em nossos
tempos, tentaram tirar da religião a sua autenticidade e substituí-la por
diversas especulações científicas; em vão! Onde se atacou a religião, começou a
decadência da virtude, da honestidade, do sentimento do dever, da consciência,
do caráter — em suma, dos mais belos ideais da humanidade. Podemos buscar
exemplos na história dos antigos gregos, dos romanos e de outros povos. Ali, a
vida dos próprios sábios, que procuravam tudo o que era bom e nobre, não se
isentava de falhas, porque eles não conheciam a verdadeira religiosidade.
Mas o que é a verdadeira religiosidade?
Verdadeira
religiosidade é a submissão da alma humana a Deus, nosso Criador e Supremo Fim.
Esse “dobrar-se” nos dá forças contra o nosso egoísmo, nos torna independentes
do mundo e das nossas inclinações desregradas. A religiosidade prodigaliza à
alma tal ascendência sobre o mundo que Kant a chamou, com razão, de “medicina
universal”, pois nos torna capazes de suportar todas as penas.
Um grande
general dizia: “Ser
soldado é não comer quando se tem fome, não beber quando se tem sede, ajudar o
companheiro ferido quando a gente mesmo apenas consegue arrastar-se”.
Soldado de
Cristo, no entanto, significa ser religioso; quer dizer não cometer pecado,
muito embora a tentação nos alicie; cumprir em todo momento o dever, por mais
pesado que nos pareça; servir a Deus pelo cumprimento heroico de todas as
obrigações da vida.
Se salvares
alguém de um incêndio, ou retirares da água quem está se afogando, farás uma
ação heroica. Em outras circunstâncias, contudo, terás o mesmo merecimento se
recolheres um caco de vidro ou uma casca de laranja para evitar que alguém
corte o pé ou quebre uma perna. Ouvi contar que um jovem aventureiro se sentara
à margem do Danúbio esperando que alguém caísse à água, para salvá-lo. Acho que
ainda hoje lá está sentado e que envelheceu de tanto esperar. Entrementes, ele
perdeu mil ocasiões pequenas, que se teriam apresentado diariamente, para fazer
algum bem. O valor
de uma boa ação não depende da dificuldade que ela apresentou, do tempo que
durou, mas sim da prontidão, atenção, alegria e espírito de sacrifício com que
foi realizada.
Meu ideal
não é um jovem a quem a errônea interpretação de religiosidade tire a alegria,
o temperamento juvenil. Na realidade, há desses “jovens piedosos” que se
retraem timidamente dos companheiros, não têm amizades e consideram
inconveniência e até pecado um bom humor tumultuoso, balbúrdia e chistes
inocentes. São indubitavelmente jovens sinceros e dignos de respeito; mas
julgam, ilusoriamente, que o sentimento religioso se restringe apenas a
exterioridades.
O jovem realmente religioso nunca é excêntrico. Não fala muito de
religião, mas vive segundo ela; não quero dizer com isso que dela se
envergonhe. Entre bons companheiros, não procura ser a todo custo o mais
valente; em companhia, porém, de camaradas levianos, não cede nem um ponto
sequer de suas convicções.
Infelizmente,
na alma de muitos moços, o sentimento religioso murmura apenas como um fio de
água! “Há
por aí, lá longe, acima das nuvens, um bom velhinho, Deus, a quem devemos rezar
de vez em quando ou porque dele queremos alguma coisa, ou porque o tememos”;
nisso consiste toda a sua religiosidade…
Santo Deus!
Que esqueleto de religiosidade é essa, que pão seco em vez de alimento
vivificante! O moço de fé profunda não representa a Deus muito acima das
nuvens, uma vez que Ele é incomensurável e ocupa o mundo inteiro, “pois
nele vivemos, nos movemos e somos”, e, mesmo que o quiséssemos, não
poderíamos fugir dele.
Nem por
sombra deveríamos fugir de Deus: Ele é o amor infinito que nos leva a dobrar os
joelhos; é a bondade inesgotável que atrai o coração do homem com força
magnética!
Para o jovem
verdadeiramente religioso, Nosso
Senhor não é uma ideia oca, uma história que se aprende: onde
nasceu, onde viveu, onde padeceu… Jesus é para ele uma realidade cujo ser
divino se grava em sua alma e nela se incorpora! Sem Ele, a alma é uma gélida
câmara frigorífica; no melhor dos casos, um jazigo mortuário, ornado de joias
preciosas; mas sempre um túmulo sem vida, sem calor, sem coração a pulsar.
Muitos
jovens julgam que a religiosidade é certo gosto de rezar e ir à igreja. São
apenas formas exteriores de religião – aliás, necessárias; mas se a
religiosidade se resumir só nisto, corre o perigo de ser mera exterioridade.
Por
verdadeira e varonil religiosidade eu entendo muito mais. Entendo a certeza que
enche toda a minha vida; o pensamento de que sou, em todo o meu ser, em cada
pulsação do coração, em cada instante, com todos os meus pensamentos, um
humilde filho do Pai Onipotente, com quem, portanto, gosto de conversar, de quem
visito as igrejas com alegria, mas a quem também quero servir a todas as horas,
com todos os meus alentos. Para o jovem realmente religioso, rezar não é
somente recitar o pai-nosso, mas qualquer trabalho e o próprio lazer se
transformam em ato de oração. Oração é a sua refeição, o seu estudo, o
cumprimento dos seus deveres, a sua vida toda, porque ele quer com tudo isso
glorificar a Deus.
Vê, filho meu: isso é religiosidade varonil! Já refletiste desta
maneira sobre o que quer dizer ser jovem religioso?
O que sabe,
de tudo isso, o moço sem vibração de alma, para quem a religiosidade consiste
em recitar sem atenção, à noite, a sua oração, e assistir à missa aos domingos
porque está obrigado? Pobrezinho! Contenta-se com um fio de água quando têm à
mão torrentes copiosas de águas vivificantes!
Verdadeira
religiosidade é alegria e consolação, estímulo e vibração na vida do homem.
Dom
Tihamer Toth,
em “Religião e Juventude”
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Disponível em: Aleteia
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