Se soubessem os
homens resolver-se a reconhecer a autoridade de Cristo em sua vida particular e
pública, deste ato para logo dimanariam em toda a humanidade incomparáveis
benefícios: uma justa liberdade, a ordem e o sossego, a concórdia e a paz
(...).
Se os príncipes e governos legitimamente constituídos tivessem a
persuasão de que regem menos no próprio nome do que em nome e lugar do Rei
Divino, é manifesto que usariam do seu poder com toda a prudência, com toda a
sabedoria possíveis Em legislar e na aplicação das leis, como haveriam de
atender ao bem comum e à dignidade humana de seus súditos! Então floresceria a
ordem, então veríamos difundirem- se e firmarem-se a tranqüilidade e a paz
(...).
Oh! que ventura não pudéramos gozar, se os indivíduos, se as
famílias, se a sociedade se deixasse reger por Cristo! "Então finalmente -
para citarmos as palavras que, há 25 anos, o Nosso Predecessor Leão XIII
dirigia aos bispos do mundo inteiro - fora possível sanar tantas
feridas; o direito recobraria seu antigo viço, seu prestígio de outras eras;
tornaria a paz com todos os seus encantos. ecairiam das mãos armas e espadas,
quando todos de bom grado aceitassem o império de Cristo, Lhe obedecessem, e
toda língua proclamasse que Nosso Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus
Padre" (Enc Annum Sacrum) (...).
A fim de que a
sociedade cristã goze largamente de tão preciosas vantagens, e para sempre as
conserve, é mister que se divulgue quanto possível o.conhecimento da dignidade
real de Nosso Salvador Ora, nada pode, pelo que nos parece, conseguir melhor
este resultado, do que a instituição de uma festa própria e especial em honra
de Cristo Rei.
Com efeito, para instruir o povo nas verdades da fé e levá-lo
assim às alegrias da vida eterna, mais eficazes que os documentos do Magistério
eclesiástico são as festividades anuais dos sagrados mistérios. Os documentos
do Magistério, de fato, apenas alcançam. um restrito número de espíritos mais
cultos, ao passo que as festas atingem e nstruem a universalidade dos fiéis Os
primeiros, por assim dizer, falam uma vez só, as segundas falam sem
intermitência de ano para ano; os primeiros dirigem-se, sobretudo, ao
entendimento; as segundas influem não só na inteligência, mas também no
coração, quer dizer, no homem todo Composto de corpo e alma, precisa o homem
dos incitamentos exteriores das festividades, para que, através da variedade e
beleza dos sagrados ritos, recolha no ânimo a divina doutrina, e,
transformando- em substância e sangue, tire dela novos progressos em sua vida
espiritual.
Além disso, ensina-nos a própria História, que estas
festividades litúrgicas foram introduzidas no decorrer dos séculos, umas após
outras, para. responder a necessidades ou vantagens espirituais do povo
cristão. Foram-se constituindo para fortalecer os ânimos em presença de algum
inimigo comum, para premunir os espíritos contra os ardis da heresia, para
mover e inflamar os corações a celebrar com a mais ardente piedade algum
mistério de nossa fé ou algum benefício da divina graça (...) Assim se deu com
a festa de Corpus Christi, instituída quando se esfriava a reverência e o culto
para com o Santíssimo Sacramento.
A festa,
doravante anual, de "Cristo-Rei" dá-nos a mais viva esperança de
acelerarmos a tão desejada volta da humanidade a seu Salvador amantíssimo (...)
Uma festa, anualmente celebrada por todos os povos em homenagem a Cristo-Rei,
será sobremaneira eficaz para condenar e ressarcir, de algum modo, esta
apostasia pública (...).
Portanto, em virtude de Nossa autoridade apostólica, instituímos
a festa de "Nosso Senhor Jesus Cristo Rei", mandando que seja
celebrada cada ano, no mundo inteiro, no último domingo de outubro (...) porque
ele, em certo modo, encerra o ciclo do ano litúrgico. Destarte, os mistérios da
vida de Jesus Cristo, comemorados no decorrer do ano que finda, terão na
solenidade de "Cristo-Rei" seu como termo e coroa. (Revista Arautos do Evangelho,
Nov/2004).
Papa Pio XI
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