O Ano
Litúrgico começa com a celebração do primeiro domingo do Advento. Celebrando a
memória do mistério pascal de Jesus Cristo, no arco anual, entramos em comunhão
com os eventos da história salvífica, desde a esperança da vinda do Senhor até
a consumação escatológica do Reino de Deus. A temática central desenvolvida na
liturgia da palavra da celebração eucarística é a expectativa da Parusia e, a
consequente, atenção e preparação requerida dos discípulos para receber “aquele
que vem”. Assim, vivendo neste mundo o mandamento do amor, os cristãos aguardam
a vitória final e a plenitude da vida.
De
acordo com os evangelhos sinóticos, Jesus, no final de seu ministério, fez um
grande discurso escatológico (cf. Mt 24; Mc 13; Lc 21). O texto evangélico
apresentado neste domingo é uma parte desse discurso na narrativa de Mateus: Mt
24,37-44. Ele está estruturado em dois momentos: uma analogia entre o tempo do
dilúvio e o dia da vinda do Filho do Homem (cf. Mt 24,37-41) e a imagem da
entrada de um ladrão na casa de um homem (cf. Mt 24,42-44). O primeiro ponto
trata da necessidade de levar a sério o anúncio do retorno do Senhor e o
segundo, o fato do desconhecimento do dia certo da sua chegada.
O dia da
vinda do Filho do homem será como foram os dias de Noé. Nesses dias, as pessoas
davam mais atenção às suas necessidades físicas (comer e beber) e emocionais
(casar-se) do que a sua dimensão espiritual (anúncio da purificação da
humanidade através das águas do dilúvio). Eles reduziram a vida humana apenas
ao nutrir-se e ao reproduzir-se, descurando da mensagem divina de conversão.
Por isso, a sentença tão dura de Jesus: “E eles nada perceberam até que veio o
dilúvio e arrastou a todos” (Mt 24,39). A mesma coisa, todavia, pode voltar a
acontecer por ocasião da vinda escatológica do Senhor. Nas vicissitudes da vida,
acaba por ocorrer uma desvirtuação das dimensões humanas na qual a vida se
limita aos bens básicos e onde, ainda, se negligencia a espiritualidade.
Num
segundo momento, Jesus anuncia o desconhecimento do momento exato da Parusia.
Através da imagem de um ladrão que invade uma casa sem o proprietário saber
– “Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o
ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada” (Mt
24,43) –, o texto trabalha a questão da necessidade da vigilância constante e
de estar sempre preparado para o momento da chegada de Jesus. Por conseguinte,
sem saber quando se dará o retorno de Cristo, os cristãos são convocados para
valorizar cada momento da história, testemunhando a sua fé, a esperança e a
caridade.
Por duas
vezes aparece, então, advertências de Jesus aos seus ouvintes: “Portanto, ficai
atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor”, (Mt 24,42) e “por
isso, também vós ficais preparados! Porque na hora em que menos pensais, o
Filho do Homem virá” (Mt 24,44). Atentos e preparados caracterizam o estilo de
vida dos discípulos diante da imprevisibilidade do momento da Parusia. Em meio
a um ambiente e uma cultura caracterizados por uma busca exclusiva por bens
materiais em detrimento dos valores espirituais, os discípulos são alertados
para nunca esquecerem das promessas de vida plena e verdadeira feitas por
Jesus.
Começando
neste domingo o novo Ano Litúrgico, com o tempo do Advento, a Igreja é chamada
a estar preparada e atenta para a chegada, em poder e glória, de Jesus Cristo.
Na vivência perseverante do amor e do serviço a Deus e aos homens, a caminhada
cristã vai ao encontro daquele que vem. “A última vinda do Senhor será
semelhante à primeira, pois, do mesmo modo que os justos e os profetas o
desejavam, crendo que ele apareceria na sua época, assim cada um dos atuais
fiéis deseja recebê-lo na sua” – nos posiciona Santo Efrém. Que o desejo pelo
encontro definitivo com o Senhor plasme a nossa vida em justiça e santidade.
Padre Vitor Gino
Finelon
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