Os venezuelanos, de maneira especial os doentes e
necessitados, vivem mais um episódio amargo da crise humanitária que
os vitima: desta vez, o Serviço Nacional Integrado de Administração Tributária
(SENIAT) tomou medidas no mínimo questionáveis contra a Cáritas, a mais
importante organização de caridade e ação social da Igreja católica, que atua
no mundo inteiro.
Nesta
quarta-feira, 23 de novembro, o serviço tributário do governo de Nicolás Maduro divulgou
em sua conta no Twitter que um carregamento de 525 caixas de medicamentos e 92 de suplementos alimentares,
doados à Caritas, tinha sido “declarado em abandono legal” após chegar ao país
em 23 de agosto e passar 30 dias sem que a Cáritas apresentasse a documentação
relativa à carga. O órgão do governo, assim, confiscou o material e determinou o seu
encaminhamento ao Instituto Venezuelano de Seguros Sociais.
A declaração
do SENIAT, porém, foi contradita nesta quinta-feira, 24 de novembro, pelo médico José Manuel Olivares, que denunciou o “roubo”, por parte
do governo de Maduro, das 75.000 unidades de remédios doadas pela Cáritas do Chile à Cáritas
da Venezuela.
“Hoje o
governo de Nicolás Maduro está roubando a ajuda humanitária. Hoje o governo de
Nicolás Maduro está roubando os remédios dos venezuelanos. Hoje o governo de
Nicolás Maduro está roubando a solução para os venezuelanos que morrem por
falta de remédios”, declarou com firmeza à Assembleia Nacional o
médico, que também é deputado, diante de jornalistas nacionais e
internacionais.
“Estamos
falando de 75.000 unidades de remédios que o governo de Nicolás Maduro mostra
como uma grande conquista nos seus tuítes. Deem o nome que vocês quiserem, mas
é um governo tão corrupto que é capaz de roubar uma doação, de roubar uma ajuda
humanitária”, enfatizou Olivares.
O deputado pelo Estado venezuelano de Vargas mostrou fotos em
que aparecem funcionários do SENIAT inspecionando as caixas enviadas do Chile
no porto de La Guaira, o que demonstra que os responsáveis pela Cáritas da
Venezuela tinham se reunido, sim, com funcionários do governo venezuelano para
colocá-los a par da chegada dessa doação.
“A
Cáritas da Venezuela se reuniu com três vice-ministros. Eles não podem agora
aparecer com a historinha de que não sabiam”, denuncia o deputado. “Três vice-ministros,
da área social, econômica e de saúde, se reuniram com a Cáritas da Venezuela
para tentar uma solução. A desculpa do governo era que tinham que fazer um
reconhecimento dos remédios e ver se estavam bons para poderem entrar”.
José Manuel Olivares confirmou ainda que o carregamento chegou ao
porto de La Guaira em 23 de agosto e que se passaram nada menos que três meses
de “reconhecimento” por parte do órgão fiscal até que o governo da Venezuela
resolvesse “roubar a ajuda humanitária”.
“Para
deixar [os remédios] vencerem dentro dos contêineres como todos os outros
remédios vencidos que eles têm no Sefar [Servicio Autónomo de Elaboraciones
Farmacéuticas] ou para mandá-los para o grande nicho de corrupção chamado
Seguro Social, onde trazem remédios da China e da Índia de baixa qualidade e
onde não entregam os remédios para os venezuelanos. Senhores do governo, eu
lhes digo de verdade: que Deus tenha misericórdia de vocês. Estamos falando de
vidas! Eu não posso acreditar nos [seus] níveis de indolência e desumanidade”,
recriminou o médico e deputado.
Olivares explicou que a Cáritas da Venezuela fez todos os esforços
para que o governo liberasse o carregamento como gesto de “humanidade” e “responsabilidade”,
mas a administração de Maduro decidiu ficar ela própria com os remédios e
encaminhá-los ao Seguro Social, cuja eficiência no atendimento e distribuição é
muito criticada.
Neste próximo dia 6 de dezembro acontece a terceira rodada de
conversações entre o governo e a oposição, novamente com a participação de dom Claudio Maria Celli como
mediador por parte do Vaticano. Um dos
acordos surgidos nos encontros prévios tinha sido justamente o de permitir a
entrada de medicamentos e alimentos. Por enquanto, parece ter ficado na teoria.
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Aleteia
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