Viagem do Papa Francisco à
Colômbia
Homilia da Santa Missa no Parque Símon Bolívar
Quinta-feira, 7 de setembro de 2017
Homilia da Santa Missa no Parque Símon Bolívar
Quinta-feira, 7 de setembro de 2017
O evangelista recorda que a chamado dos
primeiros discípulos teve lugar nas margens do lago de Genesaré, onde as
pessoas se reuniam para ouvir uma voz capaz de as orientar e iluminar; e é
também o lugar onde os pescadores concluem a sua jornada fatigante, durante a
qual buscam o sustento para levar uma vida sem penúrias, digna e feliz. É a
única vez, em todo o evangelho de Lucas, que Jesus prega junto do chamado mar
da Galileia. No mar aberto, confundem-se a esperada fecundidade do trabalho com
a frustração pela inutilidade dos esforços vãos. Segundo uma antiga
interpretação cristã, o mar também representa a vastidão onde convivem todos os
povos. Finalmente, pela sua agitação e obscuridade, evoca tudo aquilo que
ameaça a existência humana e que tem o poder de a destruir.
Usamos expressões semelhantes para definir multidões: uma maré
humana, um mar de gente. Naquele dia, Jesus tem atrás d’Ele o mar e, à sua
frente, uma multidão que O seguiu ao ver como Ele Se comove perante o sofrimento
humano… e as suas palavras justas, profundas, seguras. Todos vêm ouvi-Lo; a
Palavra de Jesus tem algo de especial que não deixa ninguém indiferente. A sua
Palavra tem o poder de converter os corações, mudar planos e projetos. É uma
Palavra corroborada pela ação, não são conclusões redigidas no escritório,
expressões frias e distantes do sofrimento das pessoas; por isso, é uma Palavra
que serve tanto para a segurança da margem como para a fragilidade do mar.
Esta querida cidade, Bogotá, e este belo país, a Colômbia, têm muito
destes cenários humanos apresentados pelo Evangelho. Aqui vivem multidões que
anseiam por uma palavra de vida, que ilumine com a sua luz todos os esforços e
mostre o sentido e a beleza da existência humana. Estas multidões de homens e
mulheres, crianças e idosos habitam uma terra de fertilidade inimaginável, que
poderia dar frutos para todos. Mas também aqui, como noutras partes do mundo,
há densas trevas que ameaçam e destroem a vida: as trevas da injustiça e da
desigualdade social; as trevas corrutoras dos interesses pessoais ou de grupo,
que consomem, egoísta e desaforadamente, o que se destina para o bem-estar de
todos; as trevas da falta de respeito pela vida humana que diariamente ceifa a
existência de tantos inocentes, cujo sangue brada ao céu; as trevas da sede de
vingança e do ódio que mancha com sangue humano as mãos de quem faz justiça por
sua conta; as trevas de quem se torna insensível ao sofrimento de tantas
vítimas. Todas estas trevas, as dissipa e destrói Jesus com o seu mandato na
barca de Pedro: «Faz-te ao largo» (Lc 5, 4).
Nós podemos enredar-nos em discussões intermináveis, somar
tentativas fracassadas e fazer um elenco de esforços que acabaram em nada; tal
como Pedro, sabemos o que significa a experiência de trabalhar sem resultado
algum. Esta nação também sabe disso, quando nos inícios, durante um período de
seis anos, teve dezesseis Presidentes e pagou caro as suas divisões («a pátria
tonta»); também a Igreja na Colômbia sabe de trabalhos pastorais vãos e infrutuosos…,
mas, como Pedro, também somos capazes de confiar no Mestre, cuja Palavra
suscita fecundidade mesmo onde a inospitalidade das trevas humanas torna
infrutíferos muitos esforços e fadigas. Pedro é o homem que acolhe, decidido, o
convite de Jesus, que deixa tudo e O segue para se transformar num novo
pescador, cuja missão é levar os seus irmãos ao Reino de Deus, onde a vida se
torna plena e feliz.
Mas o mandato de lançar as redes não é dirigido apenas a Simão
Pedro; a ele, coube-lhe fazer-se ao largo, como aqueles que na vossa pátria
foram os primeiros a ver o que era mais urgente fazer, aqueles que tomaram
iniciativas de paz, de vida. Lançar as redes implica responsabilidade. Em
Bogotá e na Colômbia, peregrina uma comunidade imensa, que é chamada a tornar-se
uma rede vigorosa que congregue a todos na unidade, trabalhando na defesa e
cuidado da vida humana, particularmente quando é mais frágil e vulnerável: no
seio materno, na infância, na velhice, nas condições de invalidez, e nas
situações de marginalização social. Também as multidões que vivem em Bogotá e
na Colômbia podem tornar-se verdadeiras comunidades vivas, justas e fraternas,
se escutarem e acolherem a Palavra de Deus. Nestas multidões evangelizadas, hão
de surgir muitos homens e mulheres tornados discípulos que, com um coração
verdadeiramente livre, sigam a Jesus; homens e mulheres capazes de amar a vida
em todas as suas fases, de a respeitar e promover.
É necessário chamar uns pelos outros, fazermos sinais como os
pescadores, voltar a considerar-nos irmãos, companheiros de estrada, sócios
desta empresa comum que é a pátria. Bogotá e a Colômbia são simultaneamente
margem, lago, mar aberto, cidade por onde Jesus passou e passa para oferecer a
sua presença e a sua palavra fecunda, para nos fazer sair das trevas e
conduzir-nos para a luz e a vida. Chamar os outros, chamar a todos para que
ninguém seja deixado ao arbítrio das tempestades; fazer entrar na barca todas
as famílias, santuário de vida; colocar o bem comum acima dos interesses
mesquinhos ou particulares, ocupar-se dos mais frágeis promovendo os seus
direitos.
Pedro experimenta a sua pequenez, a grandeza da Palavra e da ação de
Jesus; Pedro sabe das suas fraquezas, das suas hesitações…, como o sabemos nós,
como o sabe a história de violência e divisão do vosso povo que nem sempre nos
encontrou disponíveis para compartilhar a barca, as tempestades, os
infortúnios. Mas Jesus, como a Simão, convida-nos a fazer-nos ao largo,
impele-nos a compartilhar o risco, a deixar os nossos egoísmos e a segui-Lo;
convida-nos a perder medos que não vêm de Deus, que nos paralisam e atrasam a
urgência de ser construtores da paz, promotores da vida.
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Boletim da Santa Sé
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