sábado, 23 de setembro de 2017

O amor excessivo à Virgem Maria compromete a supremacia de Cristo?


O amor à Virgem Maria, aumentando excessivamente, pode comprometer a supremacia do amor devido a Jesus Cristo? O que é amar, ter uma verdadeira devoção, a Santíssima Virgem Maria? O amor a Nossa Senhora atrapalha nosso amor por Jesus Cristo?

Para responder a estas perguntas, recorremos a São Luís Maria Grignion de Montfort, grande apóstolo da Virgem Maria. No “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, o santo nos ensina que “Jesus Cristo, nosso Salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim último de todas as devoções, de outro modo seriam falsas e enganadoras” (1).

Isso significa que, se quisermos amar verdadeiramente Nossa Senhora e contentar seu Coração materno, devemos amá-la com a intenção última de amar Jesus Cristo, Nosso Senhor! Em princípio, isto pode parecer difícil, mas não é pois ambos estão muito unidos. Mãe e Filho “estão unidos tão intimamente que um está todo no outro: Jesus todo em Maria e Maria toda em Jesus. […] Ela já não existe: é Jesus que é tudo n’Ela” (2).

São Luís Maria não se detém em “explicar as excelências e grandezas deste mistério de Jesus vivendo e reinando em Maria, ou da Encarnação do Verbo. […] Este é o primeiro dos mistérios de Jesus Cristo, o mais oculto, o mais elevado e o menos conhecido” (3).

Em consequência dessa íntima união, amar Maria é amar Jesus, contentar o Coração de Jesus é contentar o Coração de Maria. Mas, na prática, como podemos amar a Virgem Maria? 

O amor a Mãe de Deus nas devoções marianas

A “Ave-Maria é a mais bela de todas as orações, depois do Pai-Nosso. É a saudação mais perfeita que podemos dirigir a Maria, porque é a que o Altíssimo lhe transmitiu por um Arcanjo, a fim de lhe ganhar o Coração” (4). Por isso, devemos crer que a oração da Ave-Maria é muito agradável ao coração materno da Virgem Santíssima.

No Santo Rosário, revelado pela própria Mãe de Deus a São Domingos de Gusmão, que une estas belíssimas orações: o Pai-Nosso e a Ave-Maria, contentamos grandiosamente Nossa Senhora, pois maravilhosa é a eficácia desta oração para a conversão das almas (5).

A estas orações, podemos acrescentar ainda muitas outras que são agradáveis a Mãe de Deus, como o Magnificat, a Coroinha, o Ofício da Imaculada Conceição, a Devoção dos Cinco Primeiros Sábados, o jejum, o sacrifício e a penitência. Mas, entres as devoções marianas, a consagração de amor a “Jesus em Maria” (6), ou “perfeita renovação dos votos e promessas do Santo Batismo” (7), é aquela que é mais cara à Mãe e ao Filho, pois por esta nos damos “inteiramente à Santíssima Virgem, para que por Ela pertençamos inteiramente a Jesus Cristo” (8).

Amar a Virgem Maria em Jesus Cristo
Para amar e contentar a alma simples e humilde da Santíssima Virgem, não há nada que supere o amor ao seu Filho Jesus. Por isso, se queremos amar Nossa Senhora, amemos Jesus Cristo. Concretamente, podemos amar o Senhor de diversos modos. Podemos amar Jesus: na meditação, na leitura orante da Palavra de Deus, na qual o próprio Senhor se faz presente e nos fala; no Sacramento da Confissão, pois é o próprio Senhor que nos perdoa; no Sacramento da Eucaristia, no sacrifício do Filho de Deus, que se entrega para a nossa salvação; no Sacramento da Ordem, amando o Cristo presente no Padre, e este amando Jesus nos fiéis; no Sacramento do Matrimônio, amando Jesus no esposo ou na esposa; naADORAÇÃO ao Santíssimo Sacramento, na qual amamos Jesus em sua presença real, em sua Humanidade e divindade.

O amor a Mãe de Deus no amor a Igreja

A Virgem Maria é Mãe da Igreja e certamente contentamos o seu coração materno quando amamos a Igreja, a Santa Sé em Roma, as Igrejas particular, as Congregações, Nova Comunidades e Movimentos, os Sacramentos e Sacramentais, mas também cada um dos filhos da Igreja. Dentre os membros, temos: os da Igreja triunfante, os anjos e os santos, que gozam da visão beatífica da Santíssima Trindade; os da Igreja padecente, que está no Purgatório, que podemos amar concretamente rezando por essas almas, que sofrem até que possam entrar na Pátria definitiva, no Reino dos Céus; e os da Igreja militante, que somos todos nós que fazemos parte do Corpo de Cristo, que é a Igreja, e estamos em peregrinação rumo à eternidade. O Papa Pio XII nos recorda que devemos amar os membros do Corpo Místico de Cristo com ardente caridade, não somente em pensamentos e palavras, mas também em obras (9). Os membros da Igreja militante são aqueles que mais podemos amar. Pois, além de rezar pela salvação de suas almas, especialmente daquelas pessoas que a Providência de Deus aproxima de nós, podemos também oferecer a nossa amizade, o conforto espiritual, principalmente nos momentos de sofrimento, a ajuda material conforme as necessidades dos nossos irmãos em Cristo.

O amor a Maria no amor à Humanidade e à Criação

Podemos ainda amar Nossa Senhora amando a Humanidade e a Criação. Pois, o Homem é imagem e semelhança de Deus (10) e a Criação é Sua obra (11). Por isso, amar a Humanidade e a Criação é amar Jesus e Maria. As perfeições e a beleza de Deus se fazem presentes nos homens e mulheres, criados à Sua imagem e semelhança, e também na natureza criada por Ele. Na prática, somos chamados a amar a Humanidade, especialmente naquelas pessoas mais necessitadas de nossa oração, do apoio moral, da ajuda material. Nestes e em outros gestos concretos, podemos nos espelhar na Virgem de Nazaré. Depois do anúncio do Anjo da Encarnação do Verbo, que lhe revelou também a gravidez milagrosa de sua prima Isabel, Maria foi apressadamente ao encontro da sua parente para levar Jesus e a experiência do Espírito Santo (12), além da sua ajuda nos afazeres domésticos e no cuidado de sua prima. Quanto ao amor à Criação, talvez o exemplo mais conhecido seja São Francisco. O Pobre de Assis dedicou sua vida no amor à Igreja, aos mais necessitados, mas também amou de modo singular a Criação. Francisco soube amar Deus na Criação, nas perfeições e na beleza da natureza, tanto que foi nomeado como Patrono da Ecologia pelo Papa João Paulo II, no dia 29 de novembro de 1979 (13). Seu amor à natureza não pode ser confundido com idolatria. Pois, Francisco amava a natureza por causa do Homem, que é o centro da Criação. Deus criou a natureza, os seres vivos, para o Homem e este glorifica o Criador submetendo a terra e dominando as aves, os peixes e os animais (14), com o cuidado e a responsabilidade de deixar às futuras gerações o dom que recebeu de Deus.

Amar a Virgem Maria é amar Jesus Cristo

Assim, amar a Virgem Maria é muito simples, tão simples como o seu Coração de Mãe. Para contentar a Mãe basta amar o Filho e ter uma sincera busca por realizar a Sua vontade, como ela disse aos serventes das bodas de Caná: “Fazei o que Ele vos disser” (15). Maria não quer e não retém nada para si. Nossas orações, sacrifícios, jejuns, penitências, boas obras, a Santíssima Virgem “nada reserva para si do que lhe dão, como se fosse fim, mas tudo remete fielmente a Jesus” (16). Por isso, não tenhamos medo de confiar tudo à Mãe da Igreja, principalmente os nossos bens espirituais. Confiemos também à Virgem o nosso amor ao Senhor na participação da Santa Missa e nos demais Sacramentos, nas meditações da Palavra de Deus, na ADORAÇÃO a Jesus Eucarístico. Entreguemos à Mãe de Deus o amor a Jesus no amor pela Santa Igreja, especialmente aos nossos irmãos na fé mais necessitados. Coloquemos nas mãos de Maria o amor a Cristo em nosso amor pela Humanidade e pela natureza, pois a Criação geme e sofre como em dores de parto (17). Não tenhamos medo de amar Maria, pois ela está tão intimamente unida a Jesus que, amando a Mãe, amamos também o Filho. Nossa Senhora, Mãe de Deus e Mãe da Humanidade (18), ensina-nos a amar.


Natalino Ueda,
escravo inútil da Virgem Maria.
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1 TVD 61.
2 Idem, 247.
3 Idem, 248.
4 Idem, 252.
5 Cf. TVD 249.
6 TVD 246.
7 Idem, 120.
8 Idem, 121.
9 PAPA PIO XII. Carta Encíclica Mystici Corporis.
10 Cf. Gn 1, 26.
11 Cf. Gn 1, 1-25.
12 Cf. Lc 1, 39-45.
13 A12. Franciscanos criam página para celebrar 35 anos de São Francisco como Patrono da Ecologia.
14 Cf. Gn 1, 28.
15 Jo 2, 5.
16 TVD 148.
17 Cf. Rm 8, 22.
18 TODO DE MARIA. Maria: Mãe da Humanidade.
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