domingo, 3 de setembro de 2017

Palavra de Vida: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me» (Mt 16, 24).


Jesus, no meio da sua vida pública, num momento alto do anúncio de que o Reino de Deus está próximo, prepara-se para subir a Jerusalém. Os seus discípulos, que tinham intuído a grandeza da sua missão – tendo reconhecido nele o Enviado de Deus, esperado pelo povo de Israel -, aguardam finalmente a libertação da dominação romana e o alvorecer de um mundo melhor, portador de paz e prosperidade.

Mas Jesus não quer alimentar essas ilusões e diz-lhes claramente que a sua viagem para Jerusalém não o levará ao triunfo, mas sim à rejeição, ao sofrimento e à morte. Revela-lhes também que, ao terceiro dia, ressuscitará. São palavras difíceis de compreender e aceitar, de tal maneira que Pedro reage, manifestando a sua recusa a um projeto tão absurdo, e chega até a querer dissuadir Jesus.

Então Jesus, depois de uma severa censura a Pedro, dirige-se a todos os discípulos, fazendo-lhes um convite desconcertante:

«Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me».

Afinal, com estas palavras, o que é que Jesus pede aos seus discípulos de ontem e de hoje? Quererá que nos desprezemos a nós mesmos? Quer que nos dediquemos todos a uma vida ascética? Pretende que procuremos o sofrimento para agradar a Deus?

Esta Palavra exorta-nos, antes de mais, a seguirmos os passos de Jesus, aceitando os valores e as exigências do Evangelho, para nos parecermos cada vez mais com Ele. E isto significa viver toda a vida em plenitude, como Ele fez, mesmo quando, no caminho, aparece a sombra da cruz.

«Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me».

Não podemos negar: cada um de nós tem a sua cruz. A dor, nas suas várias formas, faz parte da vida humana. Quase sempre, ela parece-nos incompreensível e contrária ao nosso desejo de felicidade. Todavia, é precisamente aí que Jesus nos ensina a descobrir uma luz inesperada. É o que acontece quando, ao entrar em certas igrejas, descobrimos que os vitrais – que de fora pareciam escuros e sem beleza –, afinal, são magníficos e luminosos.

Àqueles que O querem seguir, Jesus exige uma completa inversão de valores: tomar consciência de que não somos o centro do mundo e que não podemos olhar só para o nosso interesse pessoal. Propõe-nos que prestemos mais atenção às exigências dos outros, do que às nossas. Que gastemos as nossas energias a fazer felizes os outros, como fez Ele próprio, que não perdeu uma única ocasião para confortar e dar esperança a todos aqueles que encontrou. E, com este caminho de libertação do egoísmo, iniciar-se-á para nós o crescimento em humanidade e a conquista da liberdade, que realizam plenamente a nossa personalidade.

«Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me».

Jesus convida-nos a sermos testemunhas do Evangelho, até mesmo quando esta fidelidade for posta à prova pelas pequenas ou grandes incompreensões do ambiente social onde vivemos. Jesus está connosco e quer-nos com Ele nesta aventura de dar a vida por um ideal mais ousado: a fraternidade universal, a civilização do amor.

Esta radicalidade em amar é uma exigência profunda do coração humano. Há testemunhos de personalidades de tradições religiosas não cristãs que também seguiram plenamente a voz da sua consciência. Gandhi escreveu: «Se alguém me matasse e, ao morrer, eu tivesse nos lábios uma oração pelo meu assassino, bem como a recordação de Deus e a certeza da sua viva presença no santuário do meu coração, só assim é que se poderia dizer que eu tinha a não-violência dos fortes» (1).

Chiara Lubich encontrou, no mistério de Jesus crucificado e abandonado, o remédio para sarar todas as feridas pessoais e qualquer falta de unidade entre pessoas, grupos e povos, e partilhou com muita gente esta descoberta. Em 2007, por ocasião de uma manifestação de Movimentos e Comunidades de diversas Igrejas, em Estocolmo, escreveu:

«Cada um de nós sofre, durante a vida, dores semelhantes às de Jesus, ao menos em parte. (…) Quando sentirmos (…) essas dores, lembremo-nos d’Ele que as tornou suas: elas são como que uma presença sua, uma nossa participação na sua dor. Façamos como Jesus, que não endureceu o coração, mas – ao acrescentar àquele seu grito as palavras: “Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito” (Lc 23, 46) – abandonou-se nas mãos do Pai.

Como ele, também nós podemos ir para além da nossa dor e superar a prova, dizendo: “Nela amo-te a ti, Jesus Abandonado; amo-te e recordo-me de ti; ela é uma expressão tua, um rosto teu”. E se, no momento seguinte, nos pusermos a amar o irmão e a irmã, fazendo o que Deus quer, então experimentamos, na maioria das vezes, que a dor se transforma em alegria (…). Nos pequenos grupos em que vivemos (…) podem acontecer pequenas ou grandes divisões. Também nessa dor podemos ver o Seu rosto, ultrapassar aquela nossa dor e fazer de tudo para recompor a fraternidade com os outros. (…) A cultura da comunhão tem como caminho e modelo Jesus crucificado e abandonado» (2).


Letizia Magri
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1) M. K. Gandhi, Antiche come le montagne, Ed. di Comunità, Milão 1965, pp. 95-96; 2) C. Lubich, Para uma cultura de comunhão – Encontro Internacional “Juntos pela Europa” – Estugarda, 12 de maio de 2007 – site web http://www.together4europe.org/
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Movimento dos Focolares Pt

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