No último domingo foi fechada em Porto Alegre uma exposição de mais de duzentas obras de arte, de mais de oitenta artistas, que havia
começado no dia 15 de agosto, promovida pelo Banco Santander Cultural, com
benefícios da Lei Rouanet. A exposição foi encerrada devido a uma enxurrada de
protestos e reações pela internet. A repercussão foi mundial através dos meios
de comunicação.
Algumas obras faziam alusão à pedofilia com frases em
crianças como: "criança viada, deusa das águas"; outra criança com
arco-íris cobrindo o rosto, símbolo da diversidade sexual, e a palavra love ou
amo, em inglês; outras ainda sugeriam a zoofilia ou sexo com animais e ainda
partículas usadas na consagração da missa, com nomes de órgãos sexuais. Quem
protestou não gostou do que viu e quem expôs não gostou da reação de quem
protestou. Quem estará com a razão?
Fala-se em liberdade de expressão. Ainda, se defende que a
arte transgride o senso comum para suscitar reflexão. A repercussão criou o
debate. Se ele vai buscar razões profundas para compreender essa questão, isso
não se sabe.
Eu também gostaria de fazer algumas perguntas: primeiro
gostaria de saber do autor da exposição o que ele pretende dizer ao escrever
vagina e língua num plástico que continha dentro partículas de missa? Que
debate ele quer suscitar? Será que isso é respeitoso com a religião católica ou
mesmo cristã que faz da ceia ou da comunhão o seu momento mais sagrado? Ou quem
fez isso não sabia que para nós, cristãos, isso é sagrado? Até onde a arte pode
transgredir para provocar a reflexão? Pode ser desrespeitosa com valores do
outro? Ou talvez o autor da exposição tenha tido em sua intenção o máximo de
respeito com esse símbolo religioso e todos os que viram interpretaram errado?
Estariam esses visitadores enganados?
Quanto à pedofilia: se eu coloco um arco íris escondendo o
rosto de uma criança, colocando na boca da criança a palavra amo, estou eu
respeitando a criança ou estou dizendo algo por ela, antes que ela mesma tenha
consciência disso? Será isso respeito à diversidade ou incentivo e promoção da
diversidade? Respeitar e acolher a diversidade, atitude fundamental e
necessária em nosso tempo, não é o mesmo de promover. A diversidade não precisa
de marketing ou promoção. A diversidade existe, está aí. Ou alguns consideram
que ela precisa de propaganda? Não bastaria termos atitudes de acolhida e
respeito humano com a diversidade? Quem expôs essas pinturas de crianças pensou
em criar mais acolhida ou promover a diversidade?
Se a arte é livre, mas uma grande parcela da sociedade a
considera desrespeitosa e ofensiva, esses têm o direito de livremente
considerá-la ofensiva ou desrespeitosa? Ainda, em nome da liberdade de
expressão, se pode ir até onde ou o que me é permitido dizer? Aqueles que
interpretaram que algumas imagens promoviam a possibilidade do sexo com
animais, teriam se enganado? Mas, o que mesmo o autor quis dizer? Gostaria ele
de promover a discussão para vermos o quanto descente é fazer sexo com animais?
Ou quis dizer que o sexo com animais é algo perverso? Se quis dizer que é
perverso, porque sua arte não deixou isso mais claro? E se quis promover a
discussão sobre a possibilidade de zoofilia, será esse um tema discutível ou
estará indicando uma perversão do humano e o fim dos limites da próprio pensamento?
Será decente pensar nisso ou algumas coisas não são passíveis de discussão?
Vejam, que essa polêmica dá o que pensar. Muitas outras
perguntas seriam possíveis. Certamente quem expôs teria outras perguntas a
fazer à sociedade que protestou. O fato é que a discussão deveria levar o
pensamento a perceber o que nos torna mais humanos, respeitosos da diversidade,
livres e ao mesmo tempo responsáveis com a diversidade e com o futuro. Vítor
Franklin, um grande psicólogo do sentido da vida, disse um dia: ao lado da
Estátua da Liberdade construída nos Estados Unidos se devia construir a Estátua
da Responsabilidade. Uma sem a outra não dá certo.
Pe. Ezequiel Dal
Pozzo
Diocese de Caxias do
Sul, RS
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