Jesus ficava encantado quando comia com as pessoas. Por isso não é estranho para nós que Ele compara o Reino a um Rei que preparou um banquete ao que convida todos. Os insistentes convites do rei no evangelho de hoje através dos seus emissários, que não são outros que os profetas, encontram os seus destinatários indiferentes, desprezando a honra que Ele lhes tinha feito, preocupados só pelos assuntos materiais: negócios e mais negócios. Por terem sido cuidadosamente eleitos pelo rei como comensais da festa de bodas, se percebe que eram de um certo grau, que aos olhos do rei tinham um certo privilégio, o que também agrava notavelmente o seu comportamento, que chega ao ultraje e à mesma morte dos porta-vozes reais que levam os convites. Que ofensa e que humilhação infligidas ao rei! Até pegaram e mataram os que levavam os convites do Rei. Assim se explica o motivo de porquê na parábola não se considera exagerada a reação do monarca, o qual ordena que as suas tropas façam justiça aos assassinos e incendeiem a sua cidade, quase como para apagar da face da terra toda a lembrança de tão horrível episódio.
“Dizei aos convidados que já está preparado o meu banquete (…). Vinde às bodas!” (Mt 22,4). Jesus deixou-nos esse prodígio de amor, que é a eucaristia, para que participemos de suas alegrias eternas. Ele instituiu o sacramento do seu corpo e do seu sangue no contexto de uma ceia e se deu em alimento para que nós, fortalecidos, pudéssemos chegar à glória celestial. Mas a eucaristia não é somente um banquete, nem é um simples banquete. Trata-se de um banquete sacrificial. O Catecismo da Igreja Católica faz essa conexão – eucaristia-ceia – já que o Novo Testamento também o faz: “Jesus expressou de modo supremo a oferta livre de si mesmo na refeição que tomou com os Doze Apóstolos na “noite em que foi entregue” (1 Cor 11,23). Na véspera de sua Paixão, quando ainda estava em liberdade, Jesus fez desta Última Ceia com seus apóstolos o memorial de sua oferta voluntária ao Pai, pela salvação dos homens: “Isto é o meu corpo que é dado por vós” (Lc 22,19). “Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26,28)” (Cat. 610).
Como se pode considerar diversamente o desprezo dos bens divinos por parte de alguns de nós, a rejeição de um Deus que oferece a sua própria vida ao homem? Por que alguns não participam da missa, por que não se confessam, por que não leem a Bíblia? Veem à minha memória aquelas severas palavras de são Paulo: “Não façais ilusões, com Deus não se brinca” (Gal 6, 7). Não se pode desdenhar impunemente os dons de Deus, e ainda menos pretender que Deus renuncie o seu plano de salvação universal, opondo-lhe um muro de incompreensão e superficialidade. Excluir-se deste plano indica só o fracasso do homem e não de Deus. É isso o que quer dizer a parábola quando mostra o rei que envia os seus servos às ruas para juntar quantos encontrar, “bons e maus”, e assim encher a sala do banquete, substituindo os “indignos”.
Nesse banquete devemos entrar com traje de gala, isto é, com a graça santificante, que no Apocalipse se descreve como “vestido de linho das obras justas dos santos” (19, 8). É preciso ter a túnica branca da pureza, a coroa de palmeira ou a oliva da caridade, e as sandálias e os pés limpos após a fadiga e a luta. Segundo o protocolo oriental, o rei não participava no banquete, porém num certo momento entrava na sala para receber o obséquio e o agradecimento dos convidados. No Oriente, desde os tempos remotos do rei Hamurabi (s. XVIII a.C.), os reis acostumavam presentear aos seus hóspedes vestidos idôneos para a solenidade das suas audiências ou para o privilégio do comparecimento diante deles. O homem da parábola que não tinha vestido de festa foi porque não quis prover-se do traje –que estava na entrada do palácio-, o que indica uma falta de respeito não menos grave que a daqueles que rejeitaram o convite do Rei. Também foi expulso à geena eterna, o inferno. Nenhuma interpretação poderá negar que Cristo ameaçou com este castigo irreparável quem faz vãos os dons de Deus, rejeitando a sua graça. Porém, não nos esqueçamos de que também esta terrível parábola precede às três parábolas da misericórdia, já que Deus ameaça com a intenção de perdoar e nos corrigir.
Que triste seria se desprezássemos tanto amor de Deus! Como eu participo da santa missa? Desejo, de verdade, que chegue o momento de participar da próxima missa? Procuro ir bem preparado para participar do banquete que o Senhor fez para mim, para a minha salvação e para o fortalecimento do meu apostolado? Encontro na santa missa o centro da minha vida espiritual?
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Textos: Isaías 25,6-10; Filipenses 4,12-14.19-20; Mateus 22,1-14
Caros irmãos e irmãs, a liturgia da Palavra deste domingo
utiliza a imagem do banquete para descrever a comunhão que Deus deseja
estabelecer com todos. No ambiente sóciocultural do mundo bíblico, o banquete
manifesta o momento da partilha, da convivência, da comunhão e do estabelecimento
de laços familiares entre os convivas. Além de um acontecimento social, o
banquete tem frequentemente, uma dimensão religiosa. Os banquetes sagrados
celebram e potenciam a comunhão entre Deus e os fiéis, como nos relata as
passagens bíblicas dos sacrifícios de comunhão celebrados no Templo de
Jerusalém (cf. Lv 3).
Quem
organizava um banquete, procurava fazer uma seleção cuidadosa dos convidados: a
presença de pessoas inadequadas poderia abalar, consideravelmente, o perfil da
família; e, por outro lado, a presença à mesa de pessoas importantes realçava a
sua importância. Neste sentido, o profeta Isaías, na segunda leitura,
anuncia que Deus, no futuro, vai oferecer um banquete e todos serão convidados.
Trata-se, portanto, de uma iniciativa de Deus. Os que aceitarem este convite,
estarão em comunhão total com Deus (cf. Is 26,6-10).
No
Evangelho, dando sequência ao tema do banquete, o evangelista São Mateus, nos
apresenta duas parábolas diferentes: a dos convidados para o “banquete” (v.
1-10) e a do convidado que se apresentou sem o traje adequado (v. 11-14). As
duas parábolas estão unidas pela mesma proposta.
A
primeira parábola (vers. 1-10) ressalta a figura de um rei que organiza um
banquete para celebrar o casamento do seu filho. Convidou várias pessoas, mas
os convidados recusaram o convite, cada um apresentando as suas
desculpas. Trata-se de um quadro gravíssimo: recusar o convite era uma
ofensa grave. Mas, como se isso não bastasse, esses convidados manifestaram um
desprezo inconcebível pelo rei, matando os seus servos. O convite do rei
encontra inclusive reações hostis, agressivas. Mas isto não faz diminuir a sua
generosidade. Ele não desanima, e envia os seus servos a convidar muitas outras
pessoas. A recusa dos primeiros convidados tem como efeito a extensão do
convite a todos, sem nenhuma exceção. O rei resolveu, apesar de tudo, manter a
festa e mandou que fossem trazidos para o “banquete” todos os que estivessem
nas “encruzilhadas dos caminhos”. Todos foram convidados para sentar junto à
mesa do rei.
Na
parábola, Deus é o rei que convidou Israel para o “banquete” do encontro, da
chegada dos tempos messiânicos; para as bodas do seu filho, uma alusão a Jesus
Cristo. Os sacerdotes, os escribas, os doutores da Lei recusaram o convite. Então,
Deus convidou todos para o banquete, inclusive os pecadores que, segundo a
teologia oficial da época, estavam fora da comunhão com Deus. Para Jesus,
o sentar-se à mesa com os pecadores é uma forma privilegiada de lhes dizer que
Deus os acolhe com amor e que quer estabelecer com eles relações de
familiaridade, sem excluir ninguém do seu convívio.
A segunda
parábola é a parábola do convidado que se apresentou na festa sem o traje
nupcial (11-14). Segundo o protocolo oriental, o rei não participava no banquete,
porém, num certo momento entrava na sala para receber o obséquio e o
agradecimento dos convidados. No Oriente, desde os tempos remotos, os reis
costumavam presentear aos seus hóspedes com roupas idôneas para a solenidade
das suas audiências ou para o privilégio do comparecimento diante deles. O
homem da parábola que não tinha o traje da festa, não quis prover-se desta
veste, que ficava na entrada do palácio, o que indica uma falta de respeito não
menos grave que a daqueles que rejeitaram o convite do Rei. O rei que organizou
o banquete mandou, então, lançá-lo fora da sala onde se realizava a festa.
Assim como aqueles que recusaram o convite, ele também foi condenado ao
inferno.
Fica
doloroso e chega até a ser contraditório perceber que em um certo momento da
festa um homem é expulso de uma maneira tão violenta, porque não estava com a
veste adequada. Mas, o objetivo da parábola é apresentar uma advertência
para aqueles que aceitaram o convite de Deus para a festa do Reino, aderiram à
proposta de Jesus e receberam o batismo, mas é ainda necessário vestir um
estilo de vida que ponha em prática os ensinamentos de Jesus. Quem foi batizado
e aderiu ao banquete do Reino, mas recusa o traje do amor, do serviço e da
misericórdia; e continua com as vestes do egoísmo, da arrogância, por isso, não
pode participar da festa do encontro e da comunhão com Deus.
São
Gregório Magno, em um comentário sobre esta parábola, explica que aquele
hóspede respondeu ao convite do Senhor para participar no seu banquete, de certa
forma, tem a fé que lhe abriu a porta da sala, mas falta-lhe algo essencial: a
veste nupcial, que é a caridade, o amor. Aqueles que foram chamados e
comparecem, de alguma maneira, têm fé. É a fé que lhes abre a porta; mas
falta-lhes o hábito nupcial do amor. Quem não vive a fé com amor, não está
preparado para as núpcias e é expulso (cf. SÃO GREGÓRIO MAGNO, Homilia 38, 9;
PL 76, 1287). Quem estava sem a veste poderia ser um dos fariseus que não
obedeceram ao Cristo. Não aceitaram o convite à conversão que Ele veio
trazer.
Nós
também somos convidados para o banquete da Eucaristia, banquete da Igreja,
banquete das núpcias do Cordeiro. Para participarmos deste banquete também
necessitamos trajar a veste do Batismo, aquela veste branca, que deve ser o sinal
da nossa pureza, manifestada pelas boas obras que realizamos. Não podemos
participar da Eucaristia, sendo portadores de ações contrárias aos princípios
ensinados pelo Evangelho. Mediante a pergunta do Rei: “Amigo, como entraste
aqui sem o traje de festa?”, observamos que “o homem nada respondeu!” (v. 12).
Um dia também teremos que prestar contas a Deus e a Ele pertence o julgamento;
a nós, compete conservar pura a veste do nosso Batismo.
Lembremos
que todos nós somos convidados a sermos comensais do Senhor, a estar no seu
banquete, mas devemos vestir e guardar o hábito nupcial e viver um profundo
amor a Deus e ao próximo, por esta razão a parábola termina dizendo: “Muitos
são os chamados, poucos são os escolhidos” (Mt 22,14). Não podemos esquecer
que o Banquete Eucarístico do qual participamos é o Banquete que o rei, o Pai
eterno, nos preparou: banquete da aliança do seu Filho com a humanidade.
Conforme nos fala o Livro do Apocalipse: “Felizes aqueles que foram convidados
para o banquete das núpcias do Cordeiro” (Ap 19,9). Este Cordeiro, é o
próprio Jesus dado e recebido em comunhão.
Possamos acolher com alegria este convite e sermos
dignos de participar dessa mesa sagrada. E que possamos estar entre os
felizes convidados para a ceia do Senhor e que, dentre os muitos convidados,
possamos nós estar entre os escolhidos. E, ao participarmos desta ceia,
possamos estar revestidos do homem novo, com modéstia, perdão mútuo e caridade.
PARA REFLETIR
A Palavra de Deus do
Domingo último falava-nos da vinha; a Palavra de Deus deste hoje fala-nos de
banquete! Quantas vezes, na Sagrada Escritura, o Reino dos Céus é comparado a
um banquete! Para os orientais, o banquete, a festa ao redor da mesa, é sinal
de bênção, pois é lugar da convivência que dá gosto de existir, da fartura que
garante a vida e do vinho que alegra o coração. É por isso que Jesus hoje nos
diz que “o Reino dos Céus é como a
história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho”. Ora,
caríssimos irmãos, foi isso que Deus faz desde a criação do homem: pouco a
pouco, ele foi preparando a festa de casamento do Filho seu, Jesus nosso
Senhor, com a humanidade!
Disso nos
trata a primeira leitura de hoje: já no Antigo Testamento, Deus falava a Israel
sobre o destino de vida, luz e paz que ele preparava para toda a
humanidade: “O Senhor dará neste monte,
para todos os povos, um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro,
servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos. Ele removerá, neste monte,
a ponta da cadeia que ligava todos os povos. O Senhor Deus dominará para sempre
a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces…” Eis,
caríssimos, é de paz o pensamento do Senhor para nós; é de vida, de liberdade,
de felicidade! Se o Senhor havia escolhido Israel como seu povo, era para que
fosse ministro dessa salvação. O monte Sião seria o lugar donde brotariam a
salvação e a bênção de Deus para toda a humanidade. Infelizmente, Israel não
compreendeu sua missão. É o que Jesus nos explica na parábola de hoje (a
terceira que trata desta questão: a primeira foi a do irmão mais velho que
disse que faria a vontade do pai e não fez; a segunda foi a dos vinhateiros
homicidas, a terceira é a de hoje).
Na parábola,
o rei é o Pai; o casamento do Filho Jesus é a Aliança nova que Deus quer selar
com toda a humanidade; os empregados são os profetas e os apóstolos. Deus
preparou tudo; em Jesus fez o convite: “Vinde
para a Festa!”, mas Israel não aceitou! A festa de acolher o
Messias, o Filho amado, Aquele que traz a vida a toda a humanidade! “O rei ficou indignado e mandou tropas para
matar aqueles assassinos e incendiar a cidade deles” – aqui
Jesus se refere ao incêndio de Jerusalém, a Cidade Santa, que os romanos iriam
realizar no ano 70, quarenta após a sua morte e ressurreição. Eis! Os
convidados não quiseram participar da festa, Israel rejeitou o convite do
Messias! Que fazer? O rei ordena aos servos: “’Ide até às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa
todos os que encontrardes!’ E a sala ficou cheia de convidados”. Somos
nós, os que antes éramos pagãos e não conhecíamos o Deus de Israel. Pela voz
dos Apóstolos e dos pregadores do Evangelho, o Senhor nos reuniu de todos os
povos da terra, das encruzilhadas dos caminhos da vida, e nos fez o seu povo, o
novo povo, a Igreja! Assim, a sala do banquete, a sala da aliança nova e
eterna, ficou repleta, porque o desejo de Deus é que todos se salvem!
Caríssimos,
nunca deveríamos esquecer que a Igreja, da qual fazemos parte como membros e
filhos, e que somos nós mesmos, é fruto de um desígnio de amor do Pai eterno
que, na plenitude dos tempos, no chamou e reuniu em Cristo Jesus! Nunca
deveríamos esquecer que este Banquete eucarístico do qual participamos agora é
o Banquete que o rei, o Pai eterno, nos preparou: banquete da aliança do seu
Filho, o Esposo, com a Igreja, sua Esposa! Eis: somos os convidados para o
banquete das núpcias da aliança do Cristo com a sua amada Esposa… e o alimento,
o Cordeiro, é o próprio Jesus dado e recebido em comunhão! Pensemos um pouco na
responsabilidade de sermos Povo de Deus, de sermos os escolhidos para ser o
povo da Aliança…
Escutemos
ainda, o final da parábola: “Quando
o rei entrou para ver os convidados, observou aí um homem que não estava usando
traje de festa!” Cristão, convidado para o banquete da
Eucaristia, banquete da Igreja, banquete das núpcias do Cordeiro, qual é o
traje de festa? É a veste do teu Batismo, aquela veste branca, que deves
conservar pura pela tua vida, pelas tuas obras, pelo teu procedimento! Não
aconteça ser tu esse homem que entrou na festa sem o traje apropriado! É o que
aconteceria se viesses, é o que acontecerá se vieres para esta Eucaristia santa
com uma vida enodoada pelas ações contrárias ao que o Evangelho do Reino te
ensina! “Amigo, como entraste aqui sem
o traje de festa?” – eis, que pergunta tremenda o Senhor nos
faz! O que lhe responderemos? “O
homem nada respondeu!” Não há o que responder! Amados,
chamados, convidados, por que não nos esforçamos para ser dignos da tal rei, de
tal Filho, de tal festa? “Então,
o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai-o e jogai-o fora, na escuridão! Aí haverá
choro e ranger de dentes!” Eis, caríssimos, a nossa
responsabilidade! O Senhor nos deu o dom de ser cristãos; cobrará de modo
decidido o que fizermos com nossa fé, com nossa vida em Cristo! O próprio Jesus
nos previne, de modo muito claro, que “muitos
são chamados e poucos são escolhidos”… Ninguém se iluda,
pensando que porque é cristão já está salvo! Isso é bobagem e prepotência! Ao
Senhor pertence o julgamento; a nós, conservar pura e conosco a veste do nosso
Batismo!
Pensemos bem
no modo como estamos vivendo nossa vida cristã e, de modo especial, nossa
Eucaristia! E que o Senhor nos dê a graça de participar dignamente do Banquete
do Senhor, nesta vida, nas missas que celebramos, e um dia, por toda a
Eternidade! Amém.
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