LITURGIA: DEVERES E RESPONSABILIDADES DAS PARÓQUIAS
“FIAT MISERICORDIA TUA”
Carta circular 01/2017
Ao Clero, Religiosos, Religiosas, Seminaristas e às Equipes de Liturgia das Paróquias da nossa Diocese de Zé Doca,
Aproveitando a Carta – circular que os bispos receberam da Congregação de Culto Divino e Disciplina de Sacramentos (os padres e as casas religiosas irão receber a cópia), decidi escrever – lhes e tratar de alguns assuntos importantes sobre a liturgia. No número 01 da Carta – circular é explicada a competência do Bispo, os deveres e as responsabilidades dele para com a vida litúrgica na Diocese. E ao passar quase três anos como Bispo desta Igreja Particular, tenho minhas próprias observações sobre a nossa atuação litúrgica.
1. Em geral, graças a Deus, não existem grandes abusos na prática litúrgica da Diocese, mas isto não quer dizer que não encontrei algumas coisas que precisam ser prontamente mudadas.
2. Nossa pastoral litúrgica está praticamente em coma, sem motivação alguma para avançar. Muitas vezes as Paróquias enviam os participantes para encontros de formação litúrgica e depois não permitem e não acolhem os ensinamentos, ignoram as orientações e não levam a sério as propostas. Neste caso melhor não se desgastar, para que fingir participação e nada fazer?
3. Nenhum de nós inventou a Liturgia da Igreja, logo, nenhum de nós tem direito a mudar a seu bel-prazer, nada. Somos ministros e seguimos as orientações da Igreja, os cultos particularizados não condizem com o espírito de unidade e de culto universal da Igreja Católica Apostólica Romana.
4. Na Carta – circular se fala do pão e do vinho usados na Missa. Sobre o pão não tenho nada a dizer, porque não parece problema algum. Sobre o vinho é outra coisa. Não é permitido usar outro a não ser vinho chamado “canônico” (na nossa realidade brasileira é mais seguro este). Outros vinhos não cumprem as exigências da Igreja e não podem ser usados para celebração da Missa.
5. Precisa investir mais e formar melhor nossos coroinhas / acólitos. Percebe se que não conhecem a liturgia da Missa, só executam alguns ritos ensaiados, estão mais preocupados com as vestes e os senhores padres sabem que muitas vezes em peso aparecem nos festejos, sem participar da vida da comunidade paroquial ao longo do ano, inclusive das formações. Não valorizam, porque a gente também faz o mesmo, só que de outra maneira; para não perdê-los aceitamos serviços medíocres e suportamos incompetência. E os frutos estão por aí.
6. Evite-se nas Missas na hora chamada “ação de graças”, depois da comunhão, apresentações e outros tipos de homenagens. Este momento da Eucaristia é agradecimento pela presença de Jesus Eucarístico recebido na Comunhão e em hipótese nenhuma pode ser desfocado de sua finalidade mais profunda. Depois da oração pós – comunhão, pode se fazer as homenagens preparadas (sempre em sintonia com a liturgia vivenciada e não como apresentação teatral ou algum show religiosamente duvidoso).
7. Nas Missas festivas e solenes podemos observar que quanto mais invenções mais bagunça acontece. As Missas ficam cansativas e sem espirito de oração. Esquece-se que o nosso povo tem direito de se expressar na liturgia celebrada, mas nunca desfigurar a mesma. Investindo mais na qualidade, iremos fazer uma verdadeira revolução! A criatividade litúrgica tem seus limites e não é saudável quando ignora e rejeita o culto oficial da Igreja; fazendo isto se mostra falta de conhecimento da liturgia católica.
8. Graças a Deus, não é grande problema o uso de paramentos litúrgicos pelo clero e os que servem nas celebrações. Nos momentos solenes, deve se observar não apenas nossa comodidade, mas também as expectativas do povo.
(Uma vez fui celebrar a Crisma numa Paróquia e levei apenas túnica, estola e mitra. Depois uma irmã “brigou” comigo: Por que o senhor não trouxe casula? Irmã – respondi – a senhora sabe como é quente esta igreja e de casula eu ficaria acabado. E ela disse – Eu entendo Dom, mas eles têm a Crisma uma vez na vida e merecem o melhor... Não preciso explicar mais nada – Eu me paramento não para mim, mas por Deus e para o povo...).
9. Evite-se os paramentos fantasiosos que estão já em desuso. Bom senso aconselha entrar em sintonia com a Igreja toda. Somente porque algo não é proibido, não quer dizer que deve ser usado e na prática causa mais comentários e estranheza, que elogios.
10. A liturgia da Igreja é riquíssima e abre muitas possibilidades de culto. Podemos celebrar nossa fé não exclusivamente nas igrejas e capelas, mas também nas casas do nosso povo e no ar livre. A celebração Eucarística é uma oração mais perfeita e merece todo o respeito, muita atenção e cuidado para não banalizar o que é divino. Temos muitos outros momentos litúrgicos que precisamos valorizar: as celebrações dos Sacramentos, as celebrações da Palavra de Deus, com ou sem Comunhão Eucarística, a adoração ao Santíssimo Sacramento, os Terços, as Novenas, os encontros de oração da renovação ou dos outros movimentos ou pastorais, as celebrações realizadas nas casas dos enfermos ou nas horas difíceis, como velórios e sepultamentos e também nas horas de alegria abençoando os novos domicílios ou repartições públicas...
11. Nossa liturgia deve ser inclusiva e acolher todos os que querem ajudar nas celebrações. Ninguém pode e deve fazer tudo! Então, o Pároco ou as pessoas por ele autorizadas, procurem abrir as portas e tentar envolver cada um e encontrar o lugar e o serviço na celebração que condiz com a situação particular do indivíduo.
Por exemplo, se alguém não pode receber a Eucaristia, não quer dizer que deve ser reduzido a mero espectador da celebração... Será que nada pode fazer na Missa? A Igreja, povo santo e pecador, celebra os mistérios da salvação! Jesus nos ensina: “Não são as pessoas com saúde que precisam de médico, mas as doentes. Ide, pois, aprender o que significa: ‘Misericórdia eu quero, não sacrifícios’. De fato, não é a justos que vim chamar, mas a pecadores” (Mt 9,12-13).
Amados Filhos e Filhas, meus colaboradores e colaboradoras imediatos, deixo nas vossas mãos estes pensamentos e peço que sejam feitas as correções apontadas e que se faça uma reflexão profunda do assunto, para o bem do nosso povo e nosso também, para que nossas celebrações sejam verdadeiramente liturgias divinas, que nos levam ao encontro pessoal com Deus, com nossos Irmãos e Irmãs e de fato façam da Igreja uma Comunidade de Fé e Amor, para que possam dizer de nós; “Vejam como eles se amam”.
Com paternal afeto minha bênção vos envio.
+Dom João Kot, OMI
Bispo de Zé Doca - MA
Zé Doca, 15 de agosto de 2017
Solenidade da Assunção de Nossa Senhora
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Diocese de Zé Doca
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