A Pontifícia Universidade Católica (PUC) decidiu adiar a Semana LGBT que iria acontecer entre os dias 12 e 14 de setembro no campus de Londrina. A medida foi anunciada na tarde desta terça-feira (05) depois que uma petição eletrônica para barrar o evento foi publicada na internet no início da semana. O evento foi questionado pelo ensaísta e tradutor Bernardo Pires Küster, que alega que a realização do evento contradiz a ideologia da instituição que é ligada à Igreja Católica. O evento está sendo organizado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE).
A decisão foi assinada pelo arcebispo metropolitano de Curitiba, Dom José Maria Peruzzo, que é o grão-chanceler da PUC no Paraná e pelo arcebispo metropolitano de Londrina, Dom Geremias Steinmetz. A nota diz que a repercussão do abaixo-assinado gerou ”diferentes compreensões dos setores da sociedade”. “Para salvaguardar o diálogo e evitar toda forma de intolerância nesse momento conflituoso, a reitoria da PUC PR, juntamente com a diretoria do Campus Londrina, diretoria de Identidade da Universidade e membros do DCE... achou por bem adiar o referido evento”.
A PUC reagendou a Semana LGBT para o período entre 2 e 5 de outubro e incluiu na organização do evento e na participação das palestras um teólogo católico “para garantir o alinhamento com os princípios da Igreja e da Universidade”. No último mês de agosto, a PUC do Rio de Janeiro também promoveu um seminário sobre ideologia de gênero que causou protestos da comunidade LGBT fluminense. O coletivo Madame Satã que defende a causa LGBT protestou na porta da universidade contra a ausência de debatedores favoráveis ao assunto.
Em maio de 2016, a PUC de São Paulo promoveu um evento com a temática LGBT que contou com a participação de membros de associações que defendem os direitos de transexuais, como Fernanda de Moraes, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), e a polêmica ex-vereadora Soninha Francine, que também é favorável à causa. Na ocasião, não houve nenhum teólogo católico escalado para o debate. No último mês de agosto, a PUC também polemizou ao abrir um banheiro unissex no campus de São Paulo que também gerou protestos de setores da Igreja.
Vídeo
Bernardo Küster publicou na segunda-feira (03) um vídeo em seu perfil nas redes sociais em questionando a realização da Semana LGBT na PUC de Londrina alegando conflito ideológico entre o teor do posicionamento dos debatedores e as diretrizes da instituição que é ligada à Igreja Católica. Ele diz “que não é contra o debate de temas como o aborto e a ideologia de gênero”, embora seja declaradamente contrário ao assunto, mas criticou a realização do evento numa instituição como a PUC.
Os participantes que estavam escalados para os debates eram a transexual e ativista da área de direitos humanos, Mel Campos, a médica da família, Débora Anhaia de Campos, entre outros nomes.
Na postagem, Küster vai até a porta do Centro Pastoral Dom Bosco onde interfona procurando o arcebispo de Londrina, Dom Geremias Steinmetz. Ele pede também que os católicos e simpatizantes assinem a petição cobrando uma posição do arcebispo. Segundo a assessoria de imprensa da Arquidiocese de Londrina, o número de mensagens que chegaram pedindo o cancelamento do evento havia passado de 10 mil no final da manhã desta quarta-feira (06).
“No símbolo da universidade (PUC) tem a chave de São Pedro e a Mitra Papal. O que isso significa? Que está sob tutela do Papa e da Igreja Católica. Debater aborto e ideologia de gênero em um auditório chamado João Paulo II é algo muito simbólico. É como se a gente fizesse um evento contra a ideologia de gênero no centro de Sociologia da USP ou da Uel”, comparou ele na postagem.
Küster esteve lotado como assessor no gabinete do vereador Filipe Barros (PRB) até o mês de julho e possui posicionamentos parecidos com o polêmico vereador. Ele diz que “não tem pretensões políticas”, como sair candidato, e que seu posicionamento sobre o aborto e ideologia de gênero “são anteriores ao seu contato com Barros”. Ele teria se desligado das funções da Câmara por causa de “mudanças internas na equipe do gabinete”.
Curso de Teologia da PUC se pronuncia contra o evento
O Centro
Acadêmico São João Paulo II, do curso de Teologia da PUCPR – Campus Londrina
divulgou em seu Facebook uma nota, na qual reforçou, citando o Papa polonês,
que uma Universidade Católica deve tem a “responsabilidade de comunicar à
sociedade de hoje aqueles princípios éticos e religiosos que dão pleno
significado à vida humana”.
Citou ainda as recentes condenações do Papa Francisco, que desde o
início do seu Pontificado já se pronunciou diversas vezes contra a ideologia de
gênero.
Uma dessas ocasiões, como recordou a nota do Centro Acadêmico de Teologia, ocorreu durante um encontro com Bispos da Polônia, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude de 2016, quando Francisco denunciou que “na Europa, na América, na América Latina, na África, em alguns países da Ásia, há verdadeiras colonizações ideológicas. E uma destas – digo claramente com nome e sobrenome – é a ideologia de gênero”.
Nesse sentido, ressaltando sua “fidelidade ao Evangelho de Cristo
e à Igreja Católica Apostólica Romana”, os membros do Centro Acadêmico
defenderam “que os homossexuais devem ser acolhidos com respeito”, mas
repudiaram “o lobby LGBT e a ideologia de gênero, que atentam contra os valores
do Evangelho e contra a família”.
Professores da PUC-PR manifestam-se a favor do evento
Também diante desta Semana LGBT, foi lançado na
plataforma CitizenGo uma petição que já conta com mais de 10 mil assinaturas, a
qual solicitava um pronunciamento do Arcebispo de Londrina, Dom Geremias
Steinmetz.
Na noite de terça-feira, 5 de setembro, a
Arquidiocese de Londrina publicou em seu site uma nota de esclarecimento
assinada pela Reitoria da PUCPR, direção do Campus Londrina.
No texto, afirma que a iniciativa do Diretório
Central dos Estudantes de realizar a Semana LGBT “gerou diferentes compreensões
de pessoas e setores da sociedade londrinense”. Confira:
NOTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE A SEMANA LGBT
Evento foi adiado para 02 a 05 de outubro de 2017
Sinal vivo da fecundidade da inteligência cristã no coração de cada cultura, a Universidade Católica distingue-se pela sua livre investigação de toda a verdade acerca da natureza, do humano e de Deus e, como salienta a Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae, “a nossa época tem necessidade urgente desta forma de serviço abnegado que é proclamar o sentido da verdade, valor fundamental sem o qual se extinguem a liberdade, a justiça e a dignidade do homem” (n. 04). Diante disso, e atentos às realidades atuais, torna-se imprescindível que a PUCPR discuta temas que hoje se apresentam como ‘’fronteiriços’’, entre eles as questões que envolvem a vivência da sexualidade. A reflexão acerca de tais temáticas torna-se inevitável no interior da Universidade Católica e serão realizadas sempre à luz do Evangelho e da Tradição da Igreja.
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da PUCPR, campus Londrina, em uma iniciativa própria, organizou uma semana de debates e reflexões intitulada Semana LGBT, agendada para os dias 12, 13 e 14 de setembro, com o objetivo de refletir sobre a dignidade humana, saúde pública, políticas públicas e acolhimento à população LGBT. Tal iniciativa gerou diferentes compreensões de pessoas e setores da sociedade londrinense.
Para salvaguardar o diálogo e evitar toda forma de intolerância nesse momento conflituoso, a Reitoria da PUCPR, juntamente com a Diretoria do Câmpus Londrina, Diretoria de Identidade da Universidade e membros do DCE, com a anuência de seu Grão-Chanceler (Dom José Antônio Peruzzo) e do Arcebispo Metropolitano de Londrina (Dom Geremias Steinmetz), achou por bem adiar o referido evento.
Cônscios de que a antropologia fundamental do processo de ensino-aprendizagem da PUCPR é pautada pelo Evangelho, essa mesma instituição faz jus ao diálogo aberto, franco e respeitoso e, portanto, essas reflexões terão nova data: 02 a 05 de outubro de 2017. A organização do evento, bem como as palestras, contará com a presença de um teólogo católico, isso para garantir o alinhamento com os princípios da Igreja e da Universidade.
Amparados na tradição marista, a PUCPR propõe, portanto, como um de seus valores a Interculturalidade, a qual busca a unidade na diversidade, por meio do respeito, do diálogo, da acolhida e da sinergia resultante das nossas relações a partir das expressões da cultura, seus agentes e contextos.
Reitoria da PUCPR
Direção do Câmpus Londrina da PUCPR
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