A Igreja está ou não fazendo o suficiente? |
Nesta semana, o papa Francisco recebeu
em encontro privado seis vítimas de abusos sexuais cometidos por clérigos.
Vindas da Irlanda, da Grã-Bretanha e da Alemanha, elas assistiram à missa com o
pontífice na capela da Casa Santa Marta, compartilharam o almoço com ele e, em
seguida, se reuniram em particular com o papa e lhe contaram as suas dolorosas
histórias. O encontro aconteceu depois da segunda reunião de uma comissão
especial estabelecida pelo próprio papa e voltada a enfrentar o problema dos
abusos sexuais por parte do clero.
O
abuso sexual contra menores, cometido por padres católicos, é um crime
abominável que o papa Francisco comparou
a um "culto sacrílego". Assim como o papa emérito Bento XVI, também
Francisco assumiu a luta contra esse flagelo e pediu perdão em nome da Igreja.
Expressando os sentimentos da maioria dos católicos, o papa declarou:
"Diante de Deus e do seu povo, expresso a minha tristeza pelos pecados e
pelos graves crimes de abusos sexuais cometidos por clérigos contra vocês. Eu
humildemente peço perdão".
Previsivelmente,
os críticos da Igreja católica estão insatisfeitos. Barbara Blaine, presidente
da Rede de Sobreviventes Vítimas de Abusos de
Padres (SNAP, na sigla em inglês) desprezou a importância do encontro de
Francisco com as seis vítimas. O pedido de desculpas feito pelo papa também não
foi suficiente para a SNAP. Blaine declarou: "Francisco deve tomar medidas
decisivas já" para enfrentar o escândalo mais diretamente. Ela minimizou o
apelo do papa por reparações e disse que “frear o abuso e proteger as crianças
vem em primeiro lugar. Nenhuma criança na face da terra ficou hoje mais segura
por causa desse encontro. Com ou sem a Igreja, as vítimas de abuso podem ser
tratadas. Mas só com a ajuda da Igreja é que as crianças podem ser protegidas
dos clérigos abusadores. É nisto que o papa deve se concentrar. E é nisto que
ele se recusa a agir”.
Se
Blaine é especialista neste problema, como afirma ser, ela está mentindo
deliberadamente. Ela deve saber dos extensos planos de proteção à criança que a
Igreja já está pondo em prática há anos. Além da criação de uma comissão
internacional para lidar com o problema, Francisco respondeu com clareza e
vigor em vários momentos. Em face dos contínuos ataques anticatólicos
realizados pelas Nações Unidas e por outras entidades, o papa Francisco
defendeu as ações da Igreja em uma entrevista de março ao diário italiano
Corriere della Sera: "A Igreja católica é, possivelmente, a única
instituição pública a ter agido com transparência e responsabilidade"
nesse tipo de escândalo.
William
Oddie, do Catholic Herald, destaca o que a Igreja católica tem feito para
resolver o problema e coloca a crise em
um contexto social, mostrando que a Igreja católica está longe de ser a única
instituição afetada. Citando Francisco e mostrando o que está sendo feito,
Oddie ressalta o alto índice de abusos sexuais contra crianças em escolas
públicas norte-americanas e cita as notícias vindas da Inglaterra nesta semana,
que revelam histórias de proporções chocantes sobre abuso sexual infantil no
mundo político e do entretenimento da Grã-Bretanha.
Em
todo o planeta, os bispos católicos colocaram em prática programas extensos de
proteção aos menores. Nos Estados Unidos, por exemplo, 194 dioceses
possuem programas de treinamento para garantir ambientes seguros. Mais de 2
milhões de adultos foram treinados para reconhecer comportamentos de abusadores
e reagir adequadamente. Mais de 5 milhões de crianças foram ensinadas a se
proteger de abusos. Além dos treinamentos, são verificados os antecedentes de
todos os funcionários que entram em contato com crianças nessas dioceses.
Todas as dioceses do país têm códigos de conduta
que detalham o que é um comportamento aceitável e recorrem aos serviços de
coordenadores de assistência às vítimas.
Em 2012, oito milhões de dólares foram gastos pelas dioceses em terapias para
as vítimas de abusos sexuais cometidos pelo clero. Além disso, todas as
dioceses norte-americanas têm coordenadores de ambiente seguro que garantem a
conformidade contínua com a Carta para a Proteção de Crianças e Jovens. A
política de tolerância zero para com abusadores está em vigor no país desde
2002. Quando um único ato de abuso sexual cometido por um padre ou por um
diácono é comprovado depois do adequado processo canônico, o sacerdote ou
diácono abusador é permanentemente afastado do ministério.
Nenhum aspecto de todo este trabalho é reconhecido pela SNAP nem pela imprensa. Em vez disso, como o papa Francisco afirmou, a Igreja católica continua a ser um bode expiatório. Barbara Blaine e a SNAP continuam fingindo que não há nada sendo feito. Os participantes da convenção anual da SNAP testemunham a sua atmosfera de ódio extremo contra a Igreja católica. Poderia haver outra motivação para os seus constantes ataques à Igreja católica? Há ligações bem identificadas entre o financiamento da SNAP e o advogado Jeff Anderson, especializado em processar a Igreja.
O que mais a Igreja católica pode fazer para resolver a crise dos abusos sexuais?
A comissão criada pelo papa deve certificar-se de que o princípio da tolerância zero seja observado em todas as estruturas da Igreja, mas, acima de tudo, as autoridades católicas devem ser mais proativas na hora de informar a todos sobre o que está sendo feito dia após dia, em nível local, para evitar os abusos contra crianças. Aqueles de nós que trabalham nas paróquias e nas escolas dos Estados Unidos podem testemunhar os cursos extensivos de treinamento, certificação, verificação de antecedentes e as políticas de proteção à criança que estão em vigor. Os católicos precisam divulgar que a política de tolerância zero está em pleno funcionamento.
Também devemos denunciar os boatos, as mentiras e a intolerância anticatólica. Os padres católicos não são os únicos agressores. Várias pesquisas revelam que o problema é muito pior em outros setores da sociedade. Temos que admitir os nossos defeitos, repará-los e nos tornar melhores, mas também temos que continuar a divulgar a história completa dos abusos sexuais cometidos por sacerdotes. Estudos objetivos e factuais como “Pedophiles and Priests: Anatomy of a Contemporary Crisis”, de Philip Jenkins, e o “John Jay Report” apontam os fatos reais sobre o assunto. São estudos que expõem a verdade e a contextualizam. Nós precisamos ser mais proativos para proclamar essa verdade.
Em nome de toda a Igreja, é bom que o papa Francisco tenha recebido as vítimas e pedido perdão. É bom que estejamos encarando a terrível verdade sobre alguns homens doentes que atuavam como sacerdotes. É bom que estejamos encarando a verdade sobre os bispos que encobriram esses criminosos.
Mas também é bom proclamarmos a verdade completa sobre os abusos sexuais cometidos contra menores: é bom insistirmos na justiça tanto em favor das vítimas quanto em favor de todos os envolvidos nesta sórdida e dolorosa tragédia.
Pe. Dwight Longenecker
___________________________________
Fonte: Aleteia
Nenhum comentário:
Postar um comentário