O
Jornal "O Globo" noticiou aqui, no dia 26 de junho, que "Vaticano divulga documento
que revê posição quantos aos homossexuais". Com esta chamada equivocada, o
veículo de informação induz seus leitores a pensar por antecipação que, de fato, o Papa Francisco, ou algum dos
dicastérios, elaborou de próprio punho um documento que instrui uma posição
diversa daquela apresentada no Catecismo da Igreja Católica, de 1992, e na
Carta aos Bispos Sobre o Cuidado Pastoral de Pessoas Homossexuais, 1986.
Trata-se,
na verdade, de uma pesquisa de opinião entre os "católicos" -
guardadas as devidas ressalvas - que servirá como documento de discussão para o
próximo Sínodo, disponível aqui. Não se trata, então, de um
documento do Magistério, que determina o ensino sobre a fé e a moral. Seu peso
não é o de uma encíclica, de um documento pastoral contendo o ensinamento da
Igreja, mas sim de um relatório de pesquisa, de mera opinião do povo. Os bispos
a ouvirão, ponderarão tudo sob a ótica do depositum
fidei transmitido desde os
Apóstolos, e dali poderá ou não sair algum documento que, ainda assim, não
poderá estar - nem ser entendido - em contradição com o ensino da fé e da moral de sempre.
A
notícia induz a um erro pior com respeito ao tema "casamento gay". O
jornal recorda as palavras do Santo Padre quando ele esteve no Brasil, por
ocasião da JMJ. Quando o evento acabou e ele retornava ao Vaticano, o Papa
Francisco falou aos entrevistadores que "Se
uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para
julgá-la?". Comentamos tal fato, na época, nesta postagem, e divulgando este outro artigo. Estas palavras, a despeito de todos
os esclarecimentos posteriores, espalharam confusão evidentemente, tanto que
vários "católicos" falam nas paróquias, ambientes de trabalho, mídias
e redes sociais, de rever a posição da Igreja sobre a união civil gay. Porém,
mais uma vez, é preciso enfatizar que uma coisa é a opinião de alguns católicos
consultados dentro de uma pesquisa, outra coisa é o Magistério da Igreja. Esta
distinção, ao bem da verdade, não devia ser necessária, pois todo cristão
católico deve se submeter ao Magistério e, por uma questão de lógica: se crê,
aceita; se não aceita, não crê. Não faz sentido que o crente professe com a
boca a adesão à verdade revelada por Nosso Senhor, e transmitida pelos
Apóstolos e seus sucessores, enquanto, simultaneamente, alimente o protesto em
seu coração e queira inventar sua própria verdade à moda do momento. Ou crê
numa fé revelada por Deus e que vem do Outro que é a Verdade, ou não é crente, mas alguém que segue as próprias
idéias e a própria imaginação que vem
de si próprio. Faz-se mister lembrar a esses que a
fé é dom de Deus, logo vem de fora. A
não ser que se julguem ser Deus eles próprios.
Contudo, é verdade que, sobre certos temas, nós católicos não precisamos estar de acordo. Por exemplo, se a homossexualidade é de origem psicológica ou de outra ordem, se é curável ou tratável. Pois tal questão não é objeto de fé, mas de ciência, e sobre ela, não há consenso entre os cientistas. Porém, como o bem do conhecimento é a verdade, que diz sobre uma mesma realidade, então, mesmo discordando sobre o que é objeto aberto a tal, precisamos prosseguir tentando descobrir o que é verdadeiro e o que é falso. Sem a vontade de alcançar o conhecimento da verdade, toda discussão é vã e cai numa mera listagem de opiniões.
No entanto, no caso da união civil gay, que é assunto de política e moral, não há chances de discordância, pois a posição da Igreja já está definida quanto ao seguinte: as práticas homossexuais são intrinsecamente desordenadas e "não podem ser aprovadas em nenhum caso" (Carta aos Bispos Homosexualitatis problema, 1986, n.3).
"Apoiando-se
na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição
sempre declarou que 'os atos homossexuais são intrinsecamente desordenados'.
São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem
de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em nenhum caso podem ser aprovados (nullo in casu possent accipere approbationem)"
(Catecismo da Igreja Católica, n.2357)
Logo
nem aprovação no âmbito moral, nem aprovação no âmbito político. Ressalvados os
direitos que as pessoas com tendências homossexuais têm enquanto pessoas e
cidadãos, como qualquer outra pessoa e cidadão, a união civil entre pessoas do
mesmo não deve ser aprovada, pois o Estado tem o dever de tutelar a família
enquanto composta por homem, mulher e seus filhos, posto que esta é a
célula-mãe da sociedade. Como o Magistério da Igreja explica no documento de
1986, qualquer aprovação de algo semelhante à união civil entre pessoas do
mesmo sexo abrirá precedentes para outras deformações do casamento e da família
(poligamia, pedofilia, bestialidade, incesto, etc).
"Todavia,
a necessária reação diante das injustiças cometidas contra as pessoas
homossexuais não pode levar, de forma alguma, à afirmação de que a condição
homossexual não seja desordenada. Quando tal afirmação é aceita e, por
conseguinte, a atividade homossexual é considerada boa, ou quando se adota uma
legislação civil para tutelar um comportamento ao qual ninguém pode reivindicar
direito algum, nem a Igreja nem a sociedade em seu conjunto deveriam
surpreender-se se depois também outras opiniões e práticas distorcidas ganham
terreno e se aumentam os comportamentos irracionais e
violentos" (Carta aos bispos Homosexualitatis problema, n.10).
Cabe
lembrar que a Congregação para a Doutrina da Fé possui um documento em que fala
sobre o assunto, na forma mais abrangente de legislações sobre "direitos
homossexuais". O documento está disponível aqui.
Rezemos
e ajamos para que mais esta confusão se corrija a tempo, antes de causar mais
dano e escândalo entre os fiéis. Contamos com a ajuda dos leitores para a
divulgação. Tendo comemorado no domingo passado a Festa de São Pedro e de São
Paulo, rezemos para que a fé da Igreja mantenha-se firme e inabalável e os
lobos não nos amedrontem, nem dispersem o rebanho do Senhor.
São Pedro e São Paulo, rogai por nós!
__________________________________
Fonte: Courage Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário