CATEQUESE
Praça
São Pedro – Vaticano
Quarta-feira,
26 de agosto de 2015
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Depois de ter refletido sobre como a família vive
os tempos da festa e do trabalho, consideramos agora o tempo da oração. A
queixa mais frequente dos cristãos diz respeito ao tempo: “Deveria rezar mais…;
gostaria de fazê-lo, mas muitas vezes me falta o tempo”. Ouvimos isso
continuamente. O arrependimento é sincero, certamente, porque o coração humano
procura sempre a oração, mesmo sem sabê-lo; e se não a encontra não tem paz.
Mas para que se encontre, é preciso cultivar no coração um amor “quente” por
Deus, um amor afetivo.
Podemos nos fazer uma pergunta muito simples. Tudo
bem acreditar em Deus com todo o coração, tudo bem esperar que nos ajude nas
dificuldades, tudo bem sentir-se no dever de agradecê-Lo. Tudo certo. Mas
queremos também um pouco de bem ao Senhor? O pensamento de Deus nos comove, nos
surpreende, nos suaviza?
Pensemos na formulação do grande mandamento, que
sustenta todos os outros: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração,
com toda a tua alma e com todas as forças” (Dt 6, 5; cfr Mt 22, 37). A fórmula
usa a linguagem intensiva do amor, derramando-o em Deus. Bem, o espírito de
oração mora antes de tudo aqui. E se mora aqui, mora todo o tempo e não sai
nunca. Conseguimos pensar em Deus como uma carícia que nos dá em vida, antes da
qual nada existe? Uma carícia da qual nem a morte nos pode separar? Ou pensamos
Nele apenas como um grande Ser, o Onipotente que fez todas as coisas, o Juiz
que controla toda ação? Tudo verdade, naturalmente. Mas somente quando Deus é o
afeto de todos os nossos afetos, o significado destas palavras se tornam
plenos. Então nos sentimos felizes, e também um pouco confusos, porque Ele
pensa em nós e, sobretudo, nos ama! Isso não é impressionante? Não é
impressionante que Deus nos acaricie com amor de pai? É tão belo! Podia
simplesmente se fazer reconhecer como o Ser supremo, dar os seus mandamentos e
esperar os resultados. Em vez disso, Deus fez e faz infinitamente mais que
isso. Acompanha-nos no caminho da vida, nos protege, nos ama.
Se o afeto por Deus não acende o fogo, o espírito
da oração não aquece o tempo. Podemos também multiplicar as nossas palavras,
“como fazem os pagãos”, diz Jesus; ou até mesmo exibir os nossos ritos, “como
fazem os fariseus” (cfr Mt 6, 5.7). Um coração habitado pelo afeto por Deus faz
transformar em oração também um pensamento sem palavras, ou uma invocação
diante de uma imagem sagrada, ou um beijo mandado para a igreja. É belo quando
as mães ensinam os filhos pequenos a mandar um beijo a Jesus ou a Nossa
Senhora. Quanta ternura há nisso! Naquele momento, o coração das crianças se
transforma em lugar de oração. E é um dom do Espírito Santo. Não esqueçamos
nunca de pedir este dom para cada um de nós! Porque o Espírito de Deus tem
aquele seu modo especial de dizer nos nossos corações “Abbà” – “Pai”, nos
ensina a dizer “Pai” propriamente como o dizia Jesus, um modo que nunca
poderemos encontrar sozinhos (cfr Gal 4, 6). É na família que se aprende a
pedir e apreciar este dom do Espírito. Se o aprende com a mesma espontaneidade
com a qual aprende a dizer “papai” e “mamãe”, aprendeu-se para sempre. Quando
isso acontece, o tempo de toda a vida familiar é envolvido no colo do amor de
Deus e procura espontaneamente o tempo da oração.
O tempo da família, sabemos bem disso, é um tempo
complicado e cheio, ocupado e preocupado. É sempre pouco, não basta nunca, há
tantas coisas a fazer. Quem tem uma família aprende a resolver uma equação que
nem mesmo os grandes matemáticos sabem resolver: dentro das vinte e quatro
horas se faz o dobro! Há mães e pais que poderiam vencer o Nobel, por isso. De
24 horas fazem 48: não sei como fazem, mas se movem e o fazem! Há tanto
trabalho em família!
O espírito da oração volta o tempo para Deus, sai
da obsessão de uma vida à qual sempre falta o tempo, reencontra a paz das
coisas necessárias e descobre a alegria de dons inesperados. Boas guias para
isso são as duas irmãs, Marta e Maria, da qual fala o Evangelho que escutamos;
elas aprendem de Deus a harmonia dos ritmos familiares: a beleza da festa, a
serenidade do trabalho, o espírito da oração (cfr Lc 10, 38-42). A visita de
Jesus, ao qual queriam bem, era a festa delas. Um dia, porém, Marta aprendeu
que o trabalho da hospitalidade, mesmo sendo importante, não é tudo, mas que
escutar o Senhor, como fazia Maria, era realmente o essencial, a “melhor parte”
do tempo. A oração surge da escuta de Jesus, da leitura do Evangelho. Não se
esqueçam, todos os dias leiam um trecho do Evangelho. A oração surge da
intimidade com a Palavra de Deus. Há esta intimidade na nossa família? Temos em
casa o Evangelho? Nós o abrimos algumas vezes para lê-lo juntos? Nós o
meditamos rezando o Rosário? O Evangelho lido e meditado em família é como um
pão bom que alimenta o coração de todos. E pela manhã e à noite, e quando
sentamos à mesa, aprendamos a dizer juntos uma oração, com muita simplicidade:
é Jesus que vem entre nós, como ia à família de Marta, Maria e Lázaro. Uma
coisa que tenho muito no coração e que vi nas cidades: há crianças que não
aprenderam a fazer o sinal da cruz! Mas você mãe, pai, ensina a criança a
rezar, a fazer o sinal da cruz: esta é uma tarefa bela das mães e dos pais!
Na oração da família, nos seus momentos fortes e
nas suas passagens difíceis, nos confiemos uns aos outros, para que cada um de
nós na família seja protegido pelo amor de Deus.
Boletim da
Santa Sé
Tradução:
Jéssica Marçal
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