NOTA
DA CNBB A FAVOR DO BRASIL
“Os
que querem enriquecer caem em muitas tentações e laços, em desejos insensatos e
nocivos, que mergulham as pessoas na ruína e perdição. Na verdade, a raiz de
todos os males é o amor ao dinheiro” (1Tm 6,9-10).
A população brasileira acompanha, apreensiva, a
grave crise que atinge o país, procurando conhecer suas origens, resistir às
suas consequências e, sobretudo, vislumbrar as soluções. A realidade é dura e
traz de volta situações que, por algum tempo, haviam diminuído
significativamente como o desemprego, a inflação e a pobreza.
Pagamos um alto preço pela falta de vontade
políticade fazer as reformas urgentes e necessárias, capazes de colocar o
Brasil na rota do desenvolvimento com justiça social quais sejam as reformas
política, tributária, agrária, urbana, previdenciária e do judiciário. O gasto
com a dívida pública, o ajuste fiscal e outras medidas para retomada do
crescimento colocam a saúde pública na UTI, comprometem a qualidade da
educação, inviabilizam a segurança pública e inibem importantes conquistas
sociais.
A corrupção, metástase que atinge de morte não só
os poderes constituídos, mas também o mundo empresarial e o tecido social,
desafia a política a seguir o caminho da ética e do bem comum. Combatê-la de
forma intransigente supõe assegurar uma justa investigação de todas as
denúncias que vêm à tona com a consequente punição de corruptos e corruptores.
A corrupção, gerada pela falta de ética e incentivada pela impunidade, não pode
ser tolerada.
É urgente resgatar a credibilidade da atividade
política em que seja fortalecida a cultura inclusiva e democrática, pois
um“método que não dá liberdade às pessoas para assumir responsavelmente sua
tarefa de construção da sociedade é uma chantagem”, e “nenhum político pode
cumprir o seu papel, seu trabalho, se se encontra chantageado por atitudes de
corrupção”(Papa Francisco aos representantes da sociedade civil, no Paraguai,
11 de julho de 2015). A chantagem “é sempre corrupção”. Lamentavelmente, o
cenário político brasileiro não está isento desta condenável prática.
É inaceitável que os interesses públicos e coletivos
se submetam aos interesses individuais, corporativos e partidários. As disputas
políticas exacerbadas podem comprometer a ordem democrática e a estabilidade
das instituições. Garantir o estado de direito democrático é imperativo ético e
político dos brasileiros, mormente dos que não viveram nem testemunharam as
arbitrariedades dos tempos de exceção. O bem do Brasil exige uma radical
mudança da prática política.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB,
através do Conselho Episcopal Pastoral-Consep, reunido em Brasília, nos dias 25
e 26 de agosto, reafirma o diálogo e a luta contra a corrupção como meios para
preservar e promover a democracia. Nesse diálogo, devem tomar parte os poderes
constituídos e a sociedade civil organizada. Com o Papa Francisco, lembramos
que “o futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes
dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos
dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também nas suas mãos que
regem, com humildade e convicção, este processo de mudança” (Discurso aos
participantes do II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, Bolívia, 9 de
julho de 2015).
O Espírito Santo nos ajude a dar a razão de nossa
esperança e nos anime no compromisso de agir juntos pelo bem comum do povo
brasileiro.
Brasília, 26 de agosto de 2015.
Dom Sergio da Rocha
Arcebispo
de Brasília-DF
Presidente
da CNBB
Dom Murilo S. R. Krieger
Arcebispo
de São Salvador da Bahia- BA
Vice-presidente
da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo
Auxiliar de Brasília-DF
Secretário
Geral da CNBB
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CNBB
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