Há um propósito na mortificação, nas espirituais
(orações impostas pelo confessor, esmolas, atos de piedade etc) e nas diversas
modalidades corporais (entre as quais, além do cilício e das disciplinas, estão
o jejum, a abstinência de carne e outras). Quem as pratica (e todos os
católicos são obrigados a determinadas penitências, mínimas, como a abstinência
de carne e o jejum na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa) deseja
alcançar certos fins: submeter o corpo à alma e a vontade à inteligência;
abster-se de coisas lícitas (carne, por exemplo, ou, no caso do cilício, a
ausência da dor) para melhor renunciar às ilícitas, i.e., pecaminosas; unir
seus próprios sacrifícios pessoais ao Sacrifício de Cristo na Cruz; reparar as consequências
dos pecados já perdoados (notem: não é para pagar o pecado, pois ele já foi
limpo por Jesus na Cruz e tal perdão se torna presente quando o fiel recebe os
sacramentos, sobretudo o Batismo e a Confissão); procurar a santificação não só
da alma como do corpo, numa visão integral do ser humano; adquirir disciplina e
constância, adestrando a vontade. A aceitação resignada das penas da vida, o
cumprimento das penas dadas pelo confessor e a procura de penas livremente
(jejuns, abstinências, cilícios, disciplinas) pelo fiel católico não têm
absolutamente nada a ver com masoquismo ou desprezo pela matéria. Muito
superficial seria tal leitura.
Os mais custosos sacrifícios, aliás, são
empreendidos pelos que querem a beleza exterior e a saúde do corpo. Quantas
dietas radicais, quantas máquinas de musculação cujas dores, muitas vezes, são
bem maiores do que a ocasionada pelo cilício (usado sempre com moderação e sob
orientação de um diretor espiritual que pode proibir a mortificação,
inclusive), e tudo em nome de coisas que passam. Não se pode almejar, por
sacrifícios da mesma ordem e com semelhantes (ou menores) dores, a beleza
interior e a saúde da alma?
Rafael
Vitola Brodbeck
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Salvem a
Liturgia!
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