A Santa
Quaresma
A Quaresma é um período de quarenta dias de
penitência de comida.
Inicia-se na Quarta-feira de Cinzas, prolongando-se
até a Quinta-feira Santa, antes da Missa na Ceia do Senhor. A penitência na
alimentação prolonga-se até o Sábado Santo ou Grande Sábado, perfazendo exatos
quarenta dias.
Trata-se de um tempo privilegiado de conversão,
combate espiritual, jejum e escuta da Palavra de Deus.
Na Igreja Antiga, este era o tempo no qual os
catecúmenos (adultos que se preparavam para o Batismo) recebiam os últimos
retoques em sua formação para a vida cristã: eles deveriam entregar-se a uma
catequese mais intensa e aos exercícios de oração e penitência.
Pouco a pouco, toda a comunidade cristã - isto é,
os já batizados em Cristo -, começou a participar também destes exercícios,
tanto para unir-se aos catecúmenos, como para renovar em si a graça de seu
próprio batismo e o fervor da vida cristã, preparando-se, assim, para a santa
Páscoa.
Assim, surgiu a Quaresma: tempo no qual os
cristãos, pela purificação e a oração, buscam renovar sua conversão para
celebrarem na alegria espiritual a Santa Vigília de Páscoa, na madrugada do
Domingo da Ressurreição, renovando suas promessas batismais e participando da
Eucaristia pascal, entrando em comunhão com o Ressuscitado dentre os mortos, o
Vencedor da Morte, o Cristo nosso Deus.
São as seguintes as práticas da Quaresma:
A oração
Neste tempo os cristãos se dedicam mais à oração.
Uma boa prática é rezar diariamente um salmo ou, para os mais generosos, rezar
todo o saltério no decorrer dos quarenta dias. Pode-se, também, rezar a Via
Sacra às sextas-feiras! Ainda é possível, além do terço costumeiro, rezar-se
mais um terço, com os mistérios dolorosos.
A penitência
Todos os dias quaresmais (exceto os domingos!) são
dias de penitência na alimentação. Aliás, esta é a prática que melhor
caracteriza a Quaresma! Sem renúncia ao alimento, não há observância quaresmal.
Cada um deve escolher uma pequena prática
penitencial para este tempo. Por exemplo: renunciar a um lanche diariamente, ou
a uma sobremesa, etc...
Na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa os
cristãos jejuam: o jejum nos faz recordar que somos frágeis e que a vida que
temos é um dom de Deus, que deve ser vivida em união com ele; também nos ensina
a domar nossos instintos. Os mais generosos podem jejuar todas as sextas-feiras
da Quaresma. Farão muitíssimo bem!
Recordemo-nos que às sextas-feiras os católicos não
devem comer carne; e isto vale para o ano todo!
O jejum consiste numa só refeição completa; as
outras duas não devem, juntas, chegar a uma refeição.
A abstinência de carne consiste em não comer carne
de animais de sangue quente: mamíferos ou aves, de modo geral.
A esmola
Trata-se da caridade fraterna. Este tempo santo
deve abrir nosso coração para os irmãos: esmola, capacidade de ajudar, visitar
os doentes, aprender a escutar os outros, reconciliar-se com alguém de quem
estamos afastados - eis algumas das coisas que se pode fazer neste sentido!
A leitura da
Palavra de Deus
Este é um tempo de escuta mais atenta da Palavra
santa: o homem não vive somente de pão, mas de toda Palavra saída da boca de
Deus. Seria muitíssimo recomendável ler durante este tempo o Livro do Êxodo ou
os Números, ou o Deuteronômio, ou o Profeta Jeremias ou Oséias ou, ainda, a
Epístola aos Romanos.
A conversão
“Eis o tempo da conversão!”, diz-nos São Paulo. Que
cada um veja um vício, um ponto fraco, que o afasta de Cristo, e procure lutar,
combatê-lo nesta Quaresma! É o que a Tradição ascética de Igreja chama de
“combate espiritual” e “luta contra os demônios”. Nossos demônios são nossos
vícios, nossas más tendências, que precisam ser combatidas.
Os antigos davam o nome de sete demônios
principais: a soberba, a avareza, a tristeza (hoje diz-se a inveja), a
preguiça, a ira, a gula, a sensualidade. Estes demônios geram outros.
Na Quaresma, é necessário identificar aqueles que
são mais fortes em nós e combatê-los!
Quanto à
liturgia quaresmal:
Este tempo sagrado é marcado por alguns sinais
especiais nas celebrações da Igreja:
A cor da liturgia é o roxo - sinal de sobriedade,
penitência e conversão;
Não se canta o Glória nas missas (exceto nas
solenidades, quando houver);
Não se canta o aleluia que, sinal de alegria e
júbilo, somente será cantado outra vez na Páscoa da Ressurreição;
Os cantos da Missa devem ter uma melodia simples e
tratarem dos temas quaresmais; não é permitido que se toque nenhum instrumento
musical, a não ser para sustentar o canto, em sinal de jejum dos nossos
ouvidos, que devem ser mais atentos à Palavra de Deus;
Não é permitido usar flores nos altares, em sinal
de despojamento e penitência (nos
casamentos e outras festas as igrejas, devem ser enfeitadas com muita
sobriedade!);
A partir da quinta semana da Quaresma podem-se
cobrir de roxo ou branco as imagens, em sinal de jejum dos sentidos, sobretudo
dos olhos.
O importante é que todas estas práticas nos levem a
uma preparação séria e empenhada para o essencial: a Páscoa!
As observâncias quaresmais não são atos
folclóricos, mas instrumentos para nos fazer crescer no processo de conversão
que nos leva ao conhecimento espiritual e ao amor de Cristo. Tenhamos em vista
que o ponto alto do caminho quaresmal é a renovação das promessas batismais na
Santa Vigília pascal e a celebração da Eucaristia de Páscoa nesta mesma Noite
Santa, virada do sábado para o Domingo da Ressurreição.
Empenhemo-nos sincera e devidamente nas práticas
quaresmais. Elas não são essenciais, mas são sinal concreto de que entramos de
corpo e alma no caminho da conversão. Uma vida religiosa sem práticas concretas
em comunidade, reguladas pela Igreja, é como um corpo sem vértebras: não se
sustentará de pé e terminará por negar praticamente a realidade da Encarnação.
O Verbo fez-Se carne, fez-Se matéria, "concretizou-Se". O
cristianismo é uma religião da alma e do corpo, das intenções e das práticas!
Que todos possam ter uma intensa vivência
quaresmal, para celebrarmos na alegria espiritual a santa Páscoa do Senhor!
Ficha de
vivência quaresmal
(Para ser
preenchida até Domingo e oferecida espiritualmente ao Senhor
na Vigília Pascal)
Senhor Jesus Cristo, seguindo o Teu caminho no
deserto e preparando-me para celebrar dignamente a Tua santa Páscoa, suplico
Teu misericordioso auxílio para as seguintes práticas quaresmais que me
proponho fazer em Tua honra e para melhor ser Teu discípulo:
Oração: (o
que rezarei a mais durante este tempo, todos os dias);
Jejum/penitência: (o que retirarei diariamente, exceto aos domingos, da minha
alimentação);
Esmola: (o
que farei para ir ao encontro dos meus próximos, sobretudo praticando obras de
misericórdia corporais e espirituais);
Vício a combater: (quais das minhas más tendências combaterei nesta Quaresma, evitando as
ocasiões, as situações e os atos);
Livro da Escritura a ler: (que livro lerei completamente, de preferência o Êxodo ou Números ou
Deuteronômio ou a Epístola aos Romanos);
Leitura espiritual: (é recomendável também escolher um livro para leitura espiritual.
Poderia ser o Mostra-me teu Rosto ou O Silêncio de Maria, de Inácio Larrañaga,
A Leitura de Deus, de Garcia Columbás, A Imitação de Cristo, de Tomás de
Kempis, O Peregrino Russo...);
A confissão sacramental.
Dom Henrique
Soares da Costa
Bispo
Diocesano de Palmares - PE
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