A misericórdia no Tempo Quaresmal
Neste mês de fevereiro, a Liturgia
conclui a primeira parte do Tempo Comum num contexto tipicamente vocacional, a
partir da experiência mística e espiritual de quem escuta e acolhe a Palavra de
Deus. A resposta vocacional de Isaias (1L) e dos Apóstolos (E) não acontece
unicamente na esfera da experiência emocional, mas principalmente pela
experiência mística da transcendência divina. Ao contemplar a glória divina,
Isaias e os Apóstolos se prontificam ao seguimento e à missão. Por isso, a
proposta celebrativa para o 5º Domingo do Tempo Comum - C desenvolve-se num
contexto vocacional, com destaque para o chamado ao discipulado a partir da
escuta e do acolhimento da Palavra. Só quem ouve e acolhe a Palavra é capaz de
se dispor ao seguimento, no discipulado e, igualmente ao envio missionário.
Quaresma no contexto do Ano Santo da
Misericórdia
Concluída a primeira parte do Tempo
Comum, a Liturgia conduz os celebrantes para o seu grande retiro anual, que é a
Quaresma. E, como não poderia deixar de ser, a Quaresma deste ano
é iluminada pela luz da misericórdia divina. Uma luz que ilumina a vida
pessoal, para que sejamos misericordiosos como o Pai é misericordioso (Lc
6.36). O motivo de uma Quaresma iluminada pela misericórdia situa-se no
contexto do Ano Santo da Misericórdia. Por isso, se a natureza da Quaresma tem
um caráter, em si, misericordioso, o tem com mais intensidade neste tempo tão
rico devido ao Ano Santo da Misericórdia.
É justo que vivamos esta Quaresma
meditando e refletindo de modo mais profundo a misericórdia divina, para que
também nós possamos ser misericordiosos, como o Pai é misericordioso. Por isso,
a proposta celebrativa do 1º Domingo da Quaresma - C, pretende incentivar os
celebrantes a crescerem na misericórdia, não só como sentimento, de quem tem dó
e pena dos sofredores — embora isso seja louvável — mas como atitude de quem
vence as tentações do comodismo e da “mundanização” para crescer na solidariedade,
no serviço fraterno e na confiança em Deus.
Viver na misericórdia, ter
relacionamentos misericordiosos para com todos, exige que cada homem e mulher
cresça no caminho da espiritualidade a ponto de assumir o projeto divino com fé
confiante, a exemplo de Abraão (2DQ-C). A resposta de Abraão à Palavra de Deus
é um ato de fé, uma demonstração da confiança total de que Deus conduz a sua
vida. O homem e a mulher jamais viverão relacionamentos misericordiosos sem a
fé confiante no Senhor. Ato de fé é igualmente crer que a Transfiguração do
Senhor é um convite para nos transfigurar a partir da misericórdia, dedicando a
própria vida para transfigurar a vida daqueles irmãos e irmãs que vivem
desfigurados pelo sofrimento ou pelos pecados.
Por fim, no último Domingo fevereiro,
no qual celebra-se o 3º Domingo da Quaresma – C, a Palavra revela a
misericórdia divina para com o povo que se tornou miserável pela escravidão, e
revela igualmente como a misericórdia divina se manifesta a cada pessoa,
esperando pacientemente que produzam frutos de vida nova. O caminho da
conversão e da paciência para com todos, especialmente aqueles que vivem longe
dos caminhos divinos, torna-se mais evidente diante da necessidade de assumir
atitudes e comportamentos de misericórdia, no contexto deste Ano Santo que
estamos celebrando e vivendo.
Serginho Valle
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Serviço de Animação Litúrgica
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