Estimados Diocesanos! No texto do Evangelho narrado
por São Lucas, capítulo 15, temos a parábola do pai e seus dois filhos,
conhecida também como a história do filho pródigo. Geralmente, nos comovemos
pela situação de abandono em que se encontra o filho mais novo, depois de ter
desperdiçado a herança recebida do seu pai antes do tempo. Digo antes do tempo,
porque era considerado um gesto indelicado por parte de um filho pedir ao pai
parte da herança, enquanto ele ainda estava em vida. Mas diante do pedido do
filho mais novo, o pai, silenciosamente, acolhe a sua solicitação, lhe dá parte
da herança e vê o filho afastar-se da sua casa. Glória, decadência e miséria
acompanharão a vida do filho mais novo. Ele percebe que o retorno à casa do pai
é condição para recuperar a sua dignidade de vida. Ansiosamente, com evidente
apreensão, o pai estava à sua espera. Quando ainda estava longe de casa, seu
pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o
de beijos. O coração do pai se alegra, propõe uma festa para celebrar o retorno
do filho que tinha recebido a herança e partido sem dar notícias, “estava
morto”, porque tinha renunciado à sua dignidade de filho.
A alegria que transbordava do coração do pai não
contagiou o coração do filho mais velho. Não só, mas decide não entrar na casa
do pai, mesmo quando este sai ao seu encontro e insiste para que entre e
participe da festa. O filho mais velho se lamenta do comportamento
misericordioso do pai e é indiferente à vida do seu irmão: “Quando chegou esse
teu filho...” (Lc 15,30), fala como alguém que não reconhece o seu irmão.
Queridos irmãos, o tempo da Quaresma nos convida a
redescobrirmos a nossa dignidade de filhos recebida no batismo. É um tempo
forte para nos aproximarmos do sacramento da reconciliação. É um tempo para
percorrermos o caminho do exílio ao retorno para a casa do Pai, como fez o
filho mais novo.
A confissão dos próprios pecados é a admissão
humilde da própria miséria, acolhida e curada pela misericórdia de Deus. Entre
miséria e misericórdia, aquilo que conta é a misericórdia. Deus nos pede para
nos alegrarmos pela sua misericórdia oferecida a todos os seus filhos, e de
acolher seu amor oferecido a cada um em Jesus Cristo.
Dom José
Gislon
Bispo de
Erexim (RS)
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