Irmãos e filhos
caríssimos, mais uma vez, o Presbitério da Igreja de Deus reúne-se de modo
solene ao redor do Altar da Eucaristia e do seu Bispo, aquele que, por graça do
Senhor, preside a esta Igreja “no lugar de Deus”, como dizia Santo Inácio de
Antioquia.
Sim, preside “no lugar de Deus” porque faz as vezes Daquele que veio da parte do Pai não para ser servido, mas para servir, faz as vezes do Cristo, “Pastor e Bispo de nossas almas” (1Pd 2,25), Aquele mesmo que “deu a vida pelas Suas ovelhas e quis morrer pelo rebanho”...
Aqui estamos no dia
mesmo em que o Senhor Jesus Cristo instituiu o nosso sacerdócio ministerial.
Deveis, vós, presbíteros desta Igreja, renovar as vossas promessas sacerdotais diante do vosso Bispo e do inteiro Povo de Deus, a quem servis; deveis também, no final desta Celebração, ao redor do vosso Bispo, estender a mão direita enquanto ele consagra o Crisma da salvação.
Para compreendermos
estes mistérios, do Crisma e do sacerdócio, é necessário seguir o conselho da
Epístola aos Hebreus, que de modo solene nos exorta: “Meus santos irmãos e
companheiros da vocação celeste, considerai atentamente Jesus, o Apóstolo e
Sumo Sacerdote da nossa profissão de fé!” (3,1) Considerar atentamente Jesus
nosso Senhor e, a partir Dele, compreender o mistério do nosso sacerdócio e o
mistério do Crisma a ser consagrado e dos demais óleos a serem benzidos...
Na Sinagoga de Nazaré, o
Senhor leu o rolo do Profeta Isaías: “O Espírito do Senhor Deus está sobre Mim,
porque Ele Me consagrou com a Unção para anunciar a Boa Nova aos pobres... e
proclamar um Ano da graça do Senhor!”.
Jesus apresenta-Se a Si mesmo como o Ungido, o Messias, Aquele sobre Quem o Pai derramou o Crisma espiritual para a missão de proclamar o Evangelho da salvação! Esse Crisma que ungiu Jesus, caríssimos, é o próprio Espírito Santo, no Qual o Filho foi enviado; é Ele o óleo da alegria, anunciado pelo Profeta Isaías (cf. Is 61,3)...
Na força do Espírito Santo, o nosso Salvador Jesus Cristo anunciou e tornou presente o Reino do Pai, seja pela palavra, seja pelos tantos sinais portentosos que realizou como sinal do Reino inaugurado entre nós.
Na força do Santo Espírito, Jesus, o Cristo, o Ungido de Deus, consolou, acolheu, perdoou pecados, expulsou demônios e libertou os cativos de todas as escravidões humanas, porque revelou Deus como Pai e a todos convidou a abrir o coração e a vida para o Deus que O enviara.
Foi ainda nesse Espírito Santo que Jesus, “tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1s), até a entrega total de Si mesmo na cruz! E, agora, ressuscitado no Divino Espírito, continua, na Igreja, pelo nosso humilde e indispensável ministério, a realizar a Sua obra de salvação.
Comentários dos
Textos Bíblicos
Leituras: Is 6,1-3ª.6ª.8b-9; Ap 1,5-8; Lc 4,16-21
A oração inicial da
Missa deste Hoje solene traz estes dizeres: “Ó Deus, que ungistes o Vosso Filho
único com o Espírito Santo e O fizestes Cristo e Senhor, concedei que,
participando da Sua consagração, sejamos no mundo testemunhas da redenção que
Ele nos trouxe”.
Estas palavras que a
Liturgia põe na boca da Mãe Igreja dizem respeito a todos os batizados, pois
que pelo Batismo e pela sagrada Crismação, todos recebemos o Espírito do Senhor
Jesus Cristo como Vida e como força para, em união com Ele, participarmos da
Sua missão no meio do mundo.
Mas, caríssimos
Sacerdotes, estas mesmas palavras, de um modo particularíssimo, dizem respeito
a nós, que recebemos o sacerdócio ministerial de Cristo Jesus.
Efetivamente, antes do
início do sagrado Tríduo Pascal, conforme antiga tradição litúrgica, a Mãe
católica em toda terra reúne os presbíteros de cada Igreja local, para que em
comunhão com o seu Bispo celebrem a Eucaristia, renovem as promessas
sacerdotais, abençoem os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagre o
Santo Crisma. É cheia de significado esta Celebração! Ela nos quer recordar o
mistério do sacerdócio eterno do Cristo Jesus e do nosso sacerdócio
ministerial. Mais ainda: faz-nos mergulhar neste mistério!
Eis o que clama esta
Missa crismal, eis o seu sentido profundo: Aquele cujo mistério pascal estamos
para celebrar é o eterno Sacerdote da Nova Aliança! Efetivamente, tudo quanto o
Senhor Jesus fez e sofreu, e que celebraremos nestes santíssimos dias, fê-lo de
modo sacerdotal, isto é, fê-lo como oferta amorosa ao Pai, como expiação de
amor pelo mundo inteiro.
Foi Ele, queridos irmãos, Quem Se fez homem - de corpo de homem e alma de homem -, para humanamente oferecer-Se ao Pai. Recordai Suas palavras no momento mesmo de entrar neste mundo: “Tu não quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-Me um corpo. Holocausto e sacrifícios pelo pecado não foram do Teu agrado. Por isso Eu digo: Eis-Me aqui! Eu vim, ó Deus, para fazer Tua vontade!” (Hb 10,5-7).
Que mistério: toda a Sua existência humana de Filho, todo o Seu ministério, com os cansaços, as pregações, os milagres, as amizades, as ingratidões, as noites de oração, as tentações, a traição, a angústia no Horto, a cruz e a morte, tudo isto o nosso Salvador vivenciou sacerdotalmente, como vítima que Se oferece a Si próprio em sacrifício amoroso ao Pai pelo mundo! Foi esta a consciência profunda do nosso Jesus e é isto que as leituras desta Liturgia desejam nos fazer contemplar. Aquele novo e verdadeiro Davi, cantato no Salmo de hoje, Aquele mesmo que foi ungido como Cristo-Messias pelo Espírito do Senhor Deus de Israel que repousou sobre Ele, para que trouxesse a Boa Nova aos pobres, curasse as feridas da alma, pregasse a redenção aos cativos e a liberdade para os presos, proclamasse o tempo da graça do Senhor (cf. Is 61,1-3), esse Cristo, Ele mesmo, “nos ama e por Seu sangue nos libertou dos nossos pecados e fez de nós um reino, sacerdotes para Seu Deus e Pai” (Ap1,5-6).
Por tudo isto, é prenhe
de significado que nesta Missa os óleos sejam abençoados e o Crisma,
consagrado. São os óleos com os quais a Igreja ungirá, concedendo
ministerialmente a graça que frutificou da Paixão, Morte e Ressurreição do Sumo
Sacerdote Jesus, o Cristo, o Ungido pelo Pai com o Espírito Santo! Eis por que
a Igreja vai cantar ao acolher daqui a pouco o óleo para o Crisma:
“O óleo a ser consagrado
desceu do Trono fecundo; por nós vai ser ofertado a Quem salvou este mundo!”
Este “Trono fecundo” é,
na verdade, um tronco, uma árvore, um madeiro: é o lenho da Cruz do Senhor! Do
Seu sacrifício, da Sua vida toda entregue sacerdotalmente “até o fim” (Jo
13,1), brota a Vida divina, que é o próprio Espírito Santo, cujas força e graça
atuam neste Crisma bendito! E durante todo o ano litúrgico faremos experiência
dessa graça! Com este Crisma serão ungidos os altares e as novas igrejas, serão
ungidos os batizados e crismados, serão ungidas as mãos dos novos sacerdotes e
a cabeça dos novos bispos! Eis o sentido profundo de tudo isto: o sacrifício
pascal do Sumo e Eterno Sacerdote Jesus nosso Senhor, torna fecunda e salvífica
toda a vida da Igreja! A entrega sacerdotal de Si mesmo que Nosso Senhor fez a
vida toda, frutificou em salvação para nós e para o mundo inteiro.
Caríssimos Irmãos no
sacerdócio ministerial, quis o Senhor Jesus chamar-nos a participar
sacramentalmente do Seu sacerdócio, sem merecimento algum de nossa parte. São
especialmente para nós, hoje, as palavras da Profecia de Isaías: “Vós sois os
sacerdotes do Senhor, chamados ministros de nosso Deus. Eu vos recompensarei
por vossas obras, segundo a verdade, e farei convosco uma aliança perpétua.
Vossa descendência será conhecida entre as nações, e vossos filhos se fixarão
no meio dos povos; quem os vir há de reconhecê-os como descendentes
abençoados" (cf. Is 61,6-9). Mas, este sacerdócio, verdadeiro tesouro que
nos foi confiado, somente tem sentido quando é vivido em união de vida e de
sentimento com o Sumo Sacerdote Jesus, com Ele, o Bom Pastor que deu a vida
pelas Suas ovelhas (cf. Jo 10,15), que fez de toda a Sua existência humana uma
doação sacerdotal!
É urgente, é
indispensável que retomemos a consciência de que nosso sacerdócio – que não é
nosso, mas Dele, do Senhor – não é uma profissão, não é um simples fazer, um
expediente funcional que prestamos em certos momentos, mas um viver, um estilo
de vida que deve possuir e plasmar toda a nossa existência: viver como padres,
pensar como padres, agir como padres! Cabe bem recordar aqui as palavras de São
João Paulo II, quando pregava na Missa de Ordenação sacerdotal no Maracanã, no
longínquo julho de 1980: “Com o rito da Sagrada Ordenação sereis introduzidos,
filhos caríssimos, em um novo gênero de vida, que vos separa de tudo e vos une
a Cristo com um vínculo original, inefável, irreversível. Assim, a vossa
identidade se enriquece com uma outra nota: sois consagrados. Esta missão do
Sacerdócio não é um simples título jurídico. Não consiste apenas num serviço
eclesial prestado à comunidade, delegado por ela, e por isso revogável pela
mesma comunidade ou renunciável por livre escolha do 'funcionário'. Trata-se,
ao contrário, de uma real e íntima transformação por que passou o vosso
organismo sobrenatural por obra de um 'sinete' divino, o 'caráter, que vos
habilita a agir 'in persona Christi' (nas vezes de Cristo), e por isso vos
qualifica em relação a Ele como instrumentos vivos da Sua ação. Compreendeis
agora como o sacerdote se torna um 'segregatus in Evangelium Dei' (separado
para anunciar o Evangelho de Deus) (cf. Rm 1,1); não pertence mais ao mundo,
mas se acha doravante num estado de exclusiva propriedade do Senhor. O caráter
sagrado o atinge em tal profundidade que orienta integralmente todo o seu ser e
o seu agir para uma destinação sacerdotal. De modo que não resta nele mais nada
de que possa dispor como se não fosse sacerdote, ou, menos ainda, como se
estivesse em contraste com tal dignidade. Ainda quando realiza ações que, por
sua natureza são de ordem temporal, o sacerdote é sempre o ministro de Deus.
Nele, tudo, mesmo o profano, deve tornar-se 'sacerdotalizado', como em Jesus,
que sempre foi sacerdote, sempre agiu como sacerdote, em todas as manifestações
de Sua vida. Jesus nos identifica de tal modo Consigo no exercício dos poderes
que nos conferiu, que a nossa personalidade como que desaparece diante da Sua,
já que é Ele quem age por meio de nós. Pelo Sacramento da Ordem o sacerdote se
torna efetivamente idôneo a emprestar a Jesus nosso Senhor a voz, as mãos e
todo o seu ser. É Jesus quem, na Santa Missa, com as palavras da consagração,
muda a substância do pão e do vinho na do Seu corpo e do Seu sangue. É o
próprio Jesus quem, no Sacramento da Penitência, pronuncia a palavra autorizada
e paterna: ‘Os teus pecados te são perdoados’ (Mt 9,2; Lc 5,20; 7,48; cf. Jo
20,23). É Ele quem fala quando o sacerdote, exercendo o seu ministério em nome
e no espírito da Igreja, anuncia a Palavra de Deus. É o próprio Cristo quem tem
cuidado dos enfermos, das crianças e dos pecadores, quando os envolve o amor e
a solicitude pastoral dos ministros sagrados”.
Caríssimos e amados
Irmãos no sacerdócio, é grande o mistério que nos envolve desde o dia sagrado
da nossa Ordenação! Cuidemos de viver, pensar, sentir e agir como sacerdotes!
Cuidemos de evitar uma maldita concepção que reduz nosso sacerdócio a realidade
meramente funcional. Chamados e consagrados por Cristo somos sacerdotes a vida
toda, por toda a vida e em todos os momentos e atividades da vida! Nosso
ministério será efetivamente verdadeiro e edificará a Igreja de Deus quando nos
dedicarmos ao rebanho integralmente, de corpo e alma, por amor do Senhor.
Contemplando o nosso
Modelo, o Eterno Sacerdote Jesus, admirados com a graça que brotou do Seu lado
aberto e é dada a toda a Igreja nos óleos a serem apresentados daqui a pouco,
guardemos no coração ainda as palavras de São João Paulo II, na Pastores Dabo
Vobis: “A vida e o ministério do sacerdote são uma continuação da vida e ação
do próprio Cristo. Esta é a nossa identidade, a nossa verdadeira dignidade, a
fonte da nossa alegria, a certeza da nossa vida”.
Que o Senhor Jesus que
nos chamou, confirme em nós aquilo que Ele mesmo iniciou. Valha-nos para tanto
a intercessão da Santíssima Virgem Maria, Mãe de todos os sacerdotes, a
intercessão de tantos santos ministros do Altar que já se encontram na Glória e
as orações de todo o Povo de Deus, de modo especial da Assembleia aqui reunida!
Amém.
PARA REFLETIR
Celebrando neste dia a instituição dos
mistérios da Eucaristia, do sacerdócio e a unidade da Igreja, realizaremos a
bênção dos Óleos dos Catecúmenos, dos Enfermos e consagraremos o óleo do Santo
Crisma para as celebrações dos santos sacramentos ao longo do ano.
Queremos com esta Eucaristia elevar nossas vozes
ao Céu para agradecer a generosidade dos pais de nossos sacerdotes que deram
seus filhos ao serviço de Cristo e da Igreja, oferecendo assim o que tinham de
melhor em suas vidas.
Queridos pais, quero lhes dizer que a Igreja
lhes é grata por poder contar com a presença valiosa de seus filhos na obra da
santificação do nosso povo. Aquele que prometeu recompensar cem vezes mais um
copo de água dado em Seu nome, sabe e saberá recompensá-los por tal gesto, na
grandeza de Sua misericórdia.
Se Santo Agostinho dizia tristemente a Jesus:
“Tarde demais Te conheci, tarde demais eu Te amei”, graças aos nossos pais
podemos dizer: “Obrigado Senhor, por tê-Lo conhecido tão cedo, desde a
infância. Obrigado Senhor por poder amá-Lo desde jovem!” Vocês, pais, são os
principais mediadores da graça da vocação recebida por seus filhos. Vocês são,
pelos desígnios da misericórdia divina, aqueles que, com o próprio exemplo e
oração, garantiram a esses filhos a graça da fidelidade à vocação recebida. A
oração dos pais pelos próprios filhos tem, diante de Deus, uma força diferente
e maior. Vocês são e devem ser o grande apoio espiritual para o filho padre.
Rezem por ele, sempre.
Ouço, às vezes, que quando os pais deixam seus
filhos irem para o Seminário, acontece que eles perdem os filhos. Felizmente,
nada disso é verdade: é tudo ao contrário. Os filhos consagrados à vida
religiosa, os filhos sacerdotes são os que se sentem mais livres para amparar e
dar presença aos próprios pais, quando a doença chega, ou quando se prolongam
os anos de vida. Posso testemunhar isso com o exemplo de meus próprios pais,
sobretudo quando a idade se aproximou da beleza dos noventa e dos cem anos.
Como foi importante e boa a presença de minha irmã religiosa na assistência
atenta aos dois velhinhos. E como nós dois sacerdotes, mais que nossos irmãos
casados, podíamos dispor de mais tempo para estar com eles.
Deus se fará presente em suas vidas, de maneira
misteriosa, mas atenta e constante, enriquecendo-os com Sua bênção, com Seus
dons e graças. Como Arcebispo de Diamantina, trago-lhes nesta Eucaristia,
queridos pais, a gratidão da Igreja.
Caros fiéis, irmãs e irmãos em Cristo,
quero, agora, ser o intérprete de seus corações
para dizer aos seus sacerdotes o quanto vocês os amam e lhes querem bem, desejando-os
alegres e felizes em seu ministério sacerdotal. Interpreto, pois, a gratidão
das comunidades de nossas paróquias, aos nossos padres que se sacrificam e se
doam totalmente, sem reservas, para ensinar-lhes os caminhos do Céu, fazendo-as
crescer no amor de Deus.
Meus queridos padres:
“Desejei, ardentemente, comer esta Páscoa
convosco” (Lc 22, 15). Sinto uma alegria profunda em poder celebrar com vocês esta
Eucaristia. Sou e quero ser o Arcebispo de cada um de vocês. Sou, diante de
Deus, o responsável por suas vidas e por sua alegria no exercício do ministério
sacerdotal. Fico feliz quando vejo vocês felizes. Eu sou de vocês, pertenço a
cada um de vocês. Minha grande preocupação, como Arcebispo, é a de dar a cada
um a alegria de ser sacerdote e de pertencer a esse Presbitério.
Queridos padres: abram suas próprias mãos e
olhem atentamente para elas. Contemplem as próprias mãos.
Voltemos a um momento histórico e central de
suas vidas: o dia de sua ordenação sacerdotal, quando o Arcebispo que os ordenou,
ungiu as suas mãos. Vocês estavam ajoelhados, atentos a observar o óleo santo
que se espalhava, exalando seu perfume balsâmico e tão característico. Depois
ele uniu suas mãos em posição orante e as atou com uma fita. Suas mãos foram
consagradas, fechadas para as coisas do mundo e para qualquer amor exclusivo.
Vocês se levantaram, foram até seus pais, e suas mães, emocionadas, desataram
os laços daquela fita, abrindo suas mãos para a exclusividade de um amor que só
poderia ser o de Deus. Elas desataram suas mãos para batizar transmitindo às
crianças a Vida de Deus, para consagrar as espécies eucarísticas, para perdoar,
para abençoar as pessoas, seus pertences e realizações, para abençoar o amor
matrimonial, para, enfim, ungir as mãos frágeis dos enfermos, na esperança da
saúde.
Pela oração consecratória e a imposição das mãos
de seu Arcebispo, vocês se tornaram pessoas consagradas. Completando essa
consagração de suas pessoas, suas mãos foram solenemente ungidas e consagradas
ao serviço de Cristo e da Igreja. Fisicamente, suas mãos continuam sendo suas.
Mas Cristo as tomou para Si. Espiritualmente, elas passaram a ser Dele, para
transmitir a Sua vida divina, abençoando, perdoando, consagrando o Corpo e o
Sangue de Cristo.
Escreveu um venerado Bispo italiano que no
altar, cada um de vocês é o sacerdote e Cristo é a vítima. No ministério
presbiteral, Cristo é O Sacerdote e cada um de vocês é a vítima! É mais fácil
ser o sacerdote em um sacrifício onde Cristo é a Vítima, do que ser a vítima em
um sacrifício onde Cristo é O Sacerdote! Como vítima, Cristo teve suas mãos
crucificadas… E Ele não nos pediu tal doação!…
Queridos Padres, voltem a contemplar suas mãos.
Procurem reviver a sensação do perfume do bálsamo que as ungiu. Beijem, agora,
reverentemente as suas mãos. Elas ainda são suas, mas elas são totalmente Dele:
Mãos de Cristo!
Vocês são os escolhidos de Cristo. Vocês são
pessoas privilegiadas. Vocês são pessoas abençoadas. Vocês são chamados às
alturas da santidade. Não cabem limites nem meios termos em nossa resposta de
amor a Cristo. Ao amor total de quem morreu por nós, uma vez que fomos os Seus
escolhidos, apesar de nossa fragilidade, só cabe uma resposta de amor total de
quem quer viver e morrer por Ele.
Mãos Sacerdotais! As suas mãos!
Uma outra vez, elas ainda voltarão a ser ungidas
e unidas por um laço em posição orante.
Ao término da nossa missão de sacerdotes de
Cristo na terra, quando nossas forças falirem e nossas mãos enfraquecidas pelos
trabalhos apostólicos não mais puderem se alçar e se mover com naturalidade,
elas receberão uma outra unção para sustentá-las. Esta outra unção, a dos
enfermos, irá fortalecê-las para se prepararem para o abraço eterno com Cristo,
razão do nosso modo de ser e de viver. Quando esta vida terrena nos escapar,
nossas mãos cairão em nosso último leito. Recompostos os nossos corpos, elas
serão novamente unidas em posição orante. Desta vez por um enfermeiro, com uma
gaze hospitalar, para mantê-las assim, até que o “rigor mortis” as imobilize,
para serem enfim desfeitas no pó da terra, misturando-se à poeira dos séculos.
Duas unções, dois laços de fita marcam o início
e o fim da grandeza do mistério do Amor de Deus e da Graça, realizado pelas
mãos sacerdotais. A primeira unção para dinamizar a ação do Mistério, do
transcendente, do sobrenatural, da Graça. Eleva o humano ao máximo, para além
de seus limites mortais e o potencializa para o Mistério sacramental. A última,
a mesma ação sobrenatural, de outras mãos sacerdotais, acode aquelas primeiras
mãos, enfraquecidas pela enfermidade, já prestes a iniciar o seu último “Te
Deum laudamus, Te Dominum confitemur”, ao fechar seus olhos na terra, para
abri-los no Céu, na Visão Beatífica!
As mãos
As mãos são as partes do nosso corpo mais
citadas nas Sagradas Escrituras: 1538 vezes; dessas, em 1153 se parecem com um
termo hebraico cujo sentido é ligado a “conhecimento, poder”: “Porei em suas
mãos a chave da Casa de Davi: ele abrirá e ninguém fechará; ele fechará e
ninguém abrirá”* (Is 22,22).
As crianças gostam de tocar no que veem. Nós
também, sobretudo, para verificar se uma flor é natural ou artificial.
Conhecemos com as mãos. Vemos com as mãos. Como as crianças gostam de correr
suas mãozinhas no rosto, nos olhos de suas mães! Não falam, sorriem e
escorregam, macia e candidamente, suas mãos na face de suas mães.
Nesta Semana Santa, meditaremos a Paixão de
Cristo. Nela, as mãos aparecem com atitudes sumamente diferentes:
as de Jesus, serviram para lavar e perfumar os pés de seus apóstolos,
para lhes dar no Pão e no Vinho, o Seu Corpo e o Seu Sangue;
ao povo,
serviram para estender os mantos e agitar os ramos na entrada de Jesus em
Jerusalém; mas, serviram, também, para em punhos fechados e levantados ao ar,
pedir para Ele a sentença de morte na cruz, aos gritos de “crucifica-o”.
Judas as usou, cínica e sarcasticamente, num abraço e beijo de
traição.
Pilatos,
na oportunidade de realizar o maior ato de sua vida e da história, fazendo
justiça ao Justo, preferiu, covardemente, lavá-las num ato que se tornou o
expoente máximo da omissão e da fuga da própria responsabilidade.
Verônica,
em um ato de amor e de coragem, expondo-se ao castigo dos soldados, enxuga o
rosto sanguinolento de Jesus; suaviza-Lhe a face e Lhe permite que Seus olhos,
cobertos do sangue que se lhe escorrera das feridas feitas pela coroa de
espinhos, voltassem a enxergar e ver melhor o caminho pedregoso do Calvário.
Cirineu,
sem o querer e sem saber o porquê, usou suas mãos para carregar a cruz com
Jesus…
Tomé será convidado a “ver com as mãos”, as chagas de Jesus…
Sempre as mãos… Tão diferentes como diferentes
são os corações que as mantém vivas e operantes… As mãos são a expressão do
coração de uma pessoa. As mãos falam quando as pessoas não conseguem mais
falar. Assim a mão do filho que acaricia suavemente o rosto frio de sua mãe ou
de seu pai, na sua última despedida antes de se fechar o caixão! As lágrimas
rolam, a garganta está seca e travada, mas as mãos deslizam suavemente sobre o
rosto rígido de quem não mais sorri nem abre os olhos nem sente as mãos… Gesto
mudo diante de quem não pode mais responder ou retribuir… Mas as mãos não se
cansam… E repetem o último gesto de amor de um coração palpitante, um gesto
acelerado, finalizado por um beijo encharcado de lágrimas!
O poder da mão.
Michelangelo Buonarotti para descrever a criação
do homem coloca lado a lado duas mãos: a de Deus, firme e solene, apontando
para sua criatura predileta, a quem dá a vida, o homem; e esse, com seu braço
sem vigor, de mãos e dedos caídos, ao receber de Deus a força para viver!
As mãos de um sacerdote
Elas são, na terra, as mais poderosas de todas
as mãos.
Recordo-me de um jornalista brasileiro muito
temido por sua caneta poderosa, mordaz e irônica, que em um de seus, quase
últimos, editoriais, referia-se à Conferência dos Bispos do Brasil com os
termos: “a canalha do episcopado nacional”. Os meses se passaram. A doença
caminhou para o seu final. Antes de morrer, ele chamou o Presidente da “canalha
episcopal” para que ele, grande sacerdote, desse paz à sua consciência e a
esperança do perdão de seus pecados. Aquela mão já não segurava mais a caneta.
Agora, ansiava o perdão misericordioso de Deus pelo mau uso que dela fizera…
Qual é a mão poderosa?
Mãos que dão a vida da Graça, mãos que renovam
essa graça pelo perdão divino.
Mãos que não afagam um rosto querido de mulher,
mas que abençoam, em nome de Deus, o amor que Deus faz brotar entre ela e um
outro homem.
Mãos que iluminam, com a luz do evangelho, o
amor matrimonial e o faz aproximar-se do Amor de Deus Criador.
Mãos que não terão filhos ao colo, mas que
colocarão no colo de seus pais os filhos, que não tendo pedido para nascer, não
encontraram para si um pouco de tempo na “agenda” de seus pais.
Mãos que abençoam, enxugando lágrimas de tantas
pessoas esmagadas nos revezes da vida. Mas que ficam sozinhas, na solidão, para
enxugar suas próprias lágrimas, quando as coisas não correm bem entre “elas” e
rebanho a elas confiado, quando a insistência da vida biológica ameaça a
existência da vida espiritual, quando a insistência da morte biológica põe a
perder os entes mais queridos. Sobretudo, nesta ocasião, os cumprimentos
“sociais” ou protocolares chegam muito depois… Aprendi, com meu sofrimento
nessa última circunstância, que não se enxuga lágrima seca!
Mãos que curam os enfermos e lhes devolvem a
esperança de viver.
Mãos que fortalecem os fracos com o Pão dos
Fortes: a Eucaristia.
Santas Mãos Sacerdotais!
Meus queridos padres:
Hoje, vamos renovar diante do Povo de Deus, as
promessas que, livremente fizemos, no dia de nossa ordenação sacerdotal. Será
para nós, não apenas uma recordação, mas uma ratificação de nossa promessa de
amar ao Pai, a Cristo e a Sua Igreja, com um amor de exclusividade total, para
sempre, e sem esperar retribuição na Terra. O amor, quando verdadeiro, ama pela
necessidade de amar. Nada quer, nada deseja, nada espera, apenas AMA!
Somos de Cristo, só Dele, para sempre, na
Igreja, a serviço do povo que nos é confiado, por causa do Reino. Podemos
repetir com São Paulo: Cristo é o nosso viver. Sabemos em quem colocamos nossa
confiança. Tudo podemos Naquele que nos conforta.
Obrigado Senhor, pelo dom do Sacerdócio. Amém!
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