Foi esse o
convite dirigido ao desconhecido que os dois companheiros de viagem encontraram
no caminho que ia de Jerusalém à localidade de Emaús. Eles “falavam e
discutiam” entre eles sobre o que tinha acontecido dias antes na cidade.
O
homem dava a impressão de ser a única pessoa que não sabia de nada. Por isso os
dois, aceitando a sua companhia, lhe falaram desse “profeta poderoso em
palavras e em obras diante de Deus e dos homens”, em quem eles tinham confiado
totalmente. Ele tinha sido entregue aos romanos pelos chefes dos seus
sacerdotes e pelas autoridades judaicas, sendo depois condenado à morte e
crucificado1. Uma tragédia terrível, cujo sentido
eles não eram capazes de entender.
Ao
longo do caminho o desconhecido ajudou os dois a compreender
o significado daqueles acontecimentos, baseando-se na
Escritura. E assim reacendeu no coração deles a esperança.
Chegando a Emaús, pediram que ele ficasse para jantar: “Fica conosco, pois já é
tarde”. Enquanto ceavam juntos, o desconhecido abençoou o pão e o repartiu com
eles. Esse gesto fez com que eles o reconhecessem: o Crucificado, que estava
morto, agora estava ali, ressuscitado! Imediatamente os dois mudaram de
programa: voltaram a Jerusalém e procuraram os outros discípulos para dar-lhes
a grande notícia.
Também
nós podemos estar desiludidos, indignados, desencorajados diante de uma trágica
sensação de impotência diante das injustiças que atingem pessoas inocentes e
indefesas. Também na nossa vida não faltam a dor, a incerteza, a escuridão… E
como gostaríamos de transformá-las em paz, esperança, luz, para nós e para os
outros.
Queremos
encontrar Alguém que nos compreenda profundamente e ilumine o caminho da vida?
Jesus,
o Homem-Deus, aceitou livremente experimentar, como nós, a escuridão da dor,
para ter a certeza de atingir no mais profundo a situação de cada um de nós.
Aceitou a dor física, mas também a dor interior: desde a traição por parte dos
seus amigos até a sensação de ser abandonado2 por
aquele Deus que Ele sempre tinha chamado de Pai. Por causa da sua confiança
inabalável no amor de Deus, superou aquela imensa dor, confiando-se novamente a
Ele3. E Dele recebeu nova vida.
Ele
conduziu também a nós, homens, por esse mesmo caminho e quer acompanhar-nos:
“(…) Ele está presente em tudo aquilo que tem sabor de dor (…). Procuremos
reconhecer Jesus em todas as angústias, as aflições da vida, em todas as
escuridões, as tragédias pessoais e dos outros, os sofrimentos da humanidade
que nos rodeia. São Ele, porque Ele os tornou seus (…). Bastará fazer algo de
concreto para aliviar os ‘seus’ sofrimentos nos pobres (…), para encontrar uma
nova plenitude de vida”.4
Uma
menina de sete anos conta: “Sofri muito quando meu pai foi preso. Amei Jesus
nele. Assim consegui não chorar diante dele quando fomos visitá-lo”.
E uma
jovem esposa: “Acompanhei meu marido Roberto nos últimos meses de sua vida,
depois de um diagnóstico sem esperança. Não me afastei dele nem por um
instante. Eu via Roberto e via Jesus… Roberto estava na cruz, realmente na
cruz.” O amor mútuo entre eles tornou-se luz para os seus amigos e eles se
envolveram numa competição de solidariedade que nunca mais se interrompeu; pelo
contrário, se estendeu a muitos outros, dando origem a uma associação de
promoção social chamada “Abraço Planetário”. “A experiência vivida com
Roberto”, diz um amigo dele, “nos arrastou com ele numa verdadeira caminhada
rumo a Deus.
Muitas
vezes nos perguntamos qual o significado do sofrimento, da doença, da morte.
Creio que todos os que tiveram a sorte de fazer esse percurso ao lado de
Roberto tenham agora a compreensão bem clara de qual seja a resposta”.
Neste mês todos
os cristãos celebram o mistério da morte e ressurreição de Jesus. É uma ocasião
para reacender a nossa fé no amor de Deus que nos permite transformar a dor em
amor; cada desapego, separação, fracasso e a própria morte podem tornar-se para
nós fonte de luz e de paz. Na certeza de que Deus está perto de cada um de nós
em qualquer situação, queremos repetir confiantes o pedido dos discípulos de
Emaús: “Fica conosco, pois já é tarde”.
Letizia Magri
_______________________
1 Cf. Lc 24,19ss.
2 Cf. Mt 27,46; Mc 15,34.
3 Cf. Lc 23,46.
4 Cf.
Chiara Lubich, Palavra de Vida, revista Cidade
Nova, abril de 1999.
_______________________________________
Movimento dos Focolares, Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário