Depois da decapitação do guia de montanhismo
francês Hervé Gourdel, no mês passado, por um grupo jihadista argelino alinhado
com o Estado Islâmico (EI), centenas de muçulmanos se reuniram diante da Grande
Mesquita de Paris para expressar seu repúdio à brutalidade de um grupo cujo
nome e ideologia, disseram, representam um insulto a muçulmanos de todo o
mundo.
Ahmet Ogras, vice-presidente do Conselho Francês da
Fé Muçulmana, a entidade que convocou o protesto, disse que o uso do nome
Estado Islâmico, agora comum, ameaça estigmatizar os muçulmanos da França, a
maior comunidade muçulmana da Europa. Ele disse também que o nome confere
legitimidade injustificada a um grupo que promove matanças em nome do islã.
"Este não é um Estado -é uma organização terrorista", afirmou Ogras.
"Não se pode brincar com as palavras."
Enquanto a batalha liderada pelos EUA contra forças
radicais segue adiante no Iraque e na Síria, uma nova frente de guerra
linguística se delineia.
Grupos muçulmanos estão criticando o Estado
Islâmico em protestos e nas mídias sociais, defendendo nomes alternativos para
descrever a facção, hoje conhecida por várias siglas, incluindo EIIS (Estado
Islâmico no Iraque e na Síria), EIIL (Estado Islâmico no Iraque e no Levante),
ECI (Estado do Califado Islâmico) e EI (Estado Islâmico).
Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, descreveu o
grupo como "Un-Islamic Nonstate" (Não Estado Anti-islâmico), mas
poucos preveem que a sigla UINS/NEAI ganhe grande aceitação.
Membros da Sociedade Islâmica Britânica e da
Associação de Muçulmanos Britânicos escreveram ao premiê David Cameron no mês
passado sugerindo que o uso contínuo do nome Estado Islâmico pode servir para
radicalizar mais jovens muçulmanos.
A França, que participa dos ataques aéreos contra o
grupo no Iraque, lidera o esforço de mudança de nome. No mês passado, o
chanceler Laurent Fabius anunciou que o governo francês vai evitar o termo
Estado Islâmico ou suas alternativas, EIIS e EIIL. Em vez disso, vai aludir à
milícia como Daesh, acrônimo usado por muitas pessoas que falam árabe e que soa
como a palavra que significa "esmagar".
Falando perante a Assembleia Nacional, Fabius
declarou que o fato de o Estado Islâmico afirmar que representa um califado -um
Estado governado por princípios islâmicos- na Síria e no Iraque é uma falsidade
geopolítica e linguística. "Trata-se de um grupo terrorista, não de um
Estado", declarou. "Eu os vou chamar de Facínoras Daesh."
Nos Estados Unidos, Nihad Awad, do Conselho de
Relações Americano-Islâmicas, disse que seu grupo decidiu pela sigla EIIS, mas
que ele pessoalmente descreve o EI como "Daesh" -"se bem que às
vezes eu diga 'o Estado Perverso'". Vários representantes de associações
islâmicas nos EUA disseram que qualquer dos nomes usados para aludir ao grupo é
aceitável, desde que não inclua o termo "islâmico".
O presidente Obama já deixou claro que rejeita o
rótulo "Estado Islâmico". "O EIIL não é islâmico", afirmou
na televisão em setembro, acrescentando depois: "O EIIL não é um
Estado".
Peter Neumann, do Centro Internacional para o
Estudo da Radicalização, no King's College London, disse que o termo Daesh
dificilmente encontrará ressonância internacional, porque o acrônimo EIIL é
mais fácil de pronunciar.
Mas, para ele, "o simples fato de dizer as
palavras 'Estado Islâmico' não quer dizer que você reconheça o grupo como um
Estado. As pessoas entendem que eles são impostores e que um nome é apenas um
nome."
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Disponível em: Folha de S. Paulo
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Disponível em: Folha de S. Paulo
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