quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Cuba terá 1ª igreja católica desde a revolução


Em um sinal de distensão da relação entre o regime castrista e o Vaticano, a Igreja Católica em Cuba anunciou que, pela primeira vez desde a revolução de 1959, vai construir um novo templo na ilha. “Será no município de Sandino, na província de Pinar del Río”, informou um boletim dominical da igreja, distribuído aos fiéis no final da missa. A nota informa que isso só será possível “graças à colaboração da paróquia de San Lorenzo, em Tampa, nos Estados Unidos, composta em grande parte por fiéis cubanos.”

A nova igreja terá capacidade para 200 pessoas e ocupará uma área de 800 metros quadrados. Até o padre já foi escolhido. O titular da paróquia será Cirilo Castro — sem parentesco com os irmãos quer governam a ilha desde a revolução armada que tirou Fulgencio Batista do poder e decretou o pais um Estado ateu.

A cidade de Sandino foi criada após a revolução, no começo dos anos 60, por isso não tem nenhuma igreja. O local tem hoje cerca de 37 mil habitantes que se dedicam em grande parte à agricultura, principalmente de tabaco e frutas cítricas.

Relação tumultuada

No começo do processo revolucionário cubano, Sandino foi povoada por agricultores que foram transferidos do centro do país para a região, após serem acusados de colaborar com grupos anticastristas, que instalaram uma guerrilha contrarrevolucionária para derrubar Fidel Castro.

— O lugar é completamente afastado, por isso foram levados a esta região — explicou Enrique López Oliva, professor de história de religiões da Universidade de Havana. — A construção do templo mostra uma nova fase no relacionamento entre a Igreja e o Estado.

Apesar de Cuba ser um país de tradição católica, a religião não é a maioria no país, onde predomina as crenças trazidas pelos escravos africanos.

Até o triunfo da revolução, em 1959, a Igreja Católica era importante no país, mas não conseguiu manter uma boa relação com o Estado quando os líderes rebeldes chegaram ao poder.

Nos anos 60, a igreja ajudou a promover a operação “Peter Pan” organizada pela Inteligência americana que tirou muitas crianças cubanas do país, com o consentimento de seus pais, usando como argumento que os revolucionários comunistas iriam tirar as custódias deles.

Já Cuba perseguiu muitos fiéis e decretou o Estado ateu. Somente nos anos 90 foi retomado o diálogo com membros das igreja, iniciativa do então presidente Fidel Castro, que inclusive permitiu a visita dos papas João Paulo II e Bento XVI à ilha.
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O Globo

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