Não basta vencer as eleições do domingo, pois a
verdadeira conquista é muito mais difícil de alcançar. Trata-se da vitória que
é o bem do povo, particularmente dos mais pobres e sofredores, enjaulados em
condições indignas de vida, privados de direitos fundamentais. Os analistas,
com diferentes pontos de vista, indicam a complexidade do momento. Diante de
todos está o desafio do crescimento econômico, de se atender demandas de
infraestrutura e de libertação da máquina pública das garras ferozes dos que
dela se apossam, nos diversos níveis, instâncias e lugares, pelo Brasil afora,
incapacitando-a no atendimento de sua finalidade - o zelo e a garantia do bem
comum.
Ao considerar esse horizonte de exigências e
desafios, compreende-se ainda mais que a ida às urnas exige responsabilidade de
cada cidadão eleitor. Uma constatação evidente, mas que merece sempre
reflexões. Quando se observa a atual tendência do eleitorado na sua escolha,
percebe-se o peso da interrogação no ar. Este momento eleitoral tem revelado a
indecisão de muitos, a divisão equiparada das opiniões, ora para um lado, ora
para outro. Talvez isso seja sinal de certo amadurecimento da democracia. Um
gesto aparentemente simples, apertar teclas da urna eletrônica, revela um
processo da mais alta complexidade.
A candidatura escolhida vai nortear rumos, ou
desconsertá-los, no quadriênio subsequente. Discernir e fazer a escolha, algo
que precede o gesto simples e rápido de teclar, é agora o grande desafio
cidadão. Há uma avalanche de elementos a serem avaliados, um caminho a ser bem
trilhado rumo à definição mais apropriada possível, que colabore com o
desenvolvimento da sociedade brasileira. A velocidade das mudanças e o aumento
das necessidades reais do povo não admitem senão inovações, busca de novas
respostas e a garantia de avanços. Conquistas são possíveis, embora difíceis.
Particularmente, o eleitor deve buscar quem é capaz de superar a famigerada
desigualdade social que ainda rege violentamente a sociedade brasileira.
Buscar o caminho novo inclui a verificação de um
check list com incontáveis tópicos. Cada cidadão tem o direito, e até o dever,
de tomar conhecimento destes itens todos para viver seu discernimento e
alcançar uma amadurecida escolha. Também é importante conhecê-los para exercer
o direito de acompanhar a efetivação dos compromissos assumidos por quem se
elegeu e, portanto, tornou-se servidor do povo. Dois aspectos, entre tantos,
merecem alguma consideração neste momento decisivo. Um deles se refere à
qualidade do processo de escolha. Eleitores não podem deixar-se influenciar
apenas pelos resultados de pesquisas de intenção de voto, até porque elas têm
revelado muitas fragilidades e limitações. Também é inadmissível aceitar que, a
esta altura do terceiro milênio, ainda exista o antigo “voto de cabresto”, com
os “currais eleitorais”, onde se define uma escolha pelos esquemas de
dependência e se estimula a apatia em detrimento da participação popular.
Outro aspecto que agrava o cenário eleitoral é a
carência de lideranças com perfis mais enriquecidos. Infelizmente, a poluição
partidária, formada pelo excessivo número de legendas e, sobretudo, pela
parcialidade e interesse cartorial, tem refletido na falta de pessoas
qualificadas para o exercício do cargo público. Consequentemente, torna-se cada
vez mais comum encontrar nas instituições públicas pessoas que não se comprometem
com o bem da sociedade e com a superação do sofrimento dos mais pobres. O
interesse cada vez mais hegemônico é a busca de ganhos para classes e grupos.
No segundo plano, fica o gosto cidadão de representar o povo, servindo-o acima
de tudo, trabalhando por suas necessidades.
A corrupção e os escândalos do uso inapropriado dos
recursos do erário público emolduram a política brasileira. Essa grave crise na
representatividade favorece mediocridades e, até mesmo, a escolha de quem não
consegue inovar, ousar, de quem prefere a conservação que, por sua vez,
alimenta o atual cenário. Diante de tantas necessidades de mudança, é certo que
ao cidadão não basta apenas votar, e aos escolhidos nas urnas, não basta vencer
as eleições. Há um íngreme caminho a ser percorrido.
Dom Walmor Oliveira de
Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
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