O Sacramento da Penitência é o sacramento da
conversão profunda, porque realiza, de maneira sacramental, o apelo de Jesus à
conversão e o esforço de regressar à casa do Pai, do qual o pecador se afasta
pelo pecado. Pode, também, ser chamado de Sacramento da Confissão, porque o
penitente reconhece diante do sacerdote ser pecador e confessa os seus pecados,
reconhecendo o delito e pedindo a santidade de Deus e a sua infinita
misericórdia pelo perdão de seus pecados. Pode, ainda, ser chamado de
Sacramento do Perdão, porque pela absolvição sacramental do sacerdote o
penitente recebe da parte de Deus e da Igreja o perdão e a paz. Por fim, é
chamado de Sacramento da Reconciliação, porque no ato de se confessar o pecador
recebe o amor generoso do Pai e reconcilia-se com Deus, com a comunidade e com
os irmãos.
Durante a experiência das “24 horas para o Senhor”
pedida pelo Papa Francisco, que veio se juntar aos “mutirões de confissões” que
já existem em nossas Dioceses vimos como o povo veio buscar a reconciliação e o
perdão. O abraço da Igreja anunciando o Pai Misericordioso que enviou o seu
Filho para nos salvar trouxe a cada um a vida nova. É a experiência do perdão e
da reconciliação que transforma as vidas.
Aproximar-se do confessionário, depois de um
acurado exame de consciência, é viver o apelo de Jesus à conversão e à
penitência. Sim, uma conversão profunda de dentro para fora, do coração. O
Catecismo da Igreja Católica no seu número 1432 ensina que “o coração do homem
é pesado e endurecido. É necessário que Deus dê ao homem um coração novo (20).
A conversão é, antes de mais, obra da graça de Deus, a qual faz com que os
nossos corações se voltem para Ele: ‘Convertei-nos, Senhor, e seremos
convertidos’ (Lm 5, 21). Deus é quem nos dá a coragem de começar de novo. É ao
descobrir a grandeza do amor de Deus que o nosso coração é abalado pelo horror
e pelo peso do pecado, e começa a ter receio de ofender a Deus pelo pecado e de
estar separado d'Ele. O coração humano converte-se, ao olhar para Aquele a quem
os nossos pecados trespassaram”.
A praxe de confessar faltas ao sacerdote já estava
em vigor no Antigo Testamento. O livro do Levítico mostra vários casos em que o
perdão do pecado era realizado por meio de confissão. Um caso de confissão
pública: “Aquele que se tornar culpado de uma destas três coisas (recusa de
testemunho, contatos impuros, juramentos levianos), confessará o pecado
cometido, e o sacerdote fará por ele o rito de expiação” (Lv 5,5s).
Em outros casos a confissão era feita diretamente
ao sacerdote, como em Lv 5,23-25: “Se alguém pecar recusando devolver ao
próximo algo extorquido ou roubado, deverá restituir o valor ao proprietário
respectivo. Depois levará ao Senhor, como sacrifício de reparação, um carneiro,
sem defeito, do seu rebanho. Será avaliado segundo o valor estabelecido pelo
sacerdote para um sacrifício de reparação”.
Sabemos já que o perdão dos pecados reconcilia com
Deus, mas também com a Igreja. Quando o sacerdote celebra o sacramento da
Penitência, realiza o ministério do Bom Pastor, que busca a ovelha perdida; do
bom samaritano, que cura as feridas; do Pai, que espera o filho pródigo e o
acolhe ao voltar; do justo juiz, cujo julgamento é justo e misericordioso ao
mesmo tempo. Ele é o sinal e o instrumento do amor misericordioso de Deus para
com cada pecador, individualmente.
A Igreja ensina que o confessor deve unir-se à
intenção e à caridade de Cristo; ter respeito e delicadeza diante daquele que
caiu; deve amar a verdade, ser fiel ao Magistério da Igreja e conduzir, com
paciência, o penitente à cura e à plena maturidade. Deve orar e fazer
penitência por ele, confiando-o à misericórdia do Senhor. (§ CIC 1466). O
sacerdote também não pode fazer uso do conhecimento da vida dos penitentes
adquirido pela Confissão. Este segredo, que não admite exceções, chama-se
“sigilo sacramental”.
A Igreja pede que pelo menos uma vez ao ano, na
Páscoa do Senhor, nos confessemos e comunguemos. Aqui é necessário deixar bem
claro que isto é o mínimo que se pede! Quem ama não dá o mínimo; procura dar o
máximo. Assim, para um cristão consciente e que deseja ter uma vida cristã
séria, seria bom confessar-se ao menos três vezes ao ano: pelo Natal, pela
Páscoa e mais uma vez, entre a Páscoa e o Natal. Não nos esqueçamos que sempre
que cometemos algum pecado mais grave é necessário recorrer ao Sacramento!
Por isso, o fiel, ciente de que deve se confessar
pelo menos uma vez por ano pela Páscoa da salvação, ao receber a absolvição
deve ficar atento à fórmula da absolvição, quando o presbítero diz que o Pai
das misericórdias é a fonte de todo o perdão e que Ele realiza a reconciliação
dos pecadores pela Páscoa do seu Filho e pelo dom do seu Espírito, através da
oração e do ministério da Igreja.
Cardeal
Orani João Tempesta
Arcebispo
de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
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