O Pretório de Pilatos ficou conhecido na história
por ter sido o local físico onde Jesus foi condenado. O fato se deu, por volta
de meio-dia, às vésperas da Páscoa dos Judeus, a maior de suas celebrações
litúrgicas (cf. Jo 19,14).
Pretório era o nome dado pelo Império Romano à
residência oficial dos Pro Cônsules, governadores das províncias espalhadas
pela enorme extensão territorial ao redor do Mar Mediterrâneo que os romanos
chamavam de Mare Nostrum. Pretor, palavra latina que significa líder, era a
mais alta patente entre os comandantes da República Romana, posteriormente,
substituída pela dignidade de Cônsul.
Dizem a Sagradas Escrituras que, depois de ser
julgado por autoridades religiosas dos judeus, Jesus foi apresentado à
autoridade máxima do Império na Judéia que era Pôncio Pilatos, sendo acusado de
ameaçador do poder imperial, porque se apresentava como rei. Incitando as
multidões contra o Mestre de Nazaré, os fanáticos líderes judaicos o acusavam
no campo doutrinal de se fazer filho de Deus. Porém este argumento não
interessava às autoridades romanas que pouco valorizavam as religiões em suas
províncias, uma vez que era um império politeísta, e para seus proveitos
políticos, apenas era-lhes muito útil ter boas relações com as lideranças
religiosas. Por esta razão, era necessário encontrar um motivo político para a
condenação de Jesus.
Pôncio Pilatos governou a Província da Judéia, como
Praefectus, entre os anos 26 a 36 d.C. Os evangelhos não comentam sobre sua
personalidade, porém historiadores da época o apresentam com pessoa de caráter
forte, violento e bajulador do Imperador. Flavio José, historiador pagão, expõe
tal caráter de Pilatos, afirmando que, quando entrou solenemente em Jerusalém
para tomar posse de seu cargo, exibia consigo um medalhão com o rosto do
Imperador, provocando a ira dos judeus que chegavam a ser fanáticos contra o
uso de esculturas. Há registros históricos de uso abusivo da força no combate a
sedições e revoltas de populares. Exorbitando seu poder, teria confiscado bens
do templo para construir um aqueduto. Euzébio de Cesárea, primeiro historiador
da igreja, afirma que no governo de Calígula, Pilatos não teria conseguido a
simpatia do Imperador e que cometeu suicídio no ano 37 d.C.
Quanto às notícias dos santos evangelhos, vemos
neste Pro Cônsul uma personalidade dúbia e desonesta, incapaz de salvar um
inocente, preferindo condená-lo à morte, mesmo tendo certeza de sua total
inculpabilidade. Pressionado pela opinião de um aglomerado de pessoas diante de
seu pretório, lava as mãos diante da injustiça. Os evangelistas, sejam os
sinóticos, seja São João se referem aos fatos com detalhes que indicam tal
atitude omissa e desleal. São Mateus registra que a consciência de Pilatos foi
até mesmo onerada pela sua esposa que lhe enviara o famoso recado: “Não te
envolvas com este justo, pois esta noite, em sonhos, sofri muito por causa
dele” (Mt 27, 19). No julgamento, procurou uma infeliz solução, apresentando a
alternativa de caráter pseudodemocrático, oferecendo opção ao povo para
escolher a condenação entre o inocente Jesus e o facínora Barrabás. Instigado
pelos líderes, o povo prefere a soltura do culpado e a morte violenta do
inocente.
Diz São João que depois de os judeus pressioná-lo
com o argumento político, “se soltas este homem, não és amigo de César, pois
todo aquele que se faz rei se declara contra César” (Jo 19, 12) e ainda, “Não
temos outro rei, senão César” (Jo.19, 15), Pilatos entregou Jesus para ser
crucificado.
Cícero, um dos maiores oradores romanos da
antiguidade, tinha tanto horror à crucifixão que a considerava crudelissimum
terribilimunque supplitium (o mais cruel e o mais terrível dos suplícios).
Porém, as condições humanas ou desumanas da morte
de Cristo não esgotam o sentido de tudo o que aconteceu em Jerusalém naquela
véspera da Páscoa do ano 33. O Mistério de Deus a tudo envolve, fazendo com que
a paixão e morte de Cristo se transformassem no ato redentor, pois pela cruz,
Cristo nos salvou da condenação e da morte eterna. Não permaneceu na morte, mas
ressuscitou e não morre mais. Fica assim provado que não há nenhum poder maior
que o poder divino, não há nenhum mal mais forte que a misericórdia do Pai,
Criador, Redentor e Santificador da pessoa humana. A morte de Cristo é a nossa
salvação e sua ressurreição nossa esperança, certeza da vida eterna.
Dom
Gil Antônio Moreira
Arcebispo
de Juiz de Fora (MG)
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